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    Autorretrato africano, de Ayrson Heráclito, feito em Dakar, no Senegal, em 2015: “Já participei de duas edições da Bienal de Veneza, mas nunca havia recebido o convite para a Bienal de São Paulo, o que me dava uma dorzinha”, diz o artista baiano em tom de desabafo CRÉDITO: AUTORRETRATO AFRICANO_AYRSON HERÁCLITO_DAKAR, 2015

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Ayrson Heráclito, o artista-sacerdote

Quem é o artista que no candomblé da nação Jeje Mahi é ogã sojatin e será um dos destaques da 35ª Bienal de São Paulo

Tatiane de Assis | Edição 203, Agosto 2023

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Vestidos inteiramente de branco e com guias – colares de miçangas coloridas com significado religioso –, o artista visual Ayrson Heráclito, o chef Joceval Santos e a orientadora socioeducativa Daniela Santos chegaram ao prédio da Estação Pinacoteca por volta de oito da manhã. Naquele dia 2 de março de 2022, o trio foi autorizado a realizar em uma parte do museu um ritual do candomblé chamado sacudimento. “Eles começaram no quinto andar, indo em direção ao térreo, fazendo a limpeza com folhas”, conta a curadora-chefe da Pinacoteca de São Paulo, Ana Maria Maia. “O Ayrson entrava nos lugares, explicava o que estava fazendo e perguntava aos funcionários se eles gostariam que aquela limpeza fosse feita ali. Em caso de recusa, ele se retirava.” Maia acompanhou todo o ritual coordenado por Heráclito, que no candomblé da nação Jeje Mahi é ogã sojatin, um sacerdote encarregado de ritos realizados em torno de árvores sagradas, que são chamadas àtinsás.

Com grandes folhas arranjadas em maços, como pequenas vassouras, Heráclito e seus amigos varreram os locais. Também recorreram à pemba, um giz que é raspado e soprado no ambiente, e defumadores, trazidos de Salvador. A produção do museu comprou os outros itens, como pratos de cerâmica, carvão e algodão. “Na área administrativa, no segundo andar, se formou uma fila de pessoas interessadas em que fosse feito o sacudimento nelas”, recorda a pesquisadora Horrana Santoz, que na época integrava o núcleo de curadoria do museu.

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