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Nossos técnicos estão na zona de conforto

De vez em quando a gente dá uma empinada no nariz, faz pose de cidadão civilizado, lembra dos 15 anos de Arsène Wenger à frente do Arsenal ou dos 25 em que Alex Ferguson dirigiu o Manchester United, e passa a europeicamente condenar a troca de técnicos. Claro que mudar o treinador a cada duas semanas não funciona, mas torná-lo vitalício também me parece temerário.

Esta semana, dois dos grandes clubes brasileiros demitiram seus técnicos. Antes do Jorginho despencar no Flamengo, Muricy já tinha dançado no Santos. E com ele também devem dançar cerca de 10% do que o clube pôs no bolso com a venda do Neymar.

| 06 jun 2013_17h17
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De vez em quando a gente dá uma empinada no nariz, faz pose de cidadão civilizado, lembra dos 15 anos de Arsène Wenger à frente do Arsenal ou dos 25 em que Alex Ferguson dirigiu o Manchester United, e passa a europeicamente condenar a troca de técnicos. Claro que mudar o treinador a cada duas semanas não funciona, mas torná-lo vitalício também me parece temerário.

Esta semana, dois dos grandes clubes brasileiros demitiram seus técnicos. Antes do Jorginho despencar no Flamengo, Muricy já tinha dançado no Santos. E com ele também devem dançar cerca de 10% do que o clube pôs no bolso com a venda do Neymar.

Atolado até o pescoço – não faz marola, não faz marola –, o Flamengo ainda precisa pagar o que deve a Vanderlei Luxemburgo, Joel Santana, Dorival Jr., agora Jorginho, e por aí vai. A dívida com Dorival é de 3,2 milhões de reais. E assim a vida flui. Muricy ficou aborrecido – com razão – por ter sido demitido pelo telefone, e ameaça não dar mole na cobrança da multa. Algo em torno de 4 milhões de reais.

Os clubes brasileiros se orgulham de estar se modernizando, com os rodrigos caetanos, os paulos pelaipes, os eduardos malufs da vida, mas continuam celebrando contratos inaceitáveis, onde os treinadores se abstêm de riscos e não têm compromisso com resultados. Nossos técnicos reclamam da pressão, dos jornalistas que não entendem patavina de bola, da torcida que compra o ingresso para chamá-lo de burro, mas em termos financeiros eles trabalham numa zona de conforto injustificável.

Um exemplo exagerado, mas não impossível: o cara assina um contrato de dois anos, mas três meses depois continua sem time, sem escalação, sem padrão de jogo, é demitido e recebe por todos os 21 meses seguintes. Ok, erramos ao usar a palavra multa, quando na verdade se trata de quebra de contrato e contratos existem para ser cumpridos. Mas isso é mais um detalhezinho no caótico modo de gestão dos nossos clubes.

Um dos técnicos cogitados para assumir o Flamengo é Renato Gaúcho. Não vamos discutir se tem ou não qualidade, se é ou não um bom nome. Mas, já que Renato está há tanto tempo no desvio, faz algum sentido o Flamengo assinar um contrato de dois anos, sobretudo nos padrões que costumam caracterizar os salários dos nossos treinadores? Porque, aí, acertando ou não, dedicando-se ou não, fazendo ou não um bom trabalho, Renato passa a contar com dois anos de grana garantida. Vou propor isso aqui no meu trabalho.

Por que os moderníssimos gestores dos nossos clubes não pensam em contratos mais curtos, com salários menos indecentes e bônus pelos resultados? Ganhou o Brasileirão? Entope a conta bancária do cara. Venceu a Libertadores? Dá o Taj Mahal para ele. Mas se fez o time jogar do jeito que vêm jogando o Flamengo e o Santos, um mês de aviso prévio, férias proporcionais e multa de quarenta por cento sobre o saldo do FGTS.

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