Bom Senso
Passamos a conviver com a convicção de que tudo em nosso futebol precisa mudar, e exigimos que tudo mude. Só que é impossível querer mudar tudo de uma vez, o que quase sempre gera justamente a não-mudança. Precisamos de algo palpável para começar.
Passamos a conviver com a convicção de que tudo em nosso futebol precisa mudar, e exigimos que tudo mude. Só que é impossível querer mudar tudo de uma vez, o que quase sempre gera justamente a não-mudança. Precisamos de algo palpável para começar.
Felizmente, desta vez entendemos que não se trata de sacrificar este ou aquele jogador. Há críticas aos laterais, a Hulk, a Fred, aos meio-campistas, mas nenhum deles foi diretamente responsabilizado à moda Barbosa, mesmo porque todos fazem sucesso em seus clubes e sete a um não permitem individualizações.
Modernizar a nossa parte tática é urgente, daí a necessidade de se optar por um treinador cujo nome represente um choque à zona de conforto habitada por abéis bragas, tites, luxemburgos. (Não me impressiona a pesquisa feita pelo Datafolha que dá a Tite a preferência. Fosse feita no final de novembro do ano passado, talvez o indicado fosse Jayme de Almeida. Recorro, mais uma vez, a Arthur Muhlemberg: “torcedor de futebol tem idade mental de três anos”.)
Entretanto, além do atraso tático que requer correções imediatas, muito mais há que ser feito a médio prazo. No dia seguinte ao perturbador massacre alemão, Juca Kfouri publicou em seu blog uma carta aberta de Paulo André. No trecho mais significativo, o ex-zagueiro corintiano critica os dirigentes incapazes de formular propostas para o futuro simplesmente porque “não entendem bulhufas do que deve ser feito. Entendem de política, de se manter no poder, de explorar o futebol, de mamar nas tetas da vaca.” Paulo André reproduz o que disse José Maria Marin na primeira reunião com o Bom Senso: “Posso afirmar que não temos nada a aprender com ninguém de fora, principalmente no futebol. Sempre tivemos os melhores do mundo no Brasil. Já vencemos cinco vezes a Copa”.
Seguindo a lógica do raciocínio mariniano: já que perdemos de sete, agora temos muito a aprender.
Cinco dias depois, Paulo André voltou ainda mais afiado, publicando uma seleção com 11 caras que controlam as federações estaduais há décadas – um deles, José Gama Xaud, manda e desmanda na Federação de Roraima há 40 anos. Alguém pode perguntar: mas qual a importância da Federação de Roraima para o futebol brasileiro? Deveria ser nenhuma, mas os 11 caras citados por Paulo André fazem parte de uma lista de 47 pessoas que elegem o presidente da CBF e definem os regulamentos das competições organizadas pela entidade.
Sim, todos nós já ouvimos belas frases como “a seleção é do povo”, “o futebol é um patrimônio do torcedor brasileiro”, mas tudo é decidido por esses 47 cidadãos, muitos dos quais os tais 200 milhões que são donos do patrimônio jamais ouviram falar.
Os sete a um tiraram o nosso chão, nos deixaram tontos e apontaram a necessidade de dar, imediatamente, os primeiros passos. E uma boa maneira de começar a mudar é dar ouvidos às falas e olhos aos textos do Bom Senso F.C.
Eles informam que a maioria dos clubes de futebol do país disputa, em média, 17 jogos por temporada. No outro lado do problema, os times de elite chegam a participar de 85 partidas. As consequências disso são as intransponíveis dificuldades para os pequenos se estruturarem, enquanto os grande sofrem com as lesões causadas pelo excesso de jogos e os torcedores com a visível diminuição do prazer de acompanhar as partidas. O Bom Senso defende um calendário que permita a sustentabilidade dos pequenos e mais qualidade no futebol apresentado pelos grandes.
Mais: o Bom Senso prega a adoção do financeiro e alerta que, mesmo com o significativo crescimento da receita dos principais clubes brasileiros, suas dívidas aumentaram 90% nos últimos 5 anos. E apesar de ser um movimento lançado e liderado pelos jogadores, reconhece que reduzir salários é necessário para a devida adequação às novas regras.
Por fim, o Bom Senso lembra que, apesar de ser o único pentacampeão do mundo, de ter presenteado o planeta com o maior jogador de todos os tempos e de tantos outros etcéteras, o futebol brasileiro ocupa a 18ª posição no ranking de média de público nos estádios. Estamos atrás da Ucrânia, da Austrália e, inclusive, das segundas divisões da Alemanha e da Inglaterra.
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