O centrão de Lula, a popcorn e o centrão da CBF
Semanalmente, os apresentadores Fernando Barros e Silva, Ana Clara Costa e Celso Rocha de Barros mencionam as principais leituras que fundamentaram suas análises. Confira:
Conteúdos citados neste episódio:
Reportagem de Allan de Abreu, para a piauí, sobre a gestão de Ednaldo Rodrigues, presidente reeleito da CBF.
Reportagem de Daniela Pinheiro, para a piauí, sobre a tentativa de Ricardo Teixeira de ser presidente da FIFA em 2011
Primeira Reportagem Especial, de Breno Pires, para o Estadão, sobre o Orçamento Secreto.
Episódio do podcast Café da Manhã sobre a dificuldade de Lula de transformar indicadores econômicos positivos em popularidade.
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TRANSCRIÇÃO DE ÁUDIO:
Sonora: Rádio Piauí.
Fernando de Barros e Silva: Olá, sejam muito bem vindos ao Foro de Teresina, o podcast de política da revista Piauí.
Sonora: E o nosso ministro Juscelino é deputado federal. Acredita que vai provar a inocência dele e tudo isso que eu quero. Da mesma forma que o Brasil tem o direito de indicar um sucessor.
Fernando de Barros e Silva: Eu, Fernando de Barros e Silva, da minha casa em São Paulo, tenho a alegria de conversar com os meus amigos Ana Clara Costa e Celso Rocha de Barros, no Estúdio Rastro, no Rio de Janeiro. Olá Ana, bem vinda de volta! Estávamos com saudades de você.
Ana Clara Costa: Olá, Fernando. Oi, Celso! Oi, pessoal! Também estou feliz de estar de volta, apesar de ter estado muito feliz nas férias também.
Fernando de Barros e Silva: A gente viu.
Celso Rocha de Barros: Aí que é bom.
Fernando de Barros e Silva: Merecidas férias.
Sonora: Popcorn and ice cream sinners sentenced sentenced for coup attempt in Brazil
Fernando de Barros e Silva: Celso Casca de bala, Diga lá.
Celso Rocha de Barros: Fala aí, Fernando! Estamos aí, mais uma sexta feira.
Sonora: A eleita com 67 votos, a chapa composta pelos seguintes membros: Presidente Edinaldo Rodrigues Gomes.
Fernando de Barros e Silva: Mais uma sexta feira e no programa de hoje não seremos só nós três. A gente vai ter a presença do repórter da Piauí, Allan de Abreu, que vai falar de corrupção política e futebol no terceiro bloco. Obrigado pela presença. Seja muito bem vindo, Allan.
Allan de Abreu: Muito obrigado, Fernando. Prazer, Uma alegria estar aqui.
Fernando de Barros e Silva: Bom, vamos então, sem mais delongas aos assuntos da semana. Acabou o prazo de validade do Juscelino, que não é o Kubitschek. O ministro das Comunicações de Lula, deputado federal Juscelino Filho, cuja trajetória política poderia ser resumida pelo slogan 50 rolos em cinco.
Celso Rocha de Barros: Essa foi boa.
Fernando de Barros e Silva: Pediu demissão após ser denunciado pela Procuradoria Geral da República. O parlamentar do União Brasil, apadrinhado pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, tem um vasto currículo. Logo no início do governo, veio a público que Juscelino tinha usado verbas do orçamento secreto para beneficiar uma fazenda de sua família no interior do Maranhão, que é o seu estado. Os escândalos desde então se multiplicaram. Juscelino foi acusado de ocultar seu patrimônio da Justiça Eleitoral, de usar um avião da FAB e embolsar as diárias para assistir um leilão de cavalos, incluir o gerente de seu haras na folha de pagamentos da câmara e falsificar dados sobre os vôos de helicóptero custeados pelo fundo partidário. Em junho do ano passado, a Polícia Federal indiciou o nosso Kubitschek por desvio de emendas parlamentares, além de usar dinheiro público para asfaltar a rodovia até sua propriedade, o ministro foi acusado de cobrar propina e manter relações criminosas com o empreiteiro amigo que se valia de empresas de fachada. É este cidadão impoluto que agora se beneficiará da presunção da inocência para se defender. O provável substituto de Kubitscheck é o deputado Pedro Lucas Fernandes, também do União Brasil, também do Maranhão. Até segunda ordem, não consta que ele tenha cavalos que gostam de capim público. A gente vai aproveitar esse episódio para comentar também as dificuldades de Lula para concluir a sua reforma ministerial. No segundo bloco, Popcorn, Ice cream and cheese bread, que ninguém é de ferro nisso daí. Vamos falar do ato poliglota a favor da anistia na Avenida Paulista, no último domingo. Jair Bolsonaro vestia um colete à prova de balas para discursar diante de aproximadamente 45.000 patriotas e produziu os melhores memes da semana. Sete governadores, entre eles Romeu Zema, Ratinho Jr. Ronaldo Caiado e Tarcísio de Freitas participaram do Ato em Defesa dos Golpistas de 8 de janeiro. Todos estão de olho no espólio eleitoral do capitão, cujo futuro, tudo indica, será o xilindró. Nós vamos tratar também das últimas movimentações pela anistia na Câmara. Não tá easy for nobody a vida no Brasil, Celso. Por fim, no terceiro bloco, a gente recebe o nosso amigo Allan de Abreu, repórter da piauí, autor da matéria que abriu a caixa preta da atual gestão da CBF. A reportagem, que está na revista deste mês, detalha como a gestão de Ednaldo Rodrigues transformou a Confederação num resort de regalias e favorecimentos para cartolagem e apaniguados, incluindo aí salário de 215 mil reais para os presidentes das federações estaduais. O descalabro sortido patrocinado por Edinaldo, que poderia se chamar Juscelino, inclui um contrato milionário da CBF com o IDP, o instituto do ministro Gilmar Mendes, e com isso, apito o começo da partida. Come with us!
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Ana Clara, Vamos começar com você que os ouvintes estão com saudade. Eu falei do nosso Kubitscheck, mas você pode começar pela reforma ministerial porque já falei exageradamente desse personagem.
