AVENIDA BRASIL – A deflagração da ducentésima vigésima nona fase da Operação Lava-Jato fez com que o roteirista João Emanuel Carneiro fosse convocado às pressas para reescrever o roteiro da novela das oito da Polícia Federal. “Onde está Braulio Mantovani nessas horas? Onde está a herança glauberiana?”, perguntou Carneiro, enquanto era levado ao encontro do juiz Sérgio Moro, diretor de núcleo da Operação Lava-Jato. “É um vale tudo pela audiência. Estamos vivendo o crepúsculo do roteiro neste país.”

Carneiro se refere ao atropelamento dos fatos apresentado pelo folhetim nas últimas semanas. “Um dia é Marcelo Odebrecht, outro Eduardo Cunha. De repente, uma bomba com Delcídio, no dia seguinte, outra clímax com Lula. Cadê os personagens paralelos? Cadê a construção da curva dramática? Dessa maneira, o público não consegue absorver todas as informações e se envolver plenamente com a trama”, lecionou. “Vou dar um exemplo: quando a trama focou no Cunha – sujeito malvado, careca, típico vilão de filme da Disney – eu fiquei vidrado. E o que acontece no dia seguinte? O Delcídio volta das trevas!”.

No final da manhã, Carneiro enviou o próximo episódio para o diretor de núcleo Sérgio Moro. No roteiro, o público fica grudado e apreensivo para saber se Lula é o vilão ou o mocinho.