Ao longo de seis horas de transmissão em vídeo, os apresentadores do Foro de Teresina – o diretor de redação Fernando de Barros e Silva, a repórter Malu Gaspar e o editor do site José Roberto de Toledo – conversaram com jornalistas, colaboradores da revista e convidados para destrinchar e comentar o andamento da votação em todo o país.
Cerca de 200 mil pessoas acompanharam o programa em algum momento. O Foro especial foi exibido via Periscope, em parceria com o Twitter, e pode ser visto tanto no perfil da revista na rede social quanto no site da piauí. Para assistir, clique no player abaixo:
Começou! Assista ao vivo ao #ForoDeTeresina ao vivo, direto da redação da Piauí. https://t.co/11f49rT29j
— revista piauí (@revistapiaui) 7 de outubro de 2018
Logo na abertura, os âncoras Fernando Barros e Silva, José Roberto de Toledo e Malu Gaspar comentaram as surpresas com pesquisas de boca de urna no qual mostraram candidatos ao governo estadual pouco conhecidos dos eleitores e que dispararam na reta final nos três maiores colégios eleitorais do país: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O primeiro convidado foi João Moreira Salles, autor da reportagem de capa da piauí deste mês: “Uma cidade exemplar.” Salles foi a Três Corações, em Minas Gerais, município que sintetiza os dramas políticos do país. A escolha pela cidade baseou-se pelo seu perfil: com cerca de 80 mil habitantes, Três Corações reflete bem o Brasil. Seja na proporção entre homens e mulheres, seja no grau de escolaridade, na distribuição etária ou na participação dos cidadãos na atividade econômica, os números mostram que a cidade espelha quase à perfeição a média do eleitorado brasileiro.
Os cientistas políticos Miguel Lago e Marco Aurelio Ruediger participaram do terceiro bloco. Lago é colunista da piauí, cientista político, cofundador da rede Meu Rio e diretor da ONG Nossas. Em sua análise, o candidato Jair Bolsonaro “encarna uma extrema direita meio palhaça, meio fascista. Como acontece na Itália, Áustria, Hungria e Polônia. Está ligado à temporalidade de um mundo que vive uma crise de representatividade”. Lago explicou também que o candidato está atrelado a um populismo de redes sociais. “Ele é praticamente um youtuber.” (Leia mais na última coluna de Lago)
Marco Aurelio Ruediger é diretor da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da FGV, que, entre outras coisas, tem estudos na área de monitoramento de redes sociais. Ruediger avaliou o desempenho de Ciro Gomes nas redes sociais. “Ciro se tornou mais incisivo nos últimos dois debates, mas teve pouco tempo. Se ele tivesse começado talvez uma semana antes, talvez tivesse tido mais chance. Houve um movimento significativo nas redes, mas não se converteu em votos”, disse.
Ele também avaliou o impacto das fake news no dia da votação. “O TSE organizou essa iniciativa para tentar fiscalizar, mas faltou articulação maior com a sociedade civil pra mapear esse tipo de coisa. A gente viu uma enxurrada de fake news. Hoje então, com fotografias tiradas nas urnas, o que é proibido.” Ruediger referia-se à suposta urna que mostrava voto em Haddad quando se apertava o número 1, o que o TSE confirmou se tratar de um vídeo manipulado. Leia a reportagem de Marcella Ramos a respeito.
No quarto bloco, Rafael Cariello, ex-repórter e ex-editor da revista, roteirista do Conversa com Bial, avaliou o que chamou de “isolacionismo do PT”. “No debate, me impressionou muito o momento em que o Guilherme Boulos se recusa a responder à pergunta do Haddad sobre direitos trabalhistas, e em seguida faz uma defesa da democracia, dizendo que muitas pessoas haviam derramado sangue, durante a ditadura, para que se chegasse à realidade democrática de hoje. A bola volta para o Haddad, uma bola perfeita, ele fala que a democracia é de fato importante, e começa a citar como ela possibilitou os programas do PT, como o Minha Casa Minha Vida. Ele não ia perder um voto se fizesse uma defesa mais ampla da democracia, se falasse da importância da Constituição, se falasse dos perigos da ditadura.”
O repórter Fabio Victor acompanhou o general Hamilton Mourão, vice de Jair Bolsonaro, no trajeto entre Brasília e Rio de Janeiro neste domingo. Durante o Foro, o jornalista contou que o militar disse não ser inimigo da imprensa. “A imprensa é para os governados, não para os governantes. Podem bater à vontade, a minha carcaça é boa.” Leia também a reportagem de Victor.