Ana Clara Costa: Bom, eu também tava com saudade. Ainda bem que fui brilhantemente substituída pela Marina Dias, minha amiga que arrasou aqui. Mas vamos lá. Bom, eu queria falar um pouco primeiro sobre essa reforma ministerial parada, porque eu acho que ela é um bom emblema do momento que a gente está. Eu me lembro de ter comentado aqui com vocês alguns meses atrás, talvez, que parte dessa reforma era para acomodar pleitos do centrão já com vistas a 2026. Não que seria um acordo já fechado para 2026 e que não pudesse ser modificado. Mas enfim, era uma certa corte ali que o governo faria aos partidos do centrão para tentar atraí los para o ano que vem. Por exemplo, o Kassab naquele momento estava criticando o governo publicamente e o entendimento ali era de que ele queria mais um ministério. O Lula queria acomodar o Arthur Lyra como ministro, o Rodrigo Pacheco. O que acontece é que essa queda de popularidade desses últimos meses e essa situação eleitoral embaralhada na direita sem uma definição sobre o substituto do Bolsonaro. O centrão está dividido né… para que caminho ir? E, na verdade, eles não têm nenhum interesse em decidir isso agora. E aconteceu que as discussões deram uma travada. Colaboraram para isso ainda, a pressão do Bolsonaro sobre o centrão em torno da anistia. Ou seja, eles estão com outro bode na sala para resolver. E essa confusão do Trump, que acabou também, de certa forma monopolizando um pouco a atenção do governo. E o fato é que, de tanto o Lula empurrar com a barriga essa reforma, as coisas foram se acomodando do jeito que elas estão. O Arthur Lyra queria manter uma posição de poder. Depois de sair da presidência da Câmara e Hugo Motta acabou encontrando uma solução para ele, que ele achou conveniente no caso, que era ser o relator da reforma do Imposto de Renda, algo que ele vai adorar fazer, porque é uma discussão que de certa forma, o reinsere no mundo da Faria Lima, dos banqueiros, dos empresários, lugar do dinheiro que é um lugar que ele adora. O Rodrigo Pacheco, que também era cogitado para entrar no governo, teria acertado com o Lula um outro desfecho, o de continuar no Senado e ser possível candidato ao governo de Minas com o apoio do Lula no ano que vem, o que de certa forma, coloca ele em rota de colisão ali com o Alexandre Silveira, que é ministro de Minas e Energia e também é de Minas e também é do PSD do Kassab, assim como o Rodrigo Pacheco e estava contando com esse apoio do Lula para o ano que vem. Tudo bem que a política é uma nuvem, mas, retrato de hoje, o Lula está mais interessado na figura do Rodrigo Pacheco para o governo, então ele não vai mais ser ministro. E aí tem essa questão, Fernando, que você arrematou ali logo de cara na entrada, que a gente não tem mais nem mais o que dizer sobre o Juscelino Filho depois de tudo aquilo que, enfim, acabou pedindo demissão. Então, ele não fazia parte da reforma ministerial, mas acabou saindo por outras razões e o cargo dele continuou com o Brasil do Maranhão. Então, assim, nada mudou ali. A correlação de forças, naquele caso, não mudou.
Fernando de Barros e Silva: Todos entendem muito. Tanto ele como o Pedro Lucas têm PhD em comunicações, entendem muito do assunto.
Ana Clara Costa: Exato. É assim. Só lembrando que um dos delitos dos quais ele é acusado e foi denunciado é o desvio de emendas por meio da Codevasf, que é a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Ou seja, é aquela estatal que não desenvolve nada no Vale do São Francisco, mas desenvolve tudo no bolso de muitos deputados do centrão sobretudo. É um reduto super conhecido do PP, do Progressistas. Também acho que vale a gente lembrar que a primeira reportagem sobre Orçamento Secreto que aconteceu em 2021, feita pelo Breno Pires, era justamente sobre desvios na Codevasf. Então a gente vê que nada mudou.
Fernando de Barros e Silva: Perfeito! Breno Pires, que na ocasião era do Estadão e é repórter da piauí.
Ana Clara Costa: Isso. Bom, voltando a hoje, o sentimento que se vê no governo é de que houve momentos piores esse ano, como aquele momento do vídeo do Nicolas Ferreira e tal, mas que agora haveria alguma faísca de recuperação. Algumas pessoas com quem eu conversei essa semana falam que a melhora que o Datafolha mostrou na aprovação do Lula, que foi. Enfim, vou falar vocês não vai rir, hein gente? Porque o Datafolha mostra que as pessoas que aprovam o governo passaram de 25% para 29. Então assim não é um patamar para soltar fogos, claro.
Fernando de Barros e Silva: Mas é uma recuperação mesmo que foi tratada pela Folha como se fosse, estancou a queda ou estabilizou. Não é uma estabilização. Teve uma reação. Pode ser tímida.
Celso Rocha de Barros: Fora da margem.
Ana Clara Costa: Ainda é muito baixo…
Celso Rocha de Barros: Continua muito ruim, mas…
Ana Clara Costa: Pode indicar uma tendência. E é nisso que eles se apegam, sobretudo porque as pesquisas continuam mostrando o Lula vitorioso em relação a todos os candidatos competitivos, ou seja, que não estão inelegíveis em 2026, embora em cenários hipotéticos contra o Bolsonaro. Se ele pudesse ser candidato, no caso o Lula, teria piorado o seu desempenho e ficado empatado na margem de erro, como mostrou a pesquisa da Quaest. Na verdade, esse dado, não Datafolha. Eu queria, para finalizar, só destacar aqui que esse último Datafolha também mostrou um dado relevante de que, pela primeira vez, a maior parte dos entrevistados acha que a economia piorou. 55% das pessoas acham que piorou, que é um aumento de dez pontos em relação à pesquisa anterior. E aí a gente chega naquela encruzilhada que a gente já falou tanto aqui, né? A gente está com o PIB crescendo, o desemprego em mínima histórica, a inflação, embora mais alta do que já esteve, já esteve muito pior alguns poucos anos atrás. Então, assim, você tem indicadores positivos que não melhoram a sensação de bem estar das pessoas. Na verdade, essa sensação só piora. Muita gente se questiona se só a Selic e o dólar que deveriam levar toda a culpa ou tem mais coisa aí… E eu acho que vale a gente mencionar aqui um estudo recente feito pelo economista Nelson Marconi, da FGV, e que eu acho que ajuda a jogar um pouco de luz sobre algumas coisas. E eu queria falar aqui muito brevemente, antes de encerrar, os nossos colegas do Café da Manhã, da Folha, fizeram um episódio sobre isso na semana passada, mencionando justamente uma reportagem da Folha sobre esse estudo. Mas, em linhas gerais, ele mostra que primeiro, o emprego que tem sido criado é majoritariamente pior. Entre esses empregos mais precarizados, o crescimento da renda foi praticamente o mesmo que o crescimento da inflação. Ou seja, ficou elas por elas. Nos 12 anos que essa pesquisa engloba, que ela foi feita entre 2012 e 2024, ou seja, 12 anos, sem que a maioria das pessoas não tivesse a sensação de estar ganhando mais ou de ter melhorado de vida. E eles destacam alguns segmentos do mercado, por exemplo, profissionais da saúde, que na verdade tiveram perda de renda nesses 12 anos, enfermeiros, enfim, gente desse setor eo segmento que mais contratou nesses 12 anos que foi o comércio com 2,4 milhões de novas vagas, praticamente não teve variação nenhuma de renda. E isso também acontece em atividades da economia com alguma qualificação, como gente que trabalha na indústria, serviços administrativos, serviços técnicos, tudo isso ficou estagnado. Os únicos setores que tiveram aumento de renda para as pessoas foram de finanças, de serviços digitais e o agro. Todo o resto foi estagnação e queda. Então, embora realmente os números estejam bons, as pessoas estão há 12 anos na mesma e eu acho que as pessoas têm muito essa memória relacionada ao Lula, dos governos, dos primeiros governos Lula, de aumento da renda, do crédito, do consumo que muita gente passou a consumir nos governos dele. Então, quando isso não se reproduz agora, não chega nem perto disso gera essa frustração imensa que a gente está vendo nos números, né?
