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Le jour de gloire est terminé

Alguma coisa não me cheira bem nesses franceses. Nas últimas três vezes em que os encaramos em Copas do Mundo, levamos três sapecadas ao som dos elegantes acordes de allons enfants de la patrie. Mas, para não virarmos escravos da estatística – que é a arte de torturar números até eles revelarem o que a gente quer –, é bom contextualizar essas derrotas.

| 06 mar 2014_11h34
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AFP PHOTO / LIONEL BONAVENTURE

Alguma coisa não me cheira bem nesses franceses. Nas últimas três vezes em que os encaramos em Copas do Mundo, levamos três sapecadas ao som dos elegantes acordes de . Mas, para não virarmos escravos da estatística – que é a arte de torturar números até eles revelarem o que a gente quer –, é bom contextualizar essas derrotas.

Em 86 a França tinha um time muito bom e, de quebra, o Platini. E apesar da grande fase do atacante Careca, nossos craques de 82 já estavam em reconhecida decadência. Em 98 houve a ziquizira do Fenômeno, a genialidade do Zidane e, sobretudo, a França jogando em casa. Isso sim – muito mais do que microestatísticas baseadas em três partidas de uma competição que acontece de quatro em quatro anos – é fato: nas dezenove copas anteriores, seis anfitriões ficaram com o título e outros cinco obtiveram sua melhor colocação em mundiais. Não há de ser só coincidência. Por fim, em 2006 várias explicações brotaram para aquele bundalelê que virou a seleção brasileira, mas me parece que nosso maior problema foi não termos calçado as indispensáveis sandálias da humildade. E, ainda, havia Monsieur Zinédine.

Desde que Zidane parou, a seleção francesa nunca mais convenceu. Foi à Copa de 2010 com um gol ilegal de Gallas – depois de Henry ajeitar a bola com a mão – na repescagem contra a Irlanda. Fez um papelão na África do Sul, com alguns jogadores brigando entre si e todos contra o técnico, e terminando a fase de grupos em último lugar. Ganhou o direito de vir ao Brasil em outro jogo de arbitragem confusa, na repescagem contra a Ucrânia. Não vou muito nas águas de Benzema – felizmente, a ausência de um grande centroavante não é exclusividade do futebol brasileiro. Pogba, Matuidi e Valbuena são bons, gosto bastante do zagueiro Varane, que já vi fazer ótimos jogos pelo Real Madri, e Ribéry é um dos melhores jogadores do futebol mundial. A França está longe de ser uma seleção que não mereça respeito, mas como o futebol tem algumas coisas difíceis de explicar – e quem tenta explicar demais quase sempre se estrepa –, falta algo que não deixa o time acontecer e assustar.

A imprensa esportiva da terra de François Hollande – uma espécie de Fred que fala fazendo biquinho – reclama da falta de opções táticas do treinador Didier Deschamps: o time parte sempre dos tradicionais 4-4-2 e 4-3-3, e não vai muito adiante. Não sei se isso explica tudo. De todo modo, a conclusão é que a seleção francesa pode surpreender, mas não dá para chegar ao título.

O azar que a França deu nas eliminatórias europeias, ao cair no mesmo grupo da Espanha, foi amplamente compensado no sorteio das chaves da Copa. Instalada no grupo E, ao lado de Equador, Suíça e Honduras, tem tudo para sair em primeiro lugar, livrar-se da Argentina e pegar um macio croissant nas oitavas de final: Nigéria ou Bósnia Herzegovina. Depois disso, creio que le jour de gloire est fini.

Os franceses dificilmente passarão das quartas, mas ninguém precisa ter pena. Como o cinema já nos ensinou, eles sempre terão Paris.

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