A apresentadora do podcast Maria vai com as outras, Branca Vianna, comandou o Foro de Teresina no quinto bloco. Para falar sobre a participação das mulheres nessa eleição, Vianna recebeu a ativista e colunista da piauí Suellen Guariento e a professora do Instituto de Economia da UFRJ Lena Lavinas.
Na conversa, Branca Vianna começou perguntando: “Existe isso? O voto da mulher? Assuntos específicos que guiam o voto da mulher?” Para Suellen Guariento, a generalização é um erro. “Não acredito nessas ideias de homogeneidade sobre o voto da mulher. Quando a gente está falando de mulher, é preciso identificar que mulher é essa. Que não é genérica e universal. Há questões sobre mulheres negras e de periferia que são fortes, como creches”, explicou.
Vianna questionou se há pautas que unam mulheres no legislativo. A professora Lena Lavinas respondeu: “Há um conjunto de bandeiras comuns, mas durante o governo do PT houve uma divisão. Havia uma ala que não queria enfrentar a questão do aborto. No governo Dilma, então, foi uma tragédia completa.”
Nicolau foi categórico: “teria a ousadia de dizer que esta é a eleição mais impressionante da história brasileira. Não tenho padrão de comparação para o que estamos assistindo nesse domingo.” Estudioso dos sistemas partidário e eleitoral brasileiros, Nicolau comentou que a votação de Jair Bolsonaro é superior à de Fernando Collor e de Jânio Quadros. “Em termos de comparação, estamos diante de fenômeno: Bolsonaro concorre pela primeira vez e com essa performance”. Ele citou o resultado do candidato do PSL nos estados. No Rio, o desempenho foi semelhante à votação de Leonel Brizola em 1989, com 60% dos votos válidos.
Evangelista fez uma crítica ao tratamento homogeneizado que os evangélicos recebem. “A esquerda gosta de repetir que voto evangélico é voto de rebanho”, disse a pesquisadora. No entanto, há mais de 1300 denominações evangélicas no Brasil, ela lembrou.
Já para Bruno Carazza, o antipetismo deu seu recado e o PT perdeu o timing de fazer um aceno ao centro. “O segundo turno talvez seja tarde demais. A estratégia de reforçar posições mais radicais do partido reforçou um sentimento de quem estava no centro para migrar para uma posição antiPT e anti tudo que está aí. Acho muito difícil o PT vir com uma nova carta para os brasileiros depois do que pregou no primeiro turno.
A dupla Cesar Benjamin e Marcos Nobre ajudou pontuar os desafios da esquerda e do PT no segundo turno. Professor da Unicamp e colunista da piauí, Nobre avalia que a expectativa é de uma campanha sangrenta. Mas, se for assim, Jair Bolsonaro perderia. “Essa eleição não é um apelo a razão, é algo um pouco diferente disso. A questão é se o eleitor vai ser emocional. Defender a democracia é emocional também. Então, se você prometer um governo diferente do que temos agora, as pessoas podem optar por isso.”
Co-fundador do PT que também já foi filiado ao PSOL (mas que atualmente está desligado dos dois partidos), o cientista político Cesar Benjamin afirmou que o ciclo do PT se prolongou demais.
“A disputa agora é entre civilidade e barbárie, democracia e ditadura. E o Haddad tem que explicitar isso. É um momento que nem sempre é racional. Estamos em um momento grave. O ciclo PT demorou demais, a esquerda ficou num partido que apodreceu em praça publica e vai pagar um preço caro.”
No bloco final do Foro, o repórter Roberto Kaz relatou os dois meses em que acompanhou uma família do Rio de Janeiro que decidiu votar em Jair Bolsonaro. Entre as impressões que teve, o que achava curioso é que uma das personagens confiava cegamente na internet e não assistia ao jornal. Lucia Helena Ribeiro, a chefe da família, contou ter se decepcionado com a imprensa, e citou a entrevista do candidato no programa Roda Viva: “Eu queria ouvir as propostas, mas os jornalistas só perguntavam sobre negros, mulheres, ditadura… Pra que perguntar de 64? Eu não era nem nascida.”
A repórter Josette Goulart esteve com o candidato do PT, Fernando Haddad, ao longo do domingo. Goulart apurou que, para enfrentar o segundo turno, vai se preocupar com temas como segurança pública – que ficou de fora da campanha – e com as fake news. O PT também vai avaliar a possibilidade de mudar questões do programa de governo para atrair mais pessoas. Não necessariamente mais partidos, explicou a repórter, mas influenciadores.
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— gabriellupi (@gabriellupi) 28 de outubro de 2018