Fernando de Barros e Silva: Perfeito. Celso!
Celso Rocha de Barros: Olha só, já puxando essa questão do nível de emprego, qualidade, emprego, eu tenho a impressão que era isso era exatamente o que se podia esperar depois da reforma trabalhista. Era o desemprego ser menor, mas a qualidade do emprego cair, contratar fica mais barato, fica mais fácil… Não sei o que. Caiu o desemprego, mas era bem previsível desse ponto de vista.
Fernando de Barros e Silva: Herança do Temer, né?
Celso Rocha de Barros: Pois é. Cada um vai ter sua opinião sobre isso. Mas o que eu acho muito ruim é uma reforma trabalhista que é uma das coisas mais importantes que um governo pode fazer, ter passado do jeito que passou, passou por conchavo no Congresso sem nenhuma negociação, sem ouvir as centrais sindicais, etc. Mas enfim, eu concordo plenamente com o que a Ana falou, eu acho que o que está travando a reforma ministerial é a queda de popularidade, porque a gente já falou aqui algumas vezes, aideia dessa reforma ministerial não é só conseguir voto no Congresso, isso também, obviamente, é uma das questões. Mas assim, a Gleisi entrou lá para articulação política explicitamente com a missão de montar uma aliança para concorrer em 2026. Em alguns momentos até se falou em ampliar a frente ampla que elegeu o Lula em 2022. E isso com popularidade baixa, é muito difícil, porque o centrão vai para o lado que tiver com cara que vai ganhar, entendeu? Tem gente que estava nessa passeata aí pela anistia que se o Lula terminar com a popularidade alta esse ano, vai estar cantando o Lula lá, entendeu? Assim, não passarão, aquelas coisas todas. Então, assim, o Lula sabe como funciona o centrão e sabe que eles não vão apoiar quem eles acham que vai perder. Se você pegasse no começo desse ano, por exemplo, quando a gente achou que sairia a reforma ministerial, tava com cara que o Lula ia perder. O governo estava muito ruim. Então, para atrair esse pessoal aí, como o Fernando sempre gosta de dizer, ecumênico, como o Kassab, você tem que estar com perspectiva de poder. Você tem que estar pronto para ganhar. Então, eu acho que o Lula também tá adiando esse negócio para se a popularidade dele de fato voltar a ganhar alguma tração, ele poder atrair aliados maiores, aliados mais importantes, uns governadores mais de peso, se não os partidos de direita, pelo menos setores dos partidos de direita. Têm partidos que o objetivo do Lula claramente é conseguir que seja neutro em 2026, entendeu? Se ele conseguir que alguns desses partidos mais de direita não apoie ninguém oficialmente e aí cada um sai pescando um governador aqui, um governador ali, para o governo tá ótimo.
Fernando de Barros e Silva: E a gente já falou também, é uma coisa óbvia, o fato desses partidos estarem no governo, terem ministérios, não garante votação. União Brasil, se não me engano, são 59 deputados. Uma parte da bancada vota contra o governo. Na maioria das vezes. É uma situação complicada, adversa.
Celso Rocha de Barros: Pois é algo que a gente sempre falou aqui. Isso mudou, inclusive com essa tomada de poder do Congresso nos últimos dez anos, com esse aumento das emendas no orçamento, etc. Você oferecer um ministério para o partido, não tem mais o peso que tinha antigamente se o cara não ganhasse ministério, ele não tinha praticamente nada de dinheiro para gastar e agora tem muito dinheiro para gastar, entendeu? Basta ver o caso do nosso Juscelino aqui, entendeu? Esse caso Juscelino é interessante porque ele é absolutamente típico do que é a governança do orçamento brasileiro, pelo menos desde o Arthur Lira, mas provavelmente desde o Eduardo Cunha.
Ana Clara Costa: Provavelmente desde…
Celso Rocha de Barros: Não, é… Em um certo ponto, desde o do Mem de Sá, né? Sei lá. Mas claramente as emendas ganharam uma importância brutal ali depois de 2015 e as emendas são feitas sem nenhuma transparência. E isso é um negócio importantíssimo para você entender todas as questões políticas no Brasil. Então, se você vê o presidente da Câmara reclamando do STF porque, sei lá, está se metendo demais em política. O que ele está reclamando? Porque o STF está investigando as emendas do orçamento secreto. É isso que é o problema que incomoda os caras. É mais ou menos previsível que casos como esse do Juscelino entrem no centro do debate com o passar do tempo. A não ser que as investigações sejam realmente travadas na origem de maneira completamente brutal, o que é perfeitamente possível também. Mas assim, nesse cenário em que o Juscelino e os amigos dele têm uma grana preta para gastar sem fiscalização nenhuma e dane-se, para atrair o cara para apoiar o governo, não basta você dar um cargo de segundo escalão, um ministério para o chefe do partido, uma coisa assim… O cara já tem uma grana preta para gastar. Então, ou você entrega para ele um negócio grande e a perspectiva de continuar no poder ou ele não tem interesse, entendeu? É fácil para ele ficar fora do governo atualmente e a gente ainda nem sabe qual vai ser o resultado dessa nova dinâmica política aqui para o presidencialismo de coalizão. A gente não sabe se isso vai continuar funcionando. Se você pegar a literatura especializada sobre presidencialismo de coalizão dos anos 90 e 2000, o controle do governo sobre as emendas, o poder do governo de pagar ou não as emendas era considerado peça chave para o governo conseguir.
