UOL - O melhor conteúdo
  • INGRESSO.COM
  • UOL HOST
  • PAGBANK
  • CURSOS
  • UOL PLAY
  • UOL ADS
  • BUSCA
  • BATE-PAPO
  • EMAIL
A Revista piauí jogos
Podcasts
  • Todos os podcasts
  • Foro de Teresina
  • ALEXANDRE
  • A Terra é redonda (mesmo)
  • Sequestro da Amarelinha
  • Maria vai com as outras
  • Luz no fim da quarentena
  • Retrato narrado
  • TOQVNQENPSSC
piauí recomenda
Dossiê piauí
  • O complexo_SUS
  • Marco Temporal
  • Má Alimentação à Brasileira
  • Pandora Papers
  • Arrabalde
  • Perfil
  • Cartas de Glasgow
  • Open Lux
  • Luanda Leaks
  • Debate piauí
  • Retrato Narrado
  • Implant Files
  • Eleições 2018
  • Anais das redes
  • Minhas casas, minha vida
  • Diz aí, mestre
  • Aqui mando eu
Especiais
  • Projeto Querino
  • Versos Negros
Eventos
  • Encontros piauí 2025
  • piauí na Flip
  • Encontros piauí 2024
  • Festival piauí 2023
  • Encontros piauí 2023
Herald Vídeos Lupa
Minha Conta
  • Meus dados
  • Artigos salvos
  • Logout
Faça seu login Assine
  • -
  • A Revista
  • piauí jogos
  • Podcasts
    • Todos os podcasts
    • Foro de Teresina
    • A Terra é redonda (mesmo)
    • Sequestro da Amarelinha
    • Maria vai com as outras
    • Luz no fim da quarentena
    • Retrato narrado
    • TOQVNQENPSSC
  • piauí recomenda
  • Dossiê piauí
    • O complexo_SUS
    • Marco Temporal
    • Má Alimentação à Brasileira
    • Pandora Papers
    • Arrabalde
    • Perfil
    • Cartas de Glasgow
    • Open Lux
    • Luanda Leaks
    • Debate piauí
    • Retrato Narrado
    • Implant Files
    • Eleições 2018
    • Anais das redes
    • Minhas casas, minha vida
    • Diz aí, mestre
    • Aqui mando eu
  • Especiais
    • Projeto Querino
    • Versos Negros
  • Eventos
    • Encontros piauí 2025
    • piauí na Flip
    • Encontros piauí 2024
    • Festival piauí 2023
    • Encontros piauí 2023
  • Herald
  • Vídeos
  • Lupa
  • Meus dados
  • Artigos salvos
  • Logout
  • Faça seu login
minha conta a revista fazer logout faça seu login assinaturas a revista
piauí jogos

    ILUSTRAÇÃO: NEGREIROS_2014

tipos brasileiros

O cineasta pernambucano

Cinema é ereção. É uma vontade, uma necessidade que emana das vísceras

Renato Terra | Edição 89, Fevereiro 2014

A+ A- A

O que me nutre é o sêmen dessa urbe anônima e brutal, repleta de pequenos burgueses que tremem de medo detrás das grades de seus condomínios de merda, enquanto tentam desviar os olhos das vísceras expostas desse Brasil que meu cinema denuncia e condena. Me chamo Pedro Ivo e o Recife entrou na minha corrente sanguínea como uma catuaba selvagem, expandindo a minha mente e aguçando a minha sensibilidade. O bom gosto me enoja. Não tenho medo de chafurdar no pântano e me lambuzar de sangue e bílis. O cinema da minha terra é tão autoral e criativo que inventei um novo gênero: a cineautobiografia visceral. Antecipo o roteiro de Soluço líquido, enquanto espero o resultado do Funcultura.

 

ATO I – O CANTO GUTURAL DE UM FREVO

Cena caseira filmada, em super-8, com os mesmos movimentos de câmera usados em Terra em Transe.

