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Nem melhor, nem pior: mais do mesmo

Jogamos bem contra a Croácia? Mal contra o México? Que nada: jogamos mais ou menos a mesma coisa nas duas partidas. Só que numa delas a bola entrou, na outra não. Numa delas o juiz colaborou, na outra não. Se Thiago Silva subir livre na pequena área adversária por 30 vezes seguidas, podem apostar que ele vai fazer 29 gols. Contra o México, foi justo o dia de cabecear em cima de Ochoa. Duas horas depois do jogo, minha mulher, que não é muito de futebol, perguntou: se jogamos tão mal assim, como é que o melhor em campo foi o goleiro mexicano? Respondi com um muxôxo, algo como “futebol tem dessas coisas”, e ela reclamou que não tenho paciência para conversar com ela sobre o tema. Não é verdade.

| 18 jun 2014_11h15
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Tenho um amigo, Pedro Yoshizuka, que defende uma tese interessante. Para ele, o principal motivo que faz da seleção brasileira a maior ganhadora de Copas do Mundo é o nosso agressivo padrão de exigência.

Faz sentido. No post em que falei da Holanda, na série publicada aqui no blog sobre as seleções da Copa, relembrei a festa que foi a chegada dos holandeses em Amsterdã, em 2010, após a derrota na final para a Espanha. Alguém já viu brasileiro fazer festa por vice-campeonato?

Pra nós, só vale o título. Queremos ganhar sempre, ganhar todas, de goleada e jogando o fino. Mas é conhecida a história de Garrincha, questionando com a santa sabedoria dos ingênuos um treinador que traçava no quadro-negro o que era para ser feito dentro de campo: “Mas, isso tudo aí já tá combinado com o adversário?”

Partimos do princípio de que os adversários não existem. E todos temos vivas lembranças dos tempos em que ganhávamos de qualquer um por cinco a zero, seis a dois ou sete a três.

Só que eu não sei exatamente que tempos foram esses. Garantimos nossa classificação para a Copa de 58 com uma esquelética vitória de um a zero, no Maracanã, sobre a seleção peruana. E para a Copa de 70 com outro um a zero, também no Maracanã e sobre o Paraguai. No futebol, mesmo as campanhas vitoriosas ou memoráveis também escondem histórias difíceis de contar.

Por tudo o que falam da seleção de 58 e pelo que vi da de 70, não seria tolo a ponto de comparar o time de Felipão a uma das duas. Mas, vamos lá: não dá para comparar nossa atual seleção com a de 94?

Curioso é que, ao mesmo tempo em que usamos o máximo de exigência com nós mesmos, somos condescendentes com os adversários. Os argentinos fazem um joguinho dos mais chinfrins contra a Bósnia, e logo encontramos a explicação: a Bósnia é uma nova força do futebol mundial. Juro pra vocês que ontem, dia seguinte à vitória dos Estados Unidos sobre Gana, ouvi gente aqui no trabalho assegurar que os americanos estão jogando muita bola.

Meu amigo Pedro Yoshizuka talvez tenha razão: é bastante possível que o elevado grau de exigência seja o principal motor para nossos títulos mundiais. Só que cansa. E por já ter visto tanta coisa acontecer no bom e velho futibinha, pouco me surpreende e nada me assusta. Já vi times espetaculares deixarem escapar títulos que estavam no papo, e timinhos sofríveis levantarem canecos improváveis.

Nossa seleção tem um monte de defeitos e acho mesmo que, se não jogássemos em casa, estaríamos na roça. Mas não é o caso. E se um título fica muito mais fácil quando se tem qualidade, nem sempre é só dela que ele depende. Jogamos bem contra a Croácia? Mal contra o México? Que nada: jogamos mais ou menos a mesma coisa nas duas partidas. Só que numa delas a bola entrou, na outra não. Numa delas o juiz colaborou, na outra não. Se Thiago Silva subir livre na pequena área adversária por 30 vezes seguidas, podem apostar que ele vai fazer 29 gols. Contra o México, foi justo o dia de cabecear em cima de Ochoa. Duas horas depois do jogo, minha mulher, que não é muito de futebol, perguntou: se jogamos tão mal assim, como é que o melhor em campo foi o goleiro mexicano? Respondi com um muxôxo, algo como “futebol tem dessas coisas”, e ela reclamou que não tenho paciência para conversar com ela sobre o tema. Não é verdade.

Thiago Silva foi o único que jogou bem melhor ontem do que contra a Croácia. Júlio César também pareceu mais seguro e confiante. Luiz Gustavo e David Luiz mantiveram o nível. Mas Daniel Alves esteve mal de novo, Marcelo foi apenas regular, Oscar desapareceu, Neymar tentou, mas não rolou. Ramires correu, correu e pouco produziu, Bernard fez uma boa jogada no início do segundo tempo e sumiu. Jô recebeu uma bola dentro da área, precipitou-se e chutou sem perigo. Mesmo assim, pasmem, isso já foi mais do que fez o Fred. E Paulinho começa a levantar suspeitas: será que aquele jogador moderno e dinâmico que admirávamos no Corinthians era muito mais fruto de um ótimo funcionamento coletivo do que de seu próprio talento?

Há muito o que melhorar, mas reforço o que escrevi no último post, publicado logo após a goleada holandesa sobre a Espanha: uma das maneiras de se conquistar a Copa do Mundo é não chamar a atenção para si. A Itália é mestra nisso, e recordem a campanha da Espanha em 2010.

Qualquer que seja o resultado do jogo de hoje entre camaronenses e croatas, para a seleção brasileira passar às oitavas basta empatar com Camarões na semana que vem. E se a gente não conseguir empatar com Camarões, aí é porque não dava mesmo para chegar a lugar nenhum.

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