Valdemar Costa Neto, em sua sala, na sede do PL em Brasília. Pedro Ladeira/Folhapress
Como Valdemar Costa Neto instrumentalizou o PL contra as urnas eletrônicas
Alvo de operação da PF sobre o 8 de janeiro - na qual acabou preso por posse ilegal de arma - o presidente do PL conspirou sem freios contra a legitimidade da eleição
O presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar Costa Neto, saiu-se das últimas eleições com uma vitória arrasadora: emplacou 99 deputados e 1,2 bilhão de reais de fundo partidário. Ainda sob efeito da consagração do primeiro turno, porém, sentou-se rapidamente na primeira fila dos nomes que contestaram a legitimidade da eleição do presidente Lula, alardeando a ideia de fraude nas urnas.
Apenas na manhã de hoje, porém, Costa Neto se tornou alvo da Polícia Federal, em uma operação de busca e apreensão contra conspiradores que tentaram golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder, ao lado do próprio ex-presidente, de militares da linha de frente como os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto, entre outros nomes. Costa Neto, atual presidente do Partido Liberal (PL), acabou preso porque foi constatada durante a averiguação a posse ilegal de uma arma de fogo. Ele não é réu primário: foi preso em 2013 no processo do mensalão depois de ter sido condenado a sete anos e dez meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso do mensalão. Em 2016, recebeu indulto do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal.
No dia 8 de novembro, ao anunciar o convite para Bolsonaro ser presidente de honra do PL, Costa Neto não reconheceu a vitória de Lula e expressou a certeza de que um relatório das Forças Armadas encomendado para atestar a segurança das urnas eletrônicas, ainda em elaboração, apontaria fraudes. “Eles [os militares] vão trazer alguma coisa. Não tenho dúvida disso, porque senão já tinham apresentado, já tinham liquidado o assunto. E, dependendo do que eles encontrarem, nós vamos brigar no TSE com esses questionamentos que eles possam trazer.”
No dia seguinte, na primeira reunião da nova bancada do PL na sede do partido, em Brasília, Costa Neto foi categórico ao enfatizar que havia algo errado com as urnas. E foi apoiado pela franja radical do partido, composta, entre outros, pelo deputado Filipe Barros (PL-PR), a deputada Carla Zambelli (PL-SP) e o recém-chegado Eduardo Pazuello (PL-RJ), todos eleitos pelas mesmas urnas eletrônicas. Naquele dia, a Defesa finalmente divulgou seu relatório, dizendo que não era possível comprovar que as urnas eram vulneráveis, e nem que não eram. Ou seja, não encontraram nada de errado, o que deixou Bolsonaro contrariado. Ele esperava um relatório denunciando fraude, sobretudo porque sabia que essa era a opinião dos militares. Para não entregar o jogo, acionou-se então a estepe, um relatório encomendado a uma empresa chamada Instituto Voto Legal (IVL), que foi registrada na Junta Comercial do Estado de São Paulo em 30 de novembro de 2021, no mesmo dia em que Jair Bolsonaro se filiou ao PL.
O relatório dizia ter encontrado “indícios de mau funcionamento” em 59% das urnas eletrônicas do segundo turno – apenas do segundo turno. O conteúdo caiu como uma luva nas intenções de Costa Neto de contestar a vitória de Lula, sem contestar a vitória de seus deputados. O ministro Alexandre de Moraes não caiu no truque. Deu 24 horas para que o PL anexasse um relatório completo, incluindo as urnas do primeiro turno, com base no fato elementar que as urnas dos dois turnos eram as mesmas. O relatório não foi anexado, e Moraes multou o PL em 22,9 milhões de reais por litigância de má-fé.
E Costa Neto entrou no seu labirinto. Como nem os militares acharam fraude, ele também queria pular fora do barco, mas sua bancada bolsonarista pressionava para que o partido usasse o relatório para contestar o resultado. A máquina de difamação do entorno presidencial entrou em campo, dizendo que Costa Neto já estava aderindo ao governo petista e andava se encontrando com Lula. Entre perder sua bancada ou perder a democracia, Costa Neto, ex-mensaleiro, ex-preso, ex-lulista e atual bolsonarista no coração e no bolso, decidiu atacar a democracia: apresentou o relatório do IVL ao TSE. Sabia que o tribunal rejeitaria a contestação, mas queria se livrar da pressão dos radicais.
Na edição da piauí de junho de 2023, a repórter Ana Clara Costa reconstitui a teia que ligou políticos, militares e policiais para conspirar contra a democracia, em um movimento que teve como auge os ataques golpistas 8 de janeiro. O texto pode ser lido por assinantes neste link.
Leia Mais
Assine nossa newsletter
Email inválido!
Toda sexta-feira enviaremos uma seleção de conteúdos em destaque na piauí