 

Uma mulher em trabalho de parto declama Uma Mulher Vestida de Sol, de Ariano Suassuna, aos berros, para se acalmar. O parto normal não caminha bem, mas o médico não sabe o motivo. O bebê não consegue sair. Decide fazer cesariana. Ao retirar a criança, o médico fica visceralmente estupefato.

MÉDICO: Descobri o que estava acontecendo. Seu filho nasceu de pau duro.

O pequeno cabra recebe a palmada e, em vez de chorar, entoa um trecho de O Barbeiro de Sevilha em ritmo de manguebeat.

 

MÉDICO: Parabéns, dona Armelinda, é um cineasta!

Dona Armelinda vai para o quarto e permanece estática. Num plano silencioso de quinze minutos, olha pela janela e reflete sobre as mudanças urbanísticas sofridas pelo Recife nesses últimos vinte anos.

MONTAGEM PARALELA

 

Corte seco: um tatuí é pisoteado no asfalto quente.

MONTAGEM PARALELA

Num puteiro, um latifundiário usa a primeira edição de Casa Grande & Senzala para seviciar uma puta. (Ponto de vista da lombada do livro.)

Inserção gratuita de entrevista de Lars von Trier, em dinamarquês sem legenda.

 

ATO II – A VALSA DA CARNE CRUA

Plano fechado de xoxota, imagem consagrada do cinema pernambucano. Fui eu, Pedro Ivo, que a incluí na Carta Visceral, nossa versão do Dogma 95, um conjunto de regras compilado pela Associação de Cineastas Viscerais de Boa Viagem.

A dita-cuja está com um baseado preso aos lábios. A brasa morre.

VAGINA (voz em off, sotaque pernambucano): Ô, Pedro Ivo, tu tem fogo?

Pedro Ivo, um jovem de 11 anos, abre o zíper.

PEDRO IVO: Serve?

A vagina não responde.

Magoado com o descaso, Pedro Ivo retalha o rosto com um canivete enferrujado, deixando uma cicatriz visceral que o acompanhará pelo resto da vida. Durante a cena, usa o próprio sangue para escrever na parede os nomes de John Cassavetes e Charles Mingus.

Pedro Ivo grita que o mar virará sertão até estourar cinco cordas vocais. Veste então uma camisa vermelha estampada com o rosto de Apichatpong Weerasethakul, ajeita o cabelo na boina cubana e, com um gesto visceral, pega o baseado, bate a porta e sai para desafiar o mundo. Está com uma ereção.

 

ATO III – EROS CICATRIZANTE

Bar Central. Cercado por críticos e donos de cineclube, Pedro Ivo, agora com 20 anos, bebe um coquetel de Natu Nobilis com benzina. Está com uma ereção. Quem o serve é uma garçonete sem calcinha com sotaque levemente francês.

CINECLUBISTA: Pedro Ivo, viste Tropa de Elite 2?

PEDRO IVO: Mais um desbunde de um bacana classe média que adora pobreza em contraluz. Coisa de caboclo que quer ser Hollywood, né, velho?

CINECLUBISTA: E O Palhaço?

CRÍTICO: Sentimentalismo burguês mascarado de filme de arte. Filme-anestesia, filme-Valium, filme-band-aid. Onde estão as entranhas, velho? O soco, o murro, o vômito?

Pedro Ivo vomita em cima do crítico.

CRÍTICO: Obrigado, velho.

CINECLUBISTA: O Cheiro do Ralo?

PEDRO IVO: O pior do lote. Estética radical chique, fingindo estar sob o cabresto de Tânatos quando não passa de angústia cheirosinha. Um Bukowski de convento carmelita. Cinema é ereção, cacete. É uma vontade, uma necessidade. Glauber dizia que o cineasta verborrágico tem de estar no topo da cadeia alimentar de um povo. É um processo de seleção natural que Darwin descreveu a 24 quadros por segundo. Recife une o talento de Florença à tecnologia do Vale do Silício.