Fernando de Barros e Silva: Funcionar o negócio.
Celso Rocha de Barros: Exatamente. E outro dia, se não me engano, Tarcísio estava reclamando disso. Não foi só aquele evento Esfera do ano passado. No outro dia mais recente, ele tava reclamando disso também. Qualquer cara que queira ser presidente agora vai pegar um negócio muito mais difícil. Por isso que eu acho que o que interessa no momento é recuperar a popularidade do governo e ir esperando os aliados chegarem naturalmente, porque ele não tem mais aquela moeda de troca que ele tinha.
Fernando de Barros e Silva: Os cavalos do centrão estão satisfeitos, estão gordos com o capim que eles já estão recebendo. Então o Lula vai ter que ter muito capim para atrair esse povo. A gente encerra o primeiro bloco do programa por aqui. Fazemos um rápido intervalo. Na volta, vamos falar de Popcorn. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Estamos de volta, Celso. Vou começar com você. Você tinha falado nos programas atrás que se o ato da Paulista, esse segundo ato do bolsonarismo, fosse bastante grande, o jogo ia empatar, porque o primeiro tinha sido muito ruim. Foi grande, não foi tão grande. Eu queria as suas impressões em português, em princípio, mas você fica à vontade para explicitar aí a sua…
Celso Rocha de Barros: Beleza. Então, Fernando, se você pensar nessa passeata como se fosse um comício de político normal, ela é grande. Se fosse um cara concorrendo a eleição e faz um comício e vai 45.000 pessoas. Excelente. Agora não é disso que o Bolsonaro tá precisando. Ele tá precisando transmitir para as instituições que estão prestes a colocar ele na cadeia, que se ele for preso, vai haver um levante popular. Vai ver uma onda de indignação nacional contra a prisão dele, uma coisa assim. Então ele precisava, no mínimo, repetir o desempenho daquelas grandes passeatas que ele já fez. E ele não chegou nem perto disso. Então, o que eles queriam foi claramente um fracasso novamente para o cara que estava ali para fazer propaganda dele mesmop para os eleitores do Bolsonaro e ser candidato a deputado pode ter sido um sucesso, para o governador que foi ali puxar o saco dos caras, já vou falar deles em um minuto, pode ser um sucesso. Ele pode ter conseguido voto ali. Mas para o que o Jair queria, foi um fracasso retumbante. Os vendedores de popcorn e de ice cream na Paulista tiveram bem menos fregueses dessa vez do que nas outras passeatas do Bolsonaro. É bom lembrar que essa passeata não é por anistia. A jornalista Flávia Oliveira, referência para todos nós, deu a letra: é por impunidade. Esse é o termo certo. É muito diferente, por exemplo, da proposta de rever a dosimetria das penas do 8 de janeiro. Na revisão da dosimetria, fica estabelecido que os caras são culpados, que o que eles fizeram era crime, que houve uma tentativa de golpe de Estado, mas haveria um ajuste das penas na anistia que os caras estavam pedindo na Paulista. Todo mundo do 8 de janeiro fica perdoado, como se eles não tivessem feito nada de errado. Aquela história que o Bolsonaro passou a usar o termo “reféns” do 8 de janeiro, que é copiado do Trump, que falava os hostages do 6 de janeiro americano, como se eles fossem pessoas que não fizeram nada demais, sofreram uma injustiça brutal, o que é obviamente mentira. E assim, é óbvio que o Jair não se importa nem com o Popcorn nem com ice cream, mas sim com o condensed milk, que ele pretende continuar tomando em casa e não na cadeia, entendeu? Para quem não lembra, a reação inicial dos bolsonaristas quando o 8 de janeiro fracassou, foi dizer que era tudo petista infiltrado. Vocês lembram disso? Eles queriam pegar lá um general para dizer que ele que deixou os caras entrarem. Então, assim, para o Jair, o plano inicial dele era deixar esses caras todos apodrecerem na cadeia. Ele não tem a menor preocupação com o popcorn, com o ice cream e com a mulher do batom. Nada disso. Então por que ele está interessado nisso? É porque ele está querendo fazer uma coisa, que seria, realmente, mesmo o padrão de política brasileira… Seria impressionante. O projeto de anistia, como existe atualmente. Também anistia os crimes cometidos no processo que levou ao 8 de janeiro. Não é só uma anistia para os carinha que estavam lá quebrando vidraça, aquelas coisas, pintando estátua de batom, etc. Então, se a anistia sair, o Bolsonaro vai passar a dizer o exato oposto do que a defesa dele disse no Supremo. Ele vai dizer que tudo aquilo que ele fez é parte do processo que levou ao 8 de janeiro. O que a defesa dele no Supremo está dizendo agora? Não. O que o Bolsonaro fez aqui de falar com o general, questionar as urnas, isso não tem nada a ver com 8 de janeiro… Nem sei quando foi 8 de janeiro. Não sei o que aconteceu. Estava lá na Disney, vestido de Cinderela. Estava tranquilo. Se sair a anistia para todo mundo do 8 de janeiro, incluindo os atos preparatórios, etc. Ele vai ser o primeiro a ir na televisão falar “não, o 8 de janeiro quem fez fui eu, todo meu pessoal que estava lá porque eu mandei”, porque aí ele é anistiado. Então esse negócio de ficar falando de pipoqueira é tudo mutreta do Jair, entendeu? Já está se lixando para essas pessoas. Ele fuzilaria elas pessoalmente se tivesse a chance. Mas o que ele quer é basicamente uma brecha para ele entrar nessa anistia, entendeu? E aí é que tá também. Se a anistia sair, se o Congresso resolver aprovar esse negócio, o Supremo derruba. Isso aí, não tem a menor dúvida. Mas vai ser um desgaste institucional brutal. Vai dar margem para o Supremo sofrer uma nova onda de ataques dos bolsonaristas. Vai dar munição para os bolsonaristas irem lá no Trump dizer: “olha só, até o Congresso brasileiro aprovou uma anistia, mas o Supremo não aprovou”, que provavelmente é o plano dos bolsonaristas. Eu não acho que eles têm a expectativa que o Supremo vai deixar uma anistia passar, né? O Bolsonaro mesmo falou no ato da Paulista que espera uma solução vinda de fora. Que coisa… Brasil acima de tudo, já era amigo. Já acabou há muito tempo. Então, assim, no fundo, esses parlamentares do centrão que estão