Para este ano, Padilha esperava ganhar, de Natal, um superpoder que o fizesse dirigir seu primeiro filme ou série sem protagonista narrando em off

16abr2019 | 16h22 | Brasil

Em nova carta à Folha, Padilha acusa Sergio Moro de ter mentido sobre Papai Noel

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TRAUMA DE INFÂNCIA –  Após expressar, em artigo na Folha, a sua decepção com o ministro da Justiça, Sergio Moro (“Sergio Moro finge não saber o que é milícia porque perdeu sua independência e hoje trabalha para a família Bolsonaro”), o cineasta José Padilha escreveu um segundo texto contra o ministro, publicado, com exclusividade, por este The piauí Herald. O conteúdo que segue, bastante forte, é contraindicado para menores de 5 anos:

“Sergio Moro sabe que:

1 – Papai Noel não é um velhinho que mora no Polo Norte, e que roda o mundo cheio de presentes, no dia 24 de dezembro, num trenó puxado a rena.

2 – Bicho Papão não é um monstro que mora dentro do armário, nem debaixo da cama. Trata-se, na verdade, de um facínora que faz uso dessa fama de vilão para controlar as crianças.

3 – Mula sem cabeça nunca existiu, porque seria impossível um quadrúpede sobreviver por mais de alguns segundos sem uma cabeça que lhe controle os movimentos do corpo.

4 – O pai ou mãe que fala “Vamo, filho, a gente compra na volta!” nunca compra na volta.

5 – Mata mata é bem melhor q ponto corrido, Viviane Araújo é maior que Gracyanne Barbosa, fruta não é sobremesa, assim como sopa não é janta.

Mesmo sabendo de tudo isso, o ministro Sergio Moro sempre me disse que ganhava um playstation novo, do Papai Noel, a cada novo Natal. Da última vez que nos falamos, em dezembro, contou-me também que o Papai Noel lhe havia prometido um cargo de ministro no governo Bolsonaro.

Ora, o leitor sabe que sempre apoiei a operação Lava Jato e que chamei Sergio Moro de “samurai ronin”, numa alusão à independência política que, acreditava eu, balizava a sua conduta quando ele liberava conversas entre Lula e Dilma mesmo sem autorização judicial, ou quando aceitava ser ministro de Bolsonaro depois de ordenar a prisão do candidato que estava à frente na disputa eleitoral. Pois bem, quero reconhecer o erro que cometi.

Sergio Moro foi de “samurai ronin” a “antiCapitãoNascimento”. Seu pacote anticorrupção é, também, um pacotinho de chiclete que parece ser de tutti-fruti, mas na verdade é de pimenta.”