A área ocupada pelo garimpo no Brasil bateu um recorde histórico em 2021. Ao todo, 196 mil hectares do território nacional foram dedicados a essa atividade, uma área tão grande quanto a da cidade de São Paulo. Esse número vem subindo de forma acelerada desde 2016. O crescimento mais agudo, nos últimos anos, foi o do garimpo ilegal. Na Terra Indígena Yanomami, que enfrenta hoje uma calamidade, a área ocupada por garimpeiros quadruplicou entre 2020 e 2021. Os números, analisados pelo MapBiomas, são coletados por meio do método deep learning, utilizando imagens de satélite e dados de referência do CPRM (Serviço Geológico Brasileiro), da Ahk Brasilien (Câmara de Comércio e Indústria), do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do ISA (Instituto Socioambiental). O =igualdades destrinchou esses dados para ilustrar o crescimento do garimpo no Brasil.
Em 2019, início do governo Bolsonaro, o Brasil registrou o maior aumento proporcional de área ocupada pelo garimpo em mais de trinta anos – e em 2021, o garimpo teve a maior expansão territorial da série histórica, em números absolutos (3,8 mil hectares a mais). Ao todo, foram 196 mil hectares dedicados ao garimpo – mais que a área total da cidade de São Paulo, a maior capital do país.
A expansão do garimpo coincide com a invasão de territórios indígenas e unidades de conservação, segundo a análise do MapBiomas. Nos três primeiros anos do governo Bolsonaro, a atividade garimpeira em terras indígenas bateu recorde – em tamanho e em expansão. De 2011 a 2021, a área de garimpo em terras indígenas sextuplicou: saltou de 3,2 mil hectares para 19,6 mil hectares.
O território Yanomami foi um dos mais afetados pelo crescimento arrasador do garimpo. No intervalo de apenas um ano, a atividade garimpeira nessa terra indígena praticamente quadruplicou. Hoje o povo Yanomami enfrenta uma crise humanitária – casos de desnutrição, malária e outras doenças relacionadas à ação do garimpo ilegal. Segundo dados do MapBiomas, a área de garimpo em território yanomami era de 414 hectares em 2020 e saltou para 1.556 em 2021.
As maiores áreas de garimpo em terras indígenas estão no Pará, nos territórios Kayapó (11,5 mil hectares) e Munduruku (4,7 mil hectares), e n Amazonas e Roraima, no território Yanomami.
Em 2021, a atividade garimpeira em terras indígenas ou unidades de conservação restritas ocupava, ao todo, 23 mil hectares. Isso significa que há pelo menos uma área do tamanho de Recife de garimpo ilegal no país.
A principal substância explorada pelo garimpo é o ouro, que em 2021 correspondia a 83% da atividade garimpeira. Havia 162,6 mil hectares de exploração garimpeira de ouro, naquele ano. Isso é quatro vezes a área de exploração do ferro – principal mineral exportado do país – pela indústria. No primeiro ano de governo Bolsonaro, em 2019, a área de garimpo superou a de mineração industrial no Brasil (que explora diversas substâncias, como ferro, alumínio, calcário etc.), o que não acontecia desde 1999.
A expansão do garimpo no Brasil acontece principalmente na Amazônia. Só o Pará concentra 58% da atividade garimpeira do país. A área ocupada pelo garimpo no estado é de 114 mil hectares, enquanto todas as outras regiões somam 82 mil hectares.
O Pará também é o estado que mais desmata na Amazônia. O avanço do garimpo coincide com a explosão de desmatamento no estado. Em 2017, a área desmatada no Pará foi de 723 km². Em 2022, cinco anos depois, saltou para 3.874 km² – ou seja, quintuplicou. A área de floresta desmatada no estado no ano passado equivale a mais de mil Central Parks.
É repórter da piauí
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno