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Bandeirinhas com apito

As funções de um bandeirinha são estritamente observatórias e técnicas: se a bola ultrapassou a linha, saiu; se tocou por último no zagueiro, escanteio; se o atacante tinha apenas um adversário entre ele e a linha de fundo, impedimento. As de um juiz exigem interpretação, jogo de cintura, bom senso, malandragem.

| 17 set 2013_11h28
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Até o ano passado, o futebol brasileiro tinha uma das melhores duplas de bandeirinhas do mundo. O paranaense Roberto Braatz e o gaúcho Altemir Hausmann, que estiveram na Copa de 2010, quase não erravam e representavam uma segurança a mais para torcedores, times e juiz. Braatz caiu na compulsória da Fifa e se despediu dos gramados no final de 2012, e o mesmo acontecerá esse ano com Hausmann. Excelentes bandeirinhas, Roberto Braatz e Altemir Hausmann jamais foram vistos apitando um jogo de futebol profissional. Por um motivo simples: juiz é juiz, bandeirinha é bandeirinha.

As funções de um bandeirinha são estritamente observatórias e técnicas: se a bola ultrapassou a linha, saiu; se tocou por último no zagueiro, escanteio; se o atacante tinha apenas um adversário entre ele e a linha de fundo, impedimento. As de um juiz exigem interpretação, jogo de cintura, bom senso, malandragem.

Outro dia vi um lance da partida entre Náutico e Atlético Paranaense que me deixou arrepiado. Jogando em casa, o Náutico perdia e afundava na tabela. Situação delicada, torcida na pressão, tensão no ar. Aconteceu um contra-ataque do time paranaense, um dos defensores do Náutico voltou em disparada para cortar a jogada, chegou junto e tocou na bola. O resto foi choque normal, nada a marcar, mas na mesma hora a bandeirinha Carolina Romanholi Melo parou o lance. Com os nervos à flor da pele, o atacante alvirrubro Jonatas Belusso partiu pra cima e encarou Carolina, quase encostando seu nariz no dela. Temi pelo pior, mas felizmente ele foi contido. A revolta de Jonatas Belusso era justa: não houve falta.

Mesmo abominando o excesso de não-me-toques dos juízes brasileiros, que faz com que os nossos jogos sejam os mais interrompidos do mundo, ainda assim o critério deles não é tão ruim quanto o dos bandeiras. E se um juiz marcando faltas a toda hora já é irritante, bandeirinhas são insuportáveis.

O problema é que, desde que começaram as promoções no tratamento – primeiro, de bandeirinha para auxiliar; depois, de auxiliar para árbitro-assistente –, parece que o sucesso foi subindo à cabeça deles e delas, e todos estão metendo os pés pelas mãos. A principal razão da existência dos bandeirinhas é a regra do impedimento, tão genial quanto difícil de ser aplicada: o futebol está cada vez mais veloz, zagueiros se adiantam frações de segundo antes do passe e ali, no calor da batalha, o cara tem que olhar para dois lugares ao mesmo tempo. É osso. Mas se os bandeirinhas se concentrassem nisso, deixando as faltas e lances de interpretação para o juiz, já prestariam um grande serviço ao jogo.

Tenho a impressão de que, se pegássemos o DeLorean de Doctor Emmett Brown e pousássemos na Grécia do século IV a.C., veríamos o pintor Apeles, impaciente, dar uma nova versão para sua famosa frase: “Bandeirinha, não vás além da bandeira.”

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