Nem pacheco, nem vira-lata
Desde 1998 as Copas do Mundo passaram a ter 32 participantes, e a verdade é que não existem dez grandes seleções de futebol no planeta. Por uma questão de respeito, fiquemos com as oito campeãs – apesar das merecidas dúvidas que recaem sobre Inglaterra e França, vencedoras somente em casa, e da constatação de que o futebol uruguaio vive exclusivamente do passado. (Toda vez que a gente elogia demais a raça, a fibra e o amor à camisa, podem crer que ali falta futebol. Com a seleção uruguaia tem sido assim há tempos.) Entretanto, em nome da história e da frieza dos resultados, deixemos uruguaios, franceses e ingleses na tropa de elite, convidemos a fazer parte dela, por justiça, os holandeses, e acabou. Nove.
Desde 1998 as Copas do Mundo passaram a ter 32 participantes, e a verdade é que não existem dez grandes seleções de futebol no planeta. Por uma questão de respeito, fiquemos com as oito campeãs – apesar das merecidas dúvidas que recaem sobre Inglaterra e França, vencedoras somente em casa, e da constatação de que o futebol uruguaio vive exclusivamente do passado. (Toda vez que a gente elogia demais a raça, a fibra e o amor à camisa, podem crer que ali falta futebol. Com a seleção uruguaia tem sido assim há tempos.) Entretanto, em nome da história e da frieza dos resultados, deixemos uruguaios, franceses e ingleses na tropa de elite, convidemos a fazer parte dela, por justiça, os holandeses, e acabou. Nove.
Não vou citar todas as zebras para não encher a paciência do eleitorado, mas, desde que a Copa passou a ser disputada no formato semelhante ao atual, tivemos seleções que não pertencem ao Grupo dos Nove em quase todas as semifinais. Quer dizer: se o início da ótima Copa de 2014 foi pródigo em surpresas, a partir de agora temos em campo a lógica dos mais fortes.
Por outro lado, é curioso como variam, de jogo para jogo, nossos humores e expectativas quanto a cada seleção. Chegamos a considerar o Uruguai o xodó da vovó. Conhecemos a melhor Colômbia de todos os tempos. A geração de ouro da Bélgica. Mais um pouco e estaríamos enxergando na seleção chilena uma reedição da Holanda de 74. Todas devidamente abatidas.
Tenho a impressão de que falta equilíbrio e sensatez, tanto à nossa imprensa especializada quanto a nós, torcedores. A seleção da Alemanha não é tão fantástica quanto pareceu ser na goleada sobre Portugal, nem tão qualquer coisa quanto fez crer no empate com Gana. A Copa é, acima de tudo, parelha, o show da primeira rodada se transforma na decepção da segunda, a glória das oitavas vira sufoco nas quartas. Não tem mais bobo? Tem, só que os bobos somos nós, que embarcamos no imediatismo das análises.
Por falar em equilíbrio e sensatez, gostei muito de duas declarações do técnico da seleção argentina, Alejandro Sabella. Na primeira, após um dos jogos da fase de grupos, Sabella afirmou que “precisamos melhorar muito, a começar por mim”. Para nós, brasileiros, acostumados com treinadores de competência magnânima, jamais dispostos a aceitar críticas e absolutamente incapazes de errar, é prazeroso ouvir um técnico reconhecer que ele mesmo não está indo muito bem. Na segunda, Sabella garantiu que “os argentinos sempre pensam que são mais do que são. Às vezes isso é bom, às vezes isso é ruim.” E arrematou: “quando era menino, sempre escutava que éramos os melhores do mundo, e nunca havíamos vencido uma Copa.”
Para alguns dos nossos comentaristas, somos imbatíveis; para outros, não temos chance. Nem uma coisa, nem outra. Das oito seleções que chegaram às quartas de final, Colômbia, Costa Rica e Bélgica não tinham como pensar em título. Das quatro que vieram até as semi, qualquer uma pode beliscar o caneco. É por isso que, entre o complexo de vira-lata e o pachequismo desmedido, recomendo bom senso. Além de, entre uma cerveja e outra, generosas doses de suco de maracujá.
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