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    Ministro Alexandre de Moraes na sessão de abertura do ano Judiciário, que ocorreu no plenário reconstituído após o 8 de janeiro Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF

questões jurídico-políticas

Moraes arquiva inquérito contra empresários acusados de defender golpe de Estado no WhatsApp

Dos oito participantes do grupo de conversas, só dois continuam sendo investigados pelo STF: Meyer Nigri, fundador da construtora Tecnisa, e Luciano Hang, o “Véio da Havan”

Thais Bilenky | 21 ago 2023_19h45
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Exatamente um ano atrás, em uma de suas decisões mais contestadas, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes abriu investigação contra oito empresários bolsonaristas que, num grupo privado de WhatsApp, atacavam o STF, espalhavam desinformação sobre as urnas eletrônicas e, em mensagens mais inflamadas, defendiam um golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder. O inquérito aberto por Moraes – assim como a operação de busca e apreensão contra os empresários e a decisão de congelar suas contas bancárias – foram baseados somente em prints dessas conversas, publicados pelo portal Metrópoles.

Hoje, numa decisão sigilosa obtida pela piauí, Moraes arquivou o inquérito contra seis dos oito empresários que participavam do grupo de WhatsApp. Os dois que continuam sob investigação são Meyer Nigri, fundador da gigante do setor imobiliário Tecnisa, e Luciano Hang, o estridente dono das lojas Havan. O quarto episódio do podcast ALEXANDRE, publicado nesta segunda-feira (21), trata justamente desse inquérito e de sua repercussão.

Na decisão de hoje, Moraes manda encerrar a investigação sobre Afrânio Barreira Filho (dono da rede de restaurantes Coco Bambu), José Isaac Peres (dono da rede de shoppings Multiplan), José Koury Junior (dono do shopping Barra World, no Rio de Janeiro), Ivan Wrobel (da construtora W3 Engenharia), Marco Aurélio Raymundo (dono da marca de roupas Mormaii) e Luiz André Tissot (do grupo Sierra, empresa gaúcha especializada em vender imóveis de luxo). O ministro afirmou que, no caso desses empresários, “a investigação carece de elementos indiciários mínimos, restando patente a ausência de justa causa para a sua continuidade”. Também disse que, “embora anuíssem com as notícias falsas, [eles] não passaram dos limites da manifestação interna no referido grupo, sem a exteriorização capaz de causar influência em terceiros como formadores de opinião”.

Um ano atrás, faltando poucas semanas para a eleição, Moraes justificou o inquérito com base na suspeita de que os empresários estariam financiando atos antidemocráticos no Sete de Setembro. Numa das conversas obtidas pelo Metrópoles, Marco Aurélio Raymundo, agora excluído da investigação, dizia, por exemplo: “O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está. Estratégia top e o palco será o Rio. A cidade ícone brasileira no exterior. Vai deixar muito claro.”

Koury Junior, do shopping Barra World, afirmou, em outro momento da conversa: “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”. Ao que Tissot, do grupo Sierra, respondeu: “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo”. Ambos deixam de ser investigados pelo STF a partir desta segunda-feira (21).

Meyer Nigri e Luciano Hang não tiveram a mesma sorte. Na decisão, Moraes alega que Hang não informou a senha de seu celular (obtido na operação de busca e apreensão) e, por isso, a investigação a seu respeito ainda não pode ser encerrada. Quanto à Nigri, o ministro diz que a investigação da PF confirmou a existência de vínculo entre o empresário e Bolsonaro – “inclusive com a finalidade de disseminação de várias notícias falsas e atentatórias à democracia e ao Estado Democrático de Direito, utilizando-se do mesmo modo de agir da associação especializada investigada no inquérito das milícias digitais”. 

A investigação da PF revelou que Nigri interagia com um contato salvo em sua agenda telefônica como “PR Bolsonaro 8”. PR, como os investigadores estão cansados de saber, é uma abreviação de “presidente da República” comumente usada por interlocutores do ex-presidente. “Ou seja, a pessoa associada ao contato [PR Bolsonaro 8] enviou ao investigado Meyer Nigri as mensagens com conteúdo não lastreado ou conhecidamente falso (fake news), atacando integrantes das instituições públicas, especialmente ministros do STF, desacreditando o processo eleitoral brasileiro”, relataram os agentes da PF. “Em seguida, após receber as mensagens em chat privado, Meyer Nigri publicou o conteúdo ilícito no grupo de Whatsapp ‘Empresários e Política’. Inclusive Nigri avisa ao interlocutor ‘PR Bolsonaro 8’ que uma das mensagens falsas foi repassada a vários grupos.”

Nas conversas obtidas pelo Metrópoles, Nigri aparece encaminhando mensagens de cunho golpista, como “o STF será o responsável por uma guerra civil no Brasil” e “esse desserviço à democracia dos 3 ministros do TSE/STF faz somente aumentar a desconfiança de fraudes preparadas por ocasião das eleições”.

Advogado de Nigri, Alberto Toron afirma que, quando seu cliente foi ouvido pela PF, “ele claramente falou que recebeu mensagens, que colocou em outro grupo, mas não quer dizer que anuísse com seu teor”. O advogado acrescenta que Nigri “não tinha conta em rede social nenhuma pra fazer divulgação em massa, de modo que a ideia é sem sentido. Agora, quer continuar investigando, deixa investigar. Vamos aguardar sem problema nenhum. Não me parece justa, mas a gente respeita a decisão do ministro.”

piauí procurou Luciano Hang, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para eventuais manifestações.

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