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    Na reunião com o governo, Emílio Odebrecht reclamou que o pacto firmado na campanha não estava sendo cumprido. Depois que todos falaram, Lula disse que a iniciativa privada comandaria o setor petroquímico, como havia prometido ao empreiteiro FOTO: EDUARDO KNAPP/FOLHAPRESS

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História de uma amizade

Como Emílio Odebrecht conheceu Lula e o que aconteceu depois

Malu Gaspar | Edição 160, Janeiro 2020

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“Você conhece o Lula?”, perguntou o prefeito de São Paulo, Mário Covas. “Não”, respondeu Emílio Odebrecht. “Não conheço pessoalmente, só de ouvir falar.” Covas achava que Luiz Inácio Lula da Silva poderia ser a solução para os problemas de Emílio. O empreiteiro andava de cabeça quente, preocupado com a greve dos operários do Polo Petroquímico de Camaçari, naquele ano de 1985. Desde sua inauguração, em 1978, o polo enfrentara inúmeras greves, mas esta última se arrastava além do normal. Os três meses de negociação das reivindicações salariais haviam resultado em impasse, e os trabalhadores, num movimento que os sindicatos não controlavam plenamente, ocuparam em 27 de agosto plantas industriais de duas empresas – entre elas a Copene, da qual a Odebrecht era sócia. Só deixaram as fábricas depois que a Justiça determinou a reintegração de posse e os policiais cercaram a ocupação, cientes de que um confronto armado naqueles locais cheios de produtos químicos poderia causar uma tragédia. A greve continuou do lado de fora das fábricas e mobilizou não só as autoridades estaduais, mas o próprio ministro do Trabalho. Movidos pelo lema “recuar é perder”, os operários estavam irredutíveis. Além do evidente abalo que sempre representa para um patrão, a paralisação atrasava e encarecia os planos de diversificação do grupo Odebrecht, ancorados na formação de uma cadeia de produtores de insumos petroquímicos. A greve tinha que acabar o quanto antes.

Lula estava em alta. Líder surgido na grande greve dos metalúrgicos de São Bernardo, em 1978, angariara o respeito de intelectuais e políticos de muitos matizes ao comandar assembleias com mais de 80 mil trabalhadores e depois negociar com os patrões o fim da greve. Desde então, fundara o Partido dos Trabalhadores (em 1980), fora candidato ao governo do estado de São Paulo (em 1982), ajudara a organizar a campanha pelas eleições diretas (em 1984) e, na época da conversa de Emílio Odebrecht com Mário Covas, preparava sua candidatura a deputado federal para a Assembleia Nacional Constituinte. O peemedebista Covas conhecia bem a força de Lula junto aos sindicatos. Os dois haviam trabalhado lado a lado na campanha de Fernando Henrique Cardoso para o Senado, em 1978 (sem votos suficientes para assumir a vaga, ele se tornou suplente). Pensando em ajudar Emílio Odebrecht, de quem era próximo, o prefeito promoveu um encontro com o petista.

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