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Em família

Convocar ou manter jogadores no time em nome de uma tal família, e por outro critério que não seja o de jogar futebol, é um risco. Para competições longas e que premiam a regularidade, faz sentido. Numa Copa do Mundo, pode ser fatal.

| 25 jun 2014_16h05
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Quem trabalha na área de comunicação sabe que as chamadas são instrumentos muito bem utilizados pela Globo para alavancar a audiência de seus programas. São craques no assunto, mas na Copa têm errado a mão.

Acompanhávamos Itália e Uruguai numa das salas aqui do trabalho. Jogo duro, sobretudo de assistir, metade do pessoal torcia pelos italianos, metade pelos uruguaios e quase nada acontecia. Suárez ainda não mordera o ombro esquerdo de Chiellini, Godin ainda não errara a cabeçada para fazer esquisitamente, de costas, o gol salvador, quando o narrador Luís Roberto anuncia, dramático: “Hoje, a novela pega fogo. Juliana está sendo acusada de assassinato. Depois do Jornal Nacional, .” Anticlímax total.

Mas, como estamos num blog sobre futebol, não é dessa família que quero falar e sim das famílias dos nossos treinadores.

Em 2010, a lista de Dunga para a Copa na África do Sul provocou polêmica. Neymar e Ganso estavam jogando uma barbaridade, mas eram muito novos, ainda não tinham sido testados na seleção principal e, contrariando o país inteiro, Dunga e Jorginho, uma espécie de Murtosa fundamentalista, acharam por bem deixá-los de fora. Decisão discutível, mas o pior foi ter levado outros jogadores por critérios esdrúxulos. A convocação de Doni e Felipe Melo provocou espanto na Itália, onde ambos atuavam. Foram chamados, ainda, Gilberto Silva, Michel Bastos, Kléberson, Josué, Grafite, em escolhas que deixavam o futebol de lado e levavam em conta fidelidade (Doni foi à Copa por ter desafiado seu clube, a Roma, numa convocação anterior) e afins. A Família Dunga não rolou. 

Agora em 2014, estamos diante de um remake da Família Scolari – que funcionou na conquista do penta. Só não vale esquecer que, em 2002, tínhamos Rivaldo e Ronaldo arrebentando, Ronaldinho Gaúcho resolvendo quando foi preciso, Cafu e Roberto Carlos em grande forma, Gilberto Silva e Kléberson oito anos mais moços do que com Dunga.

Não houve grandes contestações quanto aos atuais 23 selecionados por Scolari. Alguns jornalistas tentaram criar um climinha pela ausência de Miranda, preterido por Henrique, mas há que se admitir que isso é muita vontade de tumultuar. A convocação de Miranda – para ser reserva, registre-se – não mudaria absolutamente nada. Entretanto, é inexplicável a insistência do técnico em não corrigir o que não vem funcionando. Questionado sobre Paulinho, numa das entrevistas antes do jogo de segunda-feira, Felipão declarou que tinha total confiança no meio-campista. Eu também acho Paulinho muito bom, mas a Copa tem apenas sete jogos – e não podemos perder nenhum dos próximos quatro.

Fica a impressão de que alguns jogadores registraram em cartório suas vagas na seleção brasileira. Dali não saem, dali ninguém os tira. E com isso desprezamos a vantagem de, numa Copa do Mundo, poder dispor dos 23 melhores jogadores de futebol nascidos no país.

Concordo: grandes times costumam ser forjados pela repetição dos onze escalados, mas oportunidades na seleção brasileira precisam ser agarradas de cara. Não dá para esperar dez jogos até o bonitão se firmar. É óbvio que, se Neymar tivesse jogado mal contra Camarões, ninguém pensaria em sacá-lo contra o Chile. Mas até quando o Daniel Alves vai continuar jogando mal? O Marcelo, abaixo do que a gente sabe que ele joga? O Paulinho parado, sem encostar nos zagueiros para sair com a bola e obrigando-os a sucessivos lançamentos longos? Fred não precisa fazer gols em todas as partidas, mas é obrigação se mexer mais, procurar jogo, abrir espaços. Foi um pouco melhor contra Camarões, mas ali o sarrafo estava muito baixo. A esperança é que, pegando confiança, volte a colaborar.

Convocar ou manter jogadores no time em nome de uma tal família, e por outro critério que não seja o de jogar futebol, é um risco. Para competições longas e que premiam a regularidade, faz sentido. Numa Copa do Mundo, pode ser fatal. 

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