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Tudo japonês

João Saldanha usava o “japonês” mais ou menos com o mesmo sentido que Garrincha usava o “joão”. A seleção brasileira ia enfrentar a Inglaterra, e Saldanha dizia: “Os ingleses têm o Bobby Charlton; quanto aos outros, é tudo japonês”. Não havia maldade ou preconceito, apenas significava que, se o Brasil conseguisse anular Sir Bobby Charlton, o time inglês estava morto.

Mas as diferenças futebolísticas entre eles são tão pequenas quanto o tamanho – calma! – dos olhos. As seleções do Japão e da Coreia do Sul continuam jogando futebol como se estivessem numa linha de produção. Certinhas demais, previsíveis demais.

| 10 jun 2014_17h15
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A primeira vez que uma seleção asiática aprontou alguma coisa em Copas do Mundo foi em 1966, quando a Coreia do Norte passou pela fase de grupos, superando Itália e Chile, e partiu para encarar a melhor seleção portuguesa de todos os tempos – a que tinha Costa Pereira no gol, Coluna no meio-campo e o grande Eusébio na frente.

Esse jogo marca uma passagem bacana, devidamente registrada no documentário , de André Iki Siqueira e Beto Macedo. Saldanha comentava a partida e, aos 25 minutos do primeiro tempo, os coreanos ganhavam por três a zero. Mas ele não se dava por vencido, dizendo que a Coreia do Norte estava correndo de forma alucinada, certamente iria pregar cedo e dava para Portugal virar o jogo até com certa tranquilidade. Afirmar isso com um placar de três a zero não é bolinho, e o pior é que Portugal virou para cinco a três, com quatro gols de Eusébio.

Quarenta e oito anos depois, o que as seleções asiáticas continuam fazendo de melhor é correr. Aprenderam a dosar e mantiveram a rigorosa obediência tática, mas continuam com dificuldade para dar soluções inesperadas às jogadas. São, acima de tudo, nada surpreendentes.

Entre elas, a Coreia do Sul é a que tem o melhor resultado em Copas do Mundo, com o quarto lugar obtido em 2002, em casa. Mas é obrigatório lembrar que os sul-coreanos contaram com descaradas ajudas da arbitragem nas oitavas de final contra a Itália e nas quartas contra a Espanha. Na semifinal, com um juiz correto, foram eliminados pela Alemanha.

Aqui no Brasil, eles não são favoritos a uma das duas vagas – que devem ficar com Bélgica e Rússia –, mas sua possível passagem para a fase seguinte não pode ser considerada exatamente uma zebra. Nas oitavas, há enorme possibilidade de cruzar com a Alemanha, e nenhuma chance de ir adiante.

E já que tivemos João Saldanha na primeira parte do post, nada melhor do que continuar com ele na segunda. Divertido e sempre preocupado em falar a língua do povão, Saldanha aproveitava que o politicamente correto ainda não existia e costumava usar a expressão “é tudo japonês”.

João usava o “japonês” mais ou menos com o mesmo sentido que Garrincha usava o “joão”. A seleção brasileira ia enfrentar a Inglaterra, e Saldanha dizia: “Os ingleses têm o Bobby Charlton; quanto aos outros, é tudo japonês”. Não havia maldade ou preconceito, apenas significava que, se o Brasil conseguisse anular Sir Bobby Charlton, o time inglês estava morto.

Como não quero confusão com a numerosa comunidade asiática que lê o blog – na última contagem, parece que eram seis –, me apresso a dizer que esses nove anos em que estou em São Paulo fizeram de mim um PHD no assunto. Ao contrário de Saldanha, sei identificar, imediatamente, quem é japonês, quem é chinês e quem é coreano. (Vamos ver se, assim, os seis continuam prestigiando.)

Mas as diferenças futebolísticas entre eles são tão pequenas quanto o tamanho – calma! – dos olhos. As seleções do Japão e da Coreia do Sul continuam jogando futebol como se estivessem numa linha de produção. Certinhas demais, previsíveis demais.

O que o Japão fez de melhor em Copas do Mundo foi ter passado pela fase de grupos em 2010, garantindo a classificação com uma inacreditável goleada de cinco a um em cima da Dinamarca. Nas oitavas, foi eliminado pelo Paraguai na disputa de pênaltis. Também chegou às oitavas em 2002, mas ali o resultado virou decepção, porque jogava em casa e caiu para a Turquia, uma seleção de tradição zero.

Na primeira fase desta Copa, o grupo facilita. Brigando com Colômbia, Grécia e Costa do Marfim, os japoneses têm boas chances de passar para as oitavas. Só que isso é, mais uma vez, o máximo com que podem sonhar, já que aí enfrentarão Inglaterra, Itália ou Uruguai.

O futebol de japoneses e coreanos vêm evoluindo, sim, mas com demasiada lentidão. E mais: o caráter e o jeitão dos dois povos nos permitem afirmar com certa segurança quando é que eles estarão entre os grandes da bola.

Nunca. 

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