Poemas de Barack Obama
"Papai" e "Subterrâneo"
Barack Obama | Edição 18, Março 2008
PAPAI
Sentado em seu assento largo e frágil,
Com cinzas esparramadas,
Papai muda de canal, pega mais uma
Dose de Seagrams, caubói, e pergunta
O que fazer comigo, um rapaz ainda verde
Que não leva em conta as
Maracutaias do mundo, pois
Para mim tudo foi sempre fácil;
Eu não tiro o olho do seu rosto, um olhar
Que resvala em sua fronte;
Ele não percebe, aposto, que seus
Olhos negros e líquidos
Se esquivam de soslaio,
E seus tiques lentos e irritantes,
Continuam.
Eu escuto, faço que sim,
Escuto, atento, até que agarro sua
Camiseta bege-clara, gritando,
Gritando nos seus ouvidos, orelhas
De lóbulos pesados, mas ele continua contando
Sua piada, e pergunto a ele por que
É tão infeliz, e ele responde…
Mas já não presto atenção, pois
Ele demorou um puta tempo, e debaixo
Do meu assento puxo o
Espelho que guardei ali; começo a rir,
Rir bem alto, o sangue passa do rosto dele
Para o meu, e ele se torna pequeno,
Um ponto em meu cérebro, algo
Que se pode arrancar, feito um
Caroço de melancia,
Com dois dedos.
Papai pega mais uma dose, caubói,
Aponta para a mancha
Amarelada em seu short, igual à que há no meu, e
Me faz sentir seu cheiro, vindo
De mim; muda de canal, recita um velho poema
Que escreveu antes da morte da sua mãe,
Fica em pé, grita e me pede
Um abraço, e eu me safo, meus
Braços mal tocam nele,
O pescoço grosso e oleoso, as costas largas; porque
Vejo o meu rosto, emoldurado nos
Óculos de armação escura de meu pai
E sei que ele também está rindo.
SUBTERRÂNEO
Sob grutas inundadas, cavernas
Cheias de monos
Que comem figos.
Pisando-se nos figos
Que os monos
Comem, eles estalam.
Os monos urram, mostram
Os dentes, dançam,
Jogam-se na
Água agitada,
Pêlos úmidos, fétidos,
Luzindo no azul.