dando assinatura para pedido de urgência dos bolsonaristas por pedido de anistia, etc. E alguns deles depois dizem em particular que não, não vai votar a anistia, mas vai fazer uma urgência para botar em voto porque quer que o tal e tal bolsonarista deva a favor a ele lá no estado dele. O que eles estão fazendo é basicamente, novamente, deixar para o Supremo a conta de defender a democracia, porque no Congresso o pessoal é corrupto demais para fazer isso. Novamente, lembrando do orçamento secreto, foi isso que garantiu que o Bolsonaro não sofresse impeachment. Não teve impeachment porque o Bolsonaro comprou o Congresso com o orçamento secreto. Então, o Congresso sabia que o Bolsonaro é golpista, mas fingiu que não viu para continuar ganhando orçamento secreto e deixou a bomba na mão do STF. E aí cria todo esse discurso que na verdade o STF é um negócio ditatorial, que o Alexandre de Moraes sozinho detém um poder brutal. Não é nada disso. As outras instituições que foram covardes e deixaram a bomba em cima do cara e aparentemente no Congresso querendo fazer isso de novo, que é uma vergonha bizarra na cara. A gente acharia que pelo menos depois do 8 de Janeiro, quando os gabinetes dos caras foram vandalizados, etc, os caras tomariam vergonha na cara. Mas não. E, falando em falta de vergonha na cara, sete governadores de direita foram ao ato da Paulista para dizer que tentar matar o Lula, o Alckmin, o Alexandre de Moraes não é crime. Romeu Zema, Jorginho Mello, Tarcísio de Freitas, Ronaldo Caiado, Wilson Lima, Ratinho Jr., Mauro Mendes do União foram lá para basicamente dizer que tudo isso que a Polícia Federal documentou com Jair não é nada demais. Pode soltar os caras. Nada aconteceu aqui, nada para ver todo mundo circulando. É uma tremenda vergonha para o Brasil, entendeu? Porque alguns desses caras aqui provavelmente são extremistas mesmo, Mas a maioria é oportunista. São os caras que, em outro contexto, poderia ser PSDB. Antigamente o velho PFL, uma coisa assim. E agora se prestam esse papel rastejando pelo chão, disputando quem lambia com mais entusiasmo a baba golpista que o Jair Malafaia derrubava sobre o asfalto da Avenida Paulista.
Ana Clara Costa: Ai que nojo!
Celso Rocha de Barros: Eles foram lá para deixar claro que não considera que golpe de Estado é crime, que tentar matar seus adversários políticos de direita usando o Exército não é crime. Que estabelecer censura sobre a mídia não é crime, que fechar Congresso e STF não é crime. Eles podem estar dizendo para todo mundo “não fui ali prestar minha solidariedade ao Bolsonaro”, “fui ali por causa do popcorn, fui ali por causa do batom”… Mas não é nada disso. Deixa claro que eles não se importam com o fato de que houve uma tentativa de golpe de estado no Brasil, que por qualquer 6 ou 7% em pesquisa, quando eles quiserem ser candidato a presidente, eles vendem a democracia fácil, fácil. E isso é muito grave, porque a direita brasileira é fortíssima. E se a direita brasileira for essa porcaria, o Brasil tá ferrado. Só para lembrar que não precisa ser assim, o João Amoêdo, o cara que foi candidato a presidente pelo Partido Novo, tem tido uma conduta exemplar de crítica ao bolsonarismo desde o golpe de Estado. Ele é crítico da política econômica do Lula, que tem todo o direito de ser. Ele é um cara muito liberal, enfim, tem as ideias dele, tem todo o direito de ter as ideias dele. Mas ele já falou que não se arrepende de ter votado no Lula, porque crise econômica você resolve, mas o fim da democracia demora 20 anos. E agora ele foi lá no falecido Twitter novamente criticar os governadores por prestarem esse papel. Cara, o que os democratas estão pedindo da direita brasileira? Só isso. Você não precisa desistir de nada do seu programa. Você não precisa deixar de ser economicamente liberal. Você não precisa deixar de ser religioso, não precisa deixar nada disso. Você só precisa reconhecer que teve uma tentativa de golpe de estado no Brasil, que essas pessoas queriam cometer atos extremamente violentos por 20 anos e que as pessoas que tentaram fazer têm que ser presas. Se você conseguir fazer isso, maravilha! Bem vindo de volta ao debate. Entendeu? Vamos, vamos em frente, Vamos discutir o resto. Mas assim, isso que o Amoedo está fazendo é um mínimo que esses governadores não conseguem fazer.
Fernando de Barros e Silva: Perfeito. Ana Clara, o Celso acompanha até o Amoedo no falecido Twitter.
Ana Clara Costa: Eu queria destacar essa atitude rastejante do Ratinho Jr, especificamente, que é o governador do Paraná pelo PSD. Eu ouvi do Filipe Aníbal, que é um jornalista que está fazendo o perfil dele para o site da Piauí. Um episódio que me deixou consternada. O Felipe estava contando que recentemente o Ratinho recebeu o Bolsonaro e a cúpula do PL em Curitiba para um almoço. Recentemente, eu tô falando de sexta feira, dois dias antes do domingo, na Paulista. Foi um daqueles almoços com cara de acordos, sabe? Sobretudo porque o Ratinho quer se cacifar para essa candidatura presidencial que está diluída na direita. E o Bolsonaro, nessa visita que ele fez a Curitiba, sempre que ele foi questionado por jornalistas sobre o Ratinho Júnior como representante do bolsonarismo e etc, ele desconversou. Não quis responder. Durante o almoço, que foi na residência oficial do governador, tava o Valdemar Costa Neto, Sóstenes Cavalcante, tudo mais… Essas lideranças do PL. O Ratinho queria conversar com Bolsonaro justamente sobre a situação e tal. Estava muito interessado no que o Bolsonaro queria ou queria dizer. E o Bolsonaro, simplesmente, durante o almoço não quis conversar e pediu um quarto para dormir. Enfim, almoçou e foi dormir. Então, assim, o Ratinho Jr, que estava lá achando que ia receber o Bolsonaro e sair de lá com algum resquício, algum, não sei, algum sinal que o beneficiasse de alguma forma foi ignorado frontalmente pelo Bolsonaro e mesmo assim, dois dias depois lá estava ele na Paulista, naquele papelão, sendo que o Ratinho nunca foi um defensor público da tese da anistia, embora ele sempre se coloque como de direita.
