O Brasil nunca teve tantos médicos quanto hoje. Em vinte anos, o número de médicos por habitante dobrou, atingindo um patamar semelhante ao de países como Japão e Coreia do Sul – mas ainda distante de outros como a Alemanha. É uma boa notícia. Por trás desses números, contudo, ainda há uma enorme desigualdade regional. No Maranhão, por exemplo, a proporção de médicos por habitante equivale, hoje, à do Brasil de 1990. A quantidade de médicos nas capitais é catorze vezes a de cidades do interior, proporcionalmente à população. O =igualdades mostra, com dados, essas discrepâncias.
Entre 2000 e 2023, a proporção de médicos por habitantes dobrou. No começo do milênio havia um médico para 771 habitantes (eram 219,9 mil médicos, ao todo). Em 2023, a proporção foi de um para 383 habitantes (562,2 mil médicos). O número de profissionais mais do que dobrou, enquanto a população do país cresceu cerca de 27% nesse período. A Associação Médica Brasileira prevê que em 2025 haverá um médico para 343 habitantes.
Com 2,6 médicos a cada mil habitantes, o Brasil tem hoje um índice similar ao de países como Coreia do Sul (2,51), Japão (2,60) e Estados Unidos (2,64). Mas ainda passa longe da Alemanha (4,53), um dos países mais bem colocados do ranking.
O Maranhão é um dos estados mais afetados pela distribuição desigual de médicos. Enquanto a média brasileira é de um médico para 383 habitantes, no Maranhão ela é de um para 818 habitantes. O estado se equipara ao Brasil de 33 anos atrás, quando a média nacional era de um médico por 807 habitantes.
A proporção de médicos por habitante nas capitais brasileiras é 14 vezes a de cidades pequenas. Nas capitais, há um médico para 163 pessoas; nas cidades de até 10 mil habitantes, há um médico para 2.257 pessoas. A disparidade é mais acentuada na região Sul, onde as capitais têm um médico para 111 habitantes, enquanto as cidades do interior tem um para 1.052 habitantes.
Até 2010, o número de homens cadastrados todo ano no Conselho Federal de Medicina (CFM) era superior ao de mulheres. Desde então, elas são maioria. No primeiro ano do levantamento, 1990, entraram 5.470 homens e 3.990 mulheres – isto é, a cada 10 novos médicos no Brasil, 4 eram mulheres. Em 2022, entraram 16.539 homens e 23.023 mulheres, quase 6.500 médicas a mais. Agora, portanto, a cada 10 novos médicos, 6 eram mulheres.
A desigualdade regional ganha outra dimensão quando se leva em conta a divisão entre médicos generalistas e especialistas. Nas capitais, há um especialista para cada 298 habitantes; nas demais cidades, a proporção é de um para 1.270.
O número de alunos cursando o primeiro ano de medicina teve um crescimento de 143% em dez anos. Em 2010, havia 16,8 mil brasileiros recém-ingressados em faculdades de medicina; em 2020, eram 40,9 mil. A escalada do número de estudantes acompanha a abertura de cursos de graduação. Em 2010 eram 181 cursos, que saltaram para 350 em 2020. Apesar do aumento de vagas, o perfil do estudante de medicina é o mesmo desde 2010: branco, do gênero feminino, com idade entre 19 e 24 anos, que faz a graduação em instituições privadas e também cursou o ensino médio em escolas particulares.
É estagiária de jornalismo na piauí
É designer e diretora do estúdio BuonoDisegno