Chamem a mulher do Federer
A mulher do tenista Roger Federer, Mirka Federer, causou mal estar depois de chamar o adversário de seu marido de “bebê chorão”. Federer disputava a semifinal da ATP contra o também suíço Stanislas Wawrinka. O episódio terminou na desistência de Federer em jogar a final contra o tenista sérvio Novak Djokovic. O Brasil também tem bebês chorões. Entram nessa lista alguns treinadores de futebol que colocam a culpa em condições externas, e nunca no treinamento do time ou na escalação.
Antes de qualquer coisa, o blog propõe 1 minuto de silêncio em homenagem ao grande Roberto Gómez Bolaños.
(…)
Homenagem prestada, passemos ao post.
Há quem goste de tênis. Estranho esporte em que os dois primeiros pontos são contados de quinze em quinze, o terceiro vale dez e o decisivo leva a alcunha de . Os pontos em 15, 30 e 40 têm explicações que começam com o sistema sexagesimal criado há 6 mil anos na Mesopotâmia e terminam sem convencer ninguém. Já o último ponto se chamar é frescura mesmo.
Por falar em frescura, foi tenso acompanhar a saia justa que se instaurou no seio do tênis de alta performance praticado na Suíça, quando Mirka Federer, mulher do top tenista Roger Federer, chamou o adversário Stanislas Wawrinka de “bebê chorão”.
Isso: bebê chorão.
A grave ofensa, proferida durante a partida em que Wawrinka enfrentava o maridão na semifinal da ATP, provocou uma crise que culminou com a desistência de Federer de disputar a finalíssima contra Novak Djokovic. Porém, meninos bem-educados, dois ou três dias depois Federer e Wawrinka descruzaram os dedinhos mindinhos, fizeram as pazes, jogaram em dupla contra a França e ajudaram a Suíça a conquistar o título da Copa Davis.
Também temos os nossos bebês chorões. São alguns treinadores de futebol que ganham fortunas e jamais admitem que seus times perderam porque foram inferiores ou porque eles, treinadores, erraram feio nas escalações que mandaram a campo ou nas substituições que fizeram. Jeito nenhum. A culpa é sempre do juiz ou do calor ou do gramado ou da falta de sorte ou de alguma risível teoria da conspiração.
A última dessas teorias foi levantada por Felipão, o Grande. Segundo ele, o Grêmio teria sido seguida e deliberadamente prejudicado pelas arbitragens, já que à CBF não interessava que o clube se classificasse para a Libertadores 2015. Por quê? Ninguém sabe, certamente nem ele, Felipão.
A CBF consegue reunir todos os defeitos que uma péssima entidade esportiva pode ter, mas que razões teria para não querer o Grêmio na Libertadores é um mistério. Mesmo porque o clube tem cansado de participar da competição, o que aconteceu inclusive em 2014.
Entretanto, para Felipão, será sempre mais fácil desviar o rumo da prosa do que tentar mostrar, com argumentos técnicos ou táticos, por que o Grêmio perdeu as três últimas partidas, justo na fase de definição do campeonato. Ou por que o time que tem Luan, Barcos e Dudu – atacantes que poderiam ser titulares em qualquer clube brasileiro – até a penúltima rodada tinha feito menos gols que Figueirense, Chapecoense, Coritiba e Vitória, e quase metade do que fez o Cruzeiro.
A estratégia é conhecida. Após os humilhantes, calamitosos e indesculpáveis 7 a 1, tudo se resumia a um tal de apagão. Erros na fase de preparação? Imagina. Atraso tático? Nem pensar. Critério discutível na convocação? Nunca. Escalação equivocada? Jamais. Foi feito tudo o que se devia fazer para disputar a semifinal de uma Copa do Mundo contra a seleção mais forte e entrosada do planeta, e o resultado era obra do acaso ou, talvez, do cansaço de Nossa Senhora de Caravaggio.
Alguém há de dizer, como sempre se diz, que somos uns rematados idiotas, por perdermos tempo escrevendo, lendo e discutindo sobre isso, enquanto Felipão e seus pares enchem a burra e riem de todos nós. Trata-se de raciocínio respeitável, mas não dá para entender por que um cara tão bem-sucedido em sua profissão – Felipão ganhou campeonatos estaduais, Copas do Brasil, Campeonato Brasileiro, Libertadores e Copa do Mundo – insiste em fazer o papel de bobo da corte, abusando das desculpas esfarrapadas a cada insucesso e trocando um passado de bons trabalhos e belas conquistas por um presente de, como gritaria Mirka Federer, bebê chorão.
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