Fernando de Barros e Silva: E apoiou o Bolsonaro.
Ana Clara Costa: Apoiou o Bolsonaro. Exato. Mas nessa pauta do 8 de janeiro ele sempre se esquivou de entrar nessa questão, até porque ele é de um partido que também não tem posição definida sobre isso, né?
Fernando de Barros e Silva: Ecumênico.
Ana Clara Costa: Ecumênico. Ele fez esse papelão e foi para Paulista depois de ter sido desprezado, humilhado pelo Bolsonaro poucos dias antes. O que é, aliás, pensei agora, uma característica até comum desses homens que gostam do Bolsonaro. O Bolsonaro gosta de humilhá-los. Assim, se pensar no Gustavo Bebiano, Julian Lemos, toda aquela corte masculina para o Bolsonaro, ele alimentava essa corte com base em humilhação e parece que continua. E os caras continuam gostando de apanhar. Agora, falando um pouco sobre essa questão da anistia, de como isso está avançando, eu queria falar algumas coisas que me chamaram a atenção nos dias que antecederam o domingo. Você via uma tentativa do bolsonarismo, na verdade, uma mudança de estratégia que era de tentar constranger Hugo Motta e os parlamentares para que fosse votada essa urgência da pauta da anistia no Congresso. E o PL veio ali com o rolo compressor dele, atropelando tudo, inventando que tinha maioria para aprovar e tal. Então você olhava o noticiário, você estava realmente acreditando que o negócio ia passar naquele dia, né? Impressionante. E aí eles começaram a ameaçar expor os nomes, as fotos de todos os parlamentares que não votassem a favor dessa urgência, além de colocar o Hugo Motta ali como alvo, como o cara que estava impedindo essa pauta que o Brasil defende, na visão deles, de prosperar. O que aconteceu? O centrão ficou indignado com essa estratégia do PL, de expô-lo, de tentar constrangê lo a qualquer coisa. E o PL teve que recuar. Eles retiraram o pedido de urgência. Aconteceu um movimento de recuo. Eu queria só lembrar que essa estratégia de expor e constranger quem não vota de acordo com seus interesses é uma estratégia muito recorrente e que foi usada pela primeira vez, segundo a minha memória, que pode estar falha, no impeachment da Dilma. O centrão fez muito isso naquela época. Todo mundo que estava propenso a votar contra o impeachment, eles começaram a divulgar os nomes, as fotos, o telefone dos gabinetes, o e-mail dos gabinetes, para que a população fosse atrás dessas pessoas insistir que deveriam votar a favor do impeachment. Isso eu tô falando de uma era pré Bolsonaro, tá? Tô falando de 2015, 2016. Então assim não era o Carlos Bolsonaro com uma horda de malucos, entendeu? Era o centrão, o Eliseu Padilha, que era quem estava coordenando isso, ele tinha uma planilha com os nomes de todo mundo e quem não estava disposto a votar pelo impeachment, ele passava o nome para o Kim Kataguiri do MBL, para eles comandarem toda um movimento ali de constrangimento nas redes. Então, assim, hoje eles não aceitaram ser alvo disso pelo Bolsonaro.
Celso Rocha de Barros: Isso é importante.
Ana Clara Costa: Então vale a gente mecionar. Quando é contra eles, eles passam a julgar de outra forma. Bom, acho que eu discordo do Celso um pouco em relação a essa questão do que aconteceu no domingo, de ter sido um dia furado para o Bolsonaro, porque essa pressão pela anistia que aconteceu e que tinha a presença, bem ou mal, de sete governadores de estados ultra populosos daquele domingo, tá ganhando corpo. Ela não tem força legislativa para passar, nesse momento, mas você começa a ver uma mudança de cenário e algumas movimentações. Por exemplo, o Hugo Motta, que quando assumiu como presidente da Câmara, tinha dito que não tinha o menor interesse em pautar isso, porque esse assunto era muito polêmico e ele queria pautas construtivas, pautas ligadas a economia, pautas que melhorassem o Brasil, etc. Ele agora está tentando costurar um acordo para tentar fazer com que o PL baixe um pouco a fervura. Então ele chegou a consultar o Lula sobre a possibilidade de haver um indulto para os golpistas que não vandalizaram. O Lula, obviamente, não topou. Achou indigna, inclusive, essa proposta.
Ana Clara Costa: Oi pessoal! Voltei aqui para fazer um pequeno complemento. Embora o presidente Lula inicialmente tenha rechaçado a idéia do Hugo Motta, na tarde de quinta feira, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, sinalizou que, há sim, a possibilidade de o governo discutir com o Congresso a redução de pena para quem participou do 8 de janeiro.
Ana Clara Costa: Mas você tem alguma nota ali se movimentando para tentar buscar um consenso sobre um assunto que até alguns meses ele não estava disposto a negociar, pelo menos aparentemente. Ou seja, essa pressão do PL que não se traduz nos números para provar isso na casa, ela se traduz em mudança de movimentação do presidente da Câmara. Eu acho que tem uma outra mudança que está acontecendo, que é no Supremo. O STF antes estava muito fechado com o Alexandre de Moraes. Claro que, à exceção dos ministros bolsonaristas, o André Mendonça e o Cassio Nunes Marques, mas agora você tem manifestações públicas de ministros divergindo em determinados pontos. O Cristiano Zanin já divergiu do Moraes em algumas penas e tem falado isso nos bastidores do Supremo. O Barroso já disse para alguns líderes do centrão que ele sente um certo incômodo com o tamanho das penas para determinadas pessoas, mas que ele também não ia bater de frente com o Alexandre de Moraes. E agora a gente tem o Fux, que no seu voto mais recente também abriu uma divergência, o que fez com que ele fosse inclusive citado pela Michelle Bolsonaro no discurso dela, né? No caso específico do Fux, eu até desconfio que ele tenha feito isso mais para ficar bem com a turma de aposentado do futevôlei lá do Leblon do que por convicção, né? Porque acho que a turma toda futevôlei devia estar no Rio de Janeiro, possivelmente. Mas o fato é que o apoio que o Moraes tinha, que era geral. Você já tá vendo uma conversa diferente. O Gilmar Mendes foi na GloboNews essa semana e demonstrou estar junto com o Alexandre de Moraes. E ele colocou um ponto que eu acho que a gente pode destacar, porque ele contraria muito essa tese dos bolsonaristas de que “ah, você tá deixando órfãos de pais vivos. São pais de família e mães de família que estão sendo presos”. E o Gilmar Mendes falou bom, beleza. Mas essas mães e pais de famílias tinham deixado os filhos em casa por sei lá quanto tempo para ficar acampado em quartel. Então, ali, naquele ponto, eles não estavam sendo pais ausentes, né? Mas aí, depois, agora que são presos.
