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Dores da estreia

Nunca assisti a uma cerimônia de abertura de Copa do Mundo. Acho insuportável. Mas – tudo em nome do blog –, imaginei que a de ontem pudesse dar assunto. Vi os índios, as plantas, estava esperando pelos rios cheios d’água e o Saci Pererê, quando entraram as baianas e Galvão Bueno me emocionou: “Gira, baiana. Gira que eu quero ver.” Ato contínuo, tateei o sofá à procura do controle remoto, mas resisti. Tudo em nome do blog. O ímpeto voltou quando a new-boleira Patrícia Poeta revelou intimidade com o show business, chamando Jennifer Lopez de Je-Lo. Unha e carne.

| 13 jun 2014_11h19
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Nunca assisti a uma cerimônia de abertura de Copa do Mundo. Acho insuportável. Mas – tudo em nome do blog –, imaginei que a de ontem pudesse dar assunto. Vi os índios, as plantas, estava esperando pelos rios cheios d’água e o Saci Pererê, quando entraram as baianas e Galvão Bueno me emocionou: “Gira, baiana. Gira que eu quero ver.” Ato contínuo, tateei o sofá à procura do controle remoto, mas resisti. Tudo em nome do blog.

O ímpeto voltou quando a new-boleira Patrícia Poeta revelou intimidade com o show business, chamando Jennifer Lopez de Je-Lo. Unha e carne.  

Pressionado pela família, que se divertia com a minha contrariedade, mantive a transmissão na Globo. Logo depois, a câmera mostrou os jogadores na boca do túnel, preparando-se para o aquecimento dentro de campo. Quando eles se abraçaram, ouviu-se em off a voz nervosa de Fernanda Paes Leme: “Ai, meu Deus!”

Paciência tem limite, e o editor do blog que me desculpe. Briguei pelo controle remoto como um faminto por prato de comida e me mudei para a ESPN.

Para quem gosta de futebol, a transmissão da ESPN é incomparavelmente melhor. O narrador, Paulo Andrade, conhece os jogadores lá de fora, e os comentaristas Paulo Calçade e PVC são conhecidos estudiosos, apesar de exagerarem nas estatísticas e perderem o controle nos elogios ao futebol europeu. Eu mesmo, no post de ontem sobre a seleção brasileira, admiti que estamos atrasados e não podemos mais pensar que somos os reis da cocada preta. Entretanto, há uma diferença entre reconhecer o avanço do futebol alemão ou o valor das recentes conquistas espanholas e dizer que o time da Croácia é a oitava maravilha do mundo moderno. Calma aí.

Segundo PVC, um treinador ou dirigente croata, que eu não sei o nome, teria declarado que a seleção da Croácia tem o melhor meio-campo do futebol mundial. PVC discordou: não, o melhor meio-campo é o da Espanha. Ok, mas só o da Espanha? Eu não entendo como uma seleção que tem o segundo ou terceiro melhor meio-campo do mundo termina as eliminatórias nove pontos atrás da Bélgica e só se classifica para a Copa na repescagem. No mínimo, estranho.

E quando Brozovic entrou no lugar de Kovacic, Paulo Calçade assegurou que aquela substituição deixaria o time da Croácia mais forte em duas posições ao mesmo tempo. Bem, então o técnico croata é uma besta: por que não entrou com o time assim desde o início?

Mas não há grandes problemas nisso. Quando o assunto é futebol todo mundo fala bobagem – coisa da qual esse blog é prova indiscutível –, e quem narra ou comenta ao vivo está muito mais propenso. No entanto, tratar o futebol europeu com um pouco menos de pagação de pau, como se diz aqui em São Paulo, deixaria a transmissão mais equilibrada.

Antes de começar a cerimônia de abertura, revi o filme oficial da Copa de 70.  É sempre bom matar a saudade dos três passes geniais de Tostão no jogo contra o Uruguai – para o gol de Clodoaldo, para o gol de Jairzinho e para o drible de corpo de Pelé em Mazurkiewicz. Naquela Copa, um dos jogos interessantes foi México e Bélgica, que valia a passagem para as oitavas de final. Jogando em casa, a seleção mexicana venceu por um a zero, com um pênalti absurdo marcado pelo juiz argentino Ángel Coerezza. Aquilo corroborava o que escrevi sobre uma das vantagens de jogar a Copa em casa. Poucas horas mais tarde, o japonês Yuichi Nishimura passava o segundo atestado do dia.

Jogo de abertura da Copa do Mundo nunca é fácil. A lista de pedreiras é enorme, mas não há exemplos melhores do que a derrota da Argentina para Camarões em 1990 e a da França para Senegal em 2002. As partidas são compreensivelmente tensas e, por mais uma dessas coisas difíceis de explicar no futebol, isso sempre atrapalha o mais forte. Não dava para achar que Brasil e Croácia seria diferente.

Em relação ao que coloquei no post sobre as chances da seleção brasileira, acertei na questão da arbitragem (pênalti padrão campeonato carioca) e nos meus receios quanto ao Fred e ao fato de não termos a alternativa de jogar sem um centroavante fixo. Errei novamente com Luiz Gustavo, que teve atuação muito firme, e mais ainda com Oscar, que nem precisava fazer o belo terceiro gol para ser o melhor em campo. Oscar começou as jogadas dos dois primeiros gols, ajudou na marcação, chamou o jogo e, ao lado de Neymar, mostrou aos croatas que era preciso respeito.

Thiago Silva não chegou a comprometer, mas estava nervoso demais. Daniel Alves foi mal. Fred não foi. Marcelo não conseguiu apoiar, mas jogou sério e não deu muita bola para o azar no lance do gol contra. Sem muito trabalho, Júlio César fez o suficiente em duas ou três conclusões croatas. Hernane e Bernard foram melhores que Paulinho e Hulk, mesmo porque não havia como ser piores. Ramires jogou pouco tempo, mas o necessário para roubar a bola do terceiro gol. Além de Oscar e Neymar, David Luiz foi muito bem.

Talvez fosse melhor se Felipão tivesse tirado Paulinho e Hulk mais cedo. Mas o maior erro dele – repito, insisto e chateio – foi jamais ter treinado o time com uma escalação sem centroavante. Não é todo dia que Fred vai jogar bem e, como não temos outro bom centroavante no futebol brasileiro, acabamos nos tornando quase tão reféns dele quanto de Neymar. Agora é tarde, resta tocar pra frente e torcer.

Pelo menos nessa primeira fase, o mais difícil passou. Acabou a angústia da estreia e ninguém precisa mais chorar no hino. A pressão vai continuar, mas passarinho que come pedra, o resto do ditado todo mundo sabe.

Não encantamos – ninguém encanta no jogo de abertura da Copa –, mas foi um bom começo. E, a Yuichi Nishimura, nossa eterna gratidão.

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