Um título dedicado ao grande Mano Menezes
A noite de 19 de setembro de 2013 vai ficar na história do Flamengo. Após um recuo displicente de Adryan, o Atlético Paranaense virava o jogo no Maracanã e pouco depois o treinador Mano Menezes pegava todo mundo de surpresa com seu pedido de demissão.
O cara que escolhe a profissão de treinador e assume a direção técnica de um clube como o Flamengo, o São Paulo, o Cruzeiro, o Grêmio – enfim, qualquer um dos nossos grandes – não pode pedir para sair quatro meses depois, sob a inaceitável alegação de que “não conseguiu passar para o grupo aquilo que ele pensa sobre futebol”.
A noite de 19 de setembro de 2013 vai ficar na história do Flamengo. Após um recuo displicente de Adryan, o Atlético Paranaense virava o jogo no Maracanã e pouco depois o treinador Mano Menezes pegava todo mundo de surpresa com seu pedido de demissão.
O cara que escolhe a profissão de treinador e assume a direção técnica de um clube como o Flamengo, o São Paulo, o Cruzeiro, o Grêmio – enfim, qualquer um dos nossos grandes – não pode pedir para sair quatro meses depois, sob a inaceitável alegação de que “não conseguiu passar para o grupo aquilo que ele pensa sobre futebol”.
E o que Mano Menezes pensa sobre futebol? Que um volante lento feito o Cáceres é mais útil do que o Amaral – que é limitado, mas pelo menos é rápido? Que a melhor maneira de acertar um time é modificá-lo a cada partida, como se o campo de jogo fosse o laboratório de experiências de um cientista genial e incompreendido? Pergunte a qualquer torcedor rubro-negro qual é hoje o time titular do Flamengo: todos sabem. Pode ser fraco – e é –, mas hoje o Flamengo tem um time.
Qual a contribuição desse grande pensador ao futebol brasileiro? Ter conquistado um estadual falido e uma Copa do Brasil? É muito pouco para tamanha pose. Ter ficado dois anos à frente da nossa seleção sem conseguir montar um time confiável e fazendo convocações estapafúrdias?
No post de apresentação deste blog, publicado em 23 de maio, escrevi que ninguém entende de futebol. O texto exato era esse: “De futebol, gosta-se mais ou gosta-se menos. Acompanha-se mais ou menos. Mas, entender mesmo, no duro, ninguém entende.” Só que eu tenho a impressão de que alguns dos nossos técnicos exageram.
Entende de futebol um badalado treinador que larga o time no meio do campeonato após uma derrota até certo ponto normal, deixando clara sua descrença no elenco e sua covardia ante um possível rebaixamento, que talvez manchasse sua carreira de bicampeão da série B?
O que é ser um bom técnico de futebol? É chegar num clube, pedir e receber um monte de craques como reforços, e só ter o trabalho de distribuir as camisas? Ou é ter paciência e talento para montar o time sem estourar o orçamento, além de humildade para reconhecer que os jogadores não estão lá para pôr em prática aquilo em que ele, treinador, acredita, e sim que ele, treinador, está lá para adaptar suas crenças e sabedorias às características dos jogadores de que dispõe?
Esse ano temos recebido uma lição atrás da outra. Enquanto alguns dos nossos clubes escolheram ficar que nem cachorro tentando morder o próprio rabo, atrás dos gênios de sempre, o Atlético Mineiro foi campeão da Libertadores com o estigmatizado Cuca, o Cruzeiro deu um vareio no Campeonato Brasileiro com o pouco cobiçado Marcelo Oliveira e agora o Flamengo ganha a Copa do Brasil com um treinador em tudo e por tudo diferente dos falsos sabichões. Aliás: quando Mano jogou dez mil réis no veado e partiu, o Flamengo tentou contratar Abel Braga, provavelmente com um salário trinta vezes maior do que o de Jayme de Almeida. E vou lhes contar o máximo que Abel Braga conseguiria: livrar o time do rebaixamento e conquistar a Copa do Brasil.
Essa coisa, mais uma vez , do dinheiro, dinheiro, dinheiro, tomou outros exemplares catiripapos esse ano, e o maior deles talvez tenha sido o do Corinthians. Depois de conquistar Brasileirão, Libertadores e Mundial Interclubes com um time formado por jogadores relativamente baratos – Paulo André, Fábio Santos, Ralf, Paulinho –, o clube parece ter se deslumbrado, e não adianta alegar que quem pagou o Pato (sem trocadilho, juro) foi a Nike. Se foi, a diretoria do Corinthians precisaria de competência e credibilidade para chegar no patrocinador e falar mais ou menos o seguinte: gente, o que vocês acham de, em vez de gastar 40 milhões no Pato, pegar esse dinheiro, levar o Dedé, o Éverton Ribeiro, o Ricardo Goulart, o Dagoberto, o Júlio Baptista, mais uns quatro ou cinco, e ganhar tudo? Não há marketing mais eficiente do que um time vencedor. Deem uma olhada no ranking dos sócios-torcedores em www.futebolmelhor.com.br e vejam em que lugar essa vitoriosa mulambada desprezada por Mano Menezes já pôs o Flamengo.
Quando terminou o jogo de ontem, perguntado sobre seu absoluto ostracismo na esquecível Era Mano – nem no banco de reservas ficava –, Amaral sacou de um dos versículos de Lucas para afirmar que “os humilhados serão exaltados”.
Eu vi a coisa ao contrário. Enquanto quarenta milhões de rubro-negros mal conseguiram pegar no sono de tanta alegria, do alto da sua petulância, lá de cima da sua arrogância, o inexplicavelmente exaltado Mano Menezes foi dormir humilhado.
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