Fernando de Barros e Silva: Exato. Esse argumento é uma demagogia sentimentalóide sentimental.
Celso Rocha de Barros: E tem algum crime que o cara seja absolvido se ele provar que é pai de família?
Fernando de Barros e Silva: Exato. O sujeito estuprou, mas é um grande jogador.
Celso Rocha de Barros: Pois é.
Ana Clara Costa: Mas no Supremo você tem um movimento de divergência acontecendo e, segundo as pessoas que eu ouvi, não significa que essa divergência seja… Existe um grupo que não acha que essas pessoas devam ser penalizadas ou existe um grupo que acha que anistia deve ser aprovado. Não é isso que está acontecendo no Supremo. Mas a questão das condenações já foi mais unânime. E por último, eu queria concluir falando especificamente do Tarcísio, que além de estar na Paulista no domingo, ele deu declarações na segunda feira dizendo que ele mesmo ia pressionar Hugo Motta para que houvesse uma solução em prol da anistia, que ele ia ligar para o Hugo Motta e tal. Se essa ligação aconteceu, ela não está na agenda. Eu tentei apurar. Ela pode ter acontecido extraoficialmente, mas até agora não há notícias de que essa ligação aconteceu. Mas eu acho que a posição do Tarcísio merece destaque, sobretudo porque eu também ouvi uma informação nesses últimos dias que me deixou surpresa porque ele, pela primeira vez, passou a conversar com pessoas sobre o nome que ele apoiaria para o governo de São Paulo. Ou seja, significa que não é o dele.
Celso Rocha de Barros: Vai ser candidato a presidente.
Ana Clara Costa: E que hoje esse nome seria do André do Prado, o deputado estadual do PL, que é presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Fernando de Barros e Silva: Vamos ver. Ainda tem muito jogo para ser jogado. Não tá easy! Eu encerro o segundo bloco do programa por aqui. Na volta, nós vamos falar de CBF. Já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, estamos de volta. Allan de Abreu, muito bem vindo ao Foro. A gente está muito feliz com a sua presença. A reportagem que você fez sobre a gestão título de cortesia, porque é um desgoverno total desse Ednaldo Rodrigues na CBF repercutiu muito. Tem um combo de escândalos, de descalabros, irregularidades e indecências que sua matéria levanta. Como é o assunto que o nosso ouvinte talvez não domine e nem todo mundo ainda leu a matéria, eu recomendo vivamente que leiam. Talvez valha a pena falar pelo caráter obsoleto do esquema de poder na CBF. O sujeito é eleito e ele foi reeleito recentemente pelas federações estaduais e pelos clubes, sendo que as federações estaduais têm peso três. Cada voto vale por três. Os clubes da Série A, peso dois e os clubes da Série B, peso um, não é isso? Nem na República Velha eles teriam coragem de fazer um negócio desse, Celso. Seria considerado obsoleto demais antes da Revolução de 30. Muito bem vindo, Allan.
Allan de Abreu: Bom, Fernando, em relação a esse sistema de votação da CBF em 2017, ele foi estabelecido dessa maneira por conta de uma mudança no estatuto. Obviamente, é uma estratégia malandra para impedir que os clubes se unam e consigam eleger o presidente. É um sistema feito para preservar o status quo. Sempre. O Ednaldo já vai para um segundo mandato depois de um período interino. Ele estará lá desde 2021, vai ficar até 2030.
Fernando de Barros e Silva: A despeito desses critérios, ele foi eleito por unanimidade com os votos de todos os clubes, né?
Allan de Abreu: Exato.
Fernando de Barros e Silva: O Ronaldo Fenômeno, que seria candidato por uma série de circunstâncias, pressões, desistiu da candidatura e o sujeito convocou a eleição e foi eleito por unanimidade.
Allan de Abreu: Sim, o Ednaldo. Ele tem essa característica dele, que é uma boa característica, de saber costurar apoio nos bastidores. E isso envolve, no caso dos presidentes de federações, um aumento de salário astronômico. Quando ele assume a CBF em 2021, os presidentes de federações ganhavam 50 mil reais mensais.
Fernando de Barros e Silva: Apenas.
Allan de Abreu: Atualmente, eles chegam a ganhar 215 mil reais mensais. No caso da CBF, você tem que considerar até o 16.º salário no final do ano e o salário é duplicado nos últimos meses até.
Fernando de Barros e Silva: Mari, queremos esse daí também 16.º, 215 mil reais mensais!
Ana Clara Costa: Não, não só o salário descomunal, mas também a CBF paga várias despesas pessoais desses presidente da Federação, como você mostra na sua reportagem. Despesa com avião, com hospedagem…
Allan de Abreu: Exato.
Ana Clara Costa: Isso vai além dos 200 e poucos…
Allan de Abreu: Exato. Além dos 215 mil motivos para votar no Ednaldo, no caso dos presidentes das federações…. Também esse é um outro fator. A gente traz um exemplo concreto disso. O presidente da Federação Amapaense de Futebol, Roberto Góes, ex-prefeito de Macapá, deputado estadual. Há um ano atrás, a mulher dele, a esposa dele, precisava passar por uma cirurgia em São Paulo, um evento obviamente não relacionado nem um pouco a futebol, a qualquer questão ligada ao futebol. Mas ele pede ajuda do Ednaldo para a CBF custear não só o voo de Macapá a São Paulo, onde a mulher passaria por cirurgia, mas também para a bebezinha dele, para babá, para a irmã, então, é uma loucura. Hotel cinco estrelas, hospedagem e tudo mais. É só um exemplo de tantos outros que acontece e aquilo é uma farra. Não tem controle nenhum, nenhum, nenhum.
Fernando de Barros e Silva: Celso, o que chamou a atenção na matéria do Allan?
