As baterias da Operação Lava Jato e do "Partido da Justiça" tendem a atirar muito mais numa determinada direção do que em outra, o que pode produzir um desequilíbrio democrático ILUSTRAÇÃO: KLEBER SALES_2015
O lulismo nas cordas
Depois de uma década virtuosa, marcha rooseveltiana perde o rumo e chega ao final de 2015 perto do colapso
André Singer | Edição 111, Dezembro 2015
Nestas mesmas páginas (“O lulismo e seu futuro”, piauí_49, outubro 2010), às vésperas da primeira eleição da presidente Dilma Rousseff, sugeri comparar o ciclo lulista ao do New Deal, articulado por Franklin Delano Roosevelt a partir de 1933 e vigente, de algum modo, nos Estados Unidos até por volta de 1968. Nos meses que precederam a eleição de 2010, circulara um livro do Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman (A Consciência de um Liberal) com relato inspirador de aspectos da experiência norte-americana. Por cerca de três décadas, o sucesso rooseveltiano determinou que houvesse emprego para a maioria e aumentos salariais constantes. A promoção da igualdade levara grande parte dos habitantes “a uma vida material reconhecidamente decente e similar”. Em 1966, 80% da população norte-americana, por exemplo, tinha seguro-saúde, porcentagem que era de apenas 30% ao final da Segunda Guerra.
Não imaginei que o processo inaugurado por Luiz Inácio Lula da Silva fosse produzir efeitos concentrados. Quem tiver a paciência de consultar Os Sentidos do Lulismo,[1] na versão original uma tese de livre-docência escrita no começo de 2011, verá que chamo de reformismo fraco o estilo homeopático de mudanças propiciado pelo ex-metalúrgico. Aplicado a país de desigualdades abissais como o Brasil, não teria o resultado sintético visto nos Estados Unidos. Mas se prosseguisse pelo tempo dilatado dos realinhamentos eleitorais norte-americanos, poderia, ao final de algumas décadas, resultar na integração de parte significativa do subproletariado brasileiro ao estágio minimamente civilizado que faixas intermediárias tinham alcançado, deixando para trás o problema fundante da inorganicidade de setor substantivo da sociedade brasileira. O subproletariado é aquela fração da classe trabalhadora – nada a ver com o lumpesinato – que está aquém das condições mínimas de renda e direitos (carteira de trabalho, por exemplo) que lhe permitiriam participar da luta de classes. Dito de maneira ampla, o subproletariado brasileiro abarca o vasto contingente que labuta na informalidade com rendimentos familiares mensais abaixo de dois salários mínimos.
Reportagens apuradas com tempo largo e escritas com zelo para quem gosta de ler: piauí, dona do próprio nariz
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