Os amigos fazem um brinde – “Foda-se o eixo Rio–São Paulo!”. Em seguida, pedem uma porção de coração de galinha. As aves são trazidas vivas e têm seus corações arrancados à mão diante de fregueses pequeno-burgueses.

Olhos pulando do rosto aterrorizado das galinhas para a bunda carnuda da garçonete, Pedro Ivo tem uma epifania e decide fazer seu primeiro filme.

 

ATO IV – A NOITE DA VAGINA LOUCA

Com a verba arrecadada com a rifa de suas vísceras, Pedro Ivo compra um DKV Vemag e viaja pelo interior do estado com uma câmera na mão e centenas de ideias na cabeça. Sem gasolina, abastece o carro misturando esterco com sua testosterona. No trajeto, descobre as entranhas do Brasil profundo. Há muita prostituição pelo caminho. Num ambiente eivado de miséria e prazer carnal, Pedro Ivo abandona todo resquício de moral burguesa e se envolve sexualmente com um liquidificador Arno, ao qual chama de “minha cabrita”. Na bem-aventurança que se segue ao coito, Pedro Ivo ouve uma batida de maracatu e, num milagre, é recompensado com a devolução de suas vísceras.

Ao retornar ao Recife, Pedro Ivo se depara com uma cena dantesca: uma placa na porta do cinema da Fundação Joaquim Nabuco anuncia que o local será demolido para dar lugar a um edifício projetado por Hans Donner com fachada de Romero Britto.

Irandhir Santos, Hermila Guedes, Dira Paes, Matheus Nachtergaele, João Miguel, Leona Cavalli e Chico Diaz se chicoteiam em torno do edifício. Pedro Ivo lidera um levante para ocupar a Fundação, no qual todos os invasores usam máscaras de Falconetti em A Paixão de Joana D’Arc, de Dreyer.

Preso e torturado pela polícia de Eduardo Campos, Pedro Ivo termina seus dias crucificado no alto de uma árida colina em Garanhuns. A seus pés, brota um pé de maconha.

Corte para preto e legenda: FINAL, PORRA.

Renato Terra
Renato Terra

É colunista da Folha de S.Paulo e diretor de Narciso em Férias e Uma Noite em 67. Publicou Diário da Dilma (Companhia das Letras)

Leia Mais

tipos brasileiros

O Humor-do-Mercado

Isenção de IR para acomodados? Paciência tem limite

30 nov 2024_09h12
tipos brasileiros

O homem que falava lavajatês

O ministro Romualdo Neto reinventou a sintaxe

30 maio 2016_19h57
tipos brasileiros

O vira-casaca

Minha chama revolucionária sucumbiu diante do hino a capela

30 jun 2014_11h39
PIAUI_226
  • NA REVISTA
  • Edição do Mês
  • Esquinas
  • Cartuns
  • RÁDIO PIAUÍ
  • Foro de Teresina
  • A Terra é redonda (mesmo)
  • Maria vai com as outras
  • Luz no fim da quarentena
  • Retrato narrado
  • TOQVNQENPSSC
  • ESPECIAIS
  • Eleições 2022
  • má alimentação à brasileira
  • Pandora Papers
  • Arrabalde
  • Igualdades
  • Open Lux
  • Luanda Leaks
  • Debate piauí
  • Retrato Narrado – Extras
  • Implant Files
  • Anais das redes
  • Minhas casas, minha vida
  • Diz aí, mestre
  • Aqui mando eu
  • HERALD
  • QUESTÕES CINEMATOGRÁFICAS
  • EVENTOS
  • AGÊNCIA LUPA
  • EXPEDIENTE
  • QUEM FAZ
  • MANUAL DE REDAÇÃO
  • TERMOS DE USO
  • POLÍTICA DE PRIVACIDADE
  • In English
    En Español
  • Login
  • Anuncie
  • Fale conosco
  • Assine
Siga-nos

WhatsApp – SAC: [11] 3584 9200
Renovação: 0800 775 2112
Segunda a sexta, 9h às 17h30