Celso Rocha de Barros: É o que chama a atenção, sem dúvida, foi a promiscuidade com a política. Assim, um monte de gente que a gente deve ter comentado nos outros blocos aparecem em reportagens sobre CBF. Eu não sei se isso é normal, entendeu? Então, você tem a faculdade do Gilmar Mendes, você tem o Arthur Lira e todo mundo feliz da vida participando daquilo. E assim, eu acho meio bizarro que a gente trate como normal, né? Por que o cara consegue ganhar 200 paus por mês para entregar resultados sensacionais que a gente tem visto no futebol brasileiro? Porque eles sabem que futebol no Brasil é um fenômeno de massa e eles vão ter apoio de político para se bancar, para evitar a punição da FIFA, caso tenha investigação… Eles têm poder para pressionar meios de comunicação usando direito de transmissão. Enfim, você vê que a coisa vai muito fundo. A matéria é bem clara sobre isso, né?
Fernando de Barros e Silva: Allan, fala um pouco disso. Precisamos falar. Devemos falar do Instituto, do IDP, do Gilmar Mendes e do Arthur Lira.
Allan de Abreu: Sim, eu acho que elas estão no mesmo contexto, talvez, Fernando. Eu vou tentar resumir. Assim que o Edinaldo assumiu o cargo em 2021, o ex-presidente da Federação Alagoana de Futebol e atual vice presidente da CBF. É bom lembrar que a CBF não tem um só vice presidente. Tem oito vice presidentes. O Feijó, como ele é chamado, ele passa a fazer uma oposição cerrada ao Edinaldo. E aí ele se alia ao Lira. Conterrâneos, né? Arthur Lira, então presidente da Câmara, e eles aproveitam a CPI das apostas esportivas que em 2023 estava em andamento na Câmara e cujo foco eram inicialmente as bets e só que eles em determinado momento eles viram o foco para CBF, começam a bater na CBF, convocaram diretores da CBF, chegaram a convocar o Ednaldo, mas aí a CBF reagiu nos bastidores dessa CPI e conseguiram encerrar a CPI antes do depoimento do Ednaldo. E aí a gente está falando isso daí, em agosto de 23, mais ou menos. Então era uma situação que o Ednaldo estava apanhando muito do Gustavo Feijó, em parceria com o Arthur Lira. O Gustavo Feijó, também nos bastidores, se aliou ao Flávio Zveiter, que também havia sido diretor da CBF e havia rompido com o Ednaldo e partira para a oposição também. E em dezembro de 2023 vem uma liminar do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro destituindo o Edinaldo do posto, considerando que houve uma irregularidade na eleição dele em 22. Enfim. E aí é uma filigrana aí.
Ana Clara Costa: A família Zveiter é muito influente no Judiciário do Rio de Janeiro, vale lembrar.
Allan de Abreu: Justamente, o pai do Flávio, Luiz Zveiter, desembargador, tem uma influência. Isso é notório e público, praticamente. E aí o Ednaldo sai do poder. O grupo dele fica desesperado, começa a entrar com uma série de recursos nas cortes, tanto o STF quanto o STJ. Um dos recursos cai para o André Mendonça, ministro do STF. Ele nega a liminar para voltar o Ednaldo ao poder. STJ também nega liminar até que o último suspiro um recurso assim que o PC do B entra com uma ADPF, faz um triplo twist carpado jurídico que é difícil de entender até…
Fernando de Barros e Silva: Uma ADPF que é?
Allan de Abreu: Arguição de Descumprimento de Preceito fundamental. Esse recurso entra no STF, o ministro André Mendonça era prevento para julgar isso, porque ele já havia julgado uma outra liminar do PSD, outro partido também, que o Ednaldo, por meio do Otto Alencar, senador baiano, conterrâneo do Ednaldo, o PSD, presidente havia entrado com esse recurso que o André Mendonça negou. Aí eles acionam o PC do B para entrar com outro recurso e, enfim, o André Mendonça era prevento. Só que o Barroso, ministro Luiz Barroso, ele não encaminha esse segundo recurso para o André Mendonça, como prevê o regimento do STF. Ele determina a distribuição livre de distribuição e cai para Gilmar Mendes. A gente tá falando de dezembro de 2023. Naquela oportunidade, o IDP, cujo sócio é Gilmar Mendes, o filho dele, e o diretor Francisco Mendes. Uma pessoa que, pelo que apurei, aprecia muito futebol. O Gilmar Mendes também. Enfim, o IDP já tinha uma parceria com a CBF no CBF Academy, que é um braço um pouco entre aspas, acadêmico da CBF, para dar cursos para treinadores, enfim, a CBF havia terceirizado, então para o IDP essa parte com contrato. Portanto, naquela ocasião. Gilmar Mendes o natural seria ele declarar se suspeito para julgar aquele recurso, já que ele…
Fernando de Barros e Silva: Mas não tem nenhum interesse conflituoso aí, né?
Allan de Abreu: Pois é, mas ele não faz isso. Não só não faz, como dá uma liminar na virada de 2023 para 24 determinando a volta do Ednaldo ao poder. Como é que o Lira surge nessa história? Nesse um mês de dezembro de 2023 que o Edinaldo ficou fora do poder? Há uma articulação do Arthur Lira para que o Feijó fosse escolhido o novo presidente da CBF e ele convoca uma reunião em Brasília no escritório da advogada dele, Maria Claudia Bucchianeri. Dessa reunião, participam Artur Lira e Feijó, naturalmente o Flávio Zveiter e Reinaldo Carneiro Bastos, que é o presidente da Federação Paulista e que também tinha colocado o nome dele como um possível candidato naquela ocasião.
Fernando de Barros e Silva: Louco para ser presidente da CBF.
Allan de Abreu: Exato. Nessa reunião, enfim, o Arthur e o Feijó tentam impor a candidatura do Feijó para os outros dois, Flávio e Carneiro Bastos. Esses dois não aceitam isso e termina no impasse. O Ednaldo também estava lá, é bom que se diga. O Ednaldo enfraquecido, até aceitando a questão do Feijó como um sucessor dele naquela ocasião. Vem depois então, a liminar do Gilmar. Ednaldo, volto ao cargo. É uma das primeiras medidas que ele faz é contratar a Maria Cláudia Bucchianeri, advogada do Lira, para advogar em três processos em que a CBF era ré, com um honorário de 10 milhões de reais.
Fernando de Barros e Silva: Eita! Tá bom, Celso? Vamo mudar de profissão, hein?
Celso Rocha de Barros: Resolvia uns problemas aqui…
Allan de Abreu: Até onde eu consultei o processo, a gente está falando de meados de fevereiro, a Maria Cláudia, advogada, ela só havia entrado com a procuração da CBF. Ela não tomou nenhuma medida nesses três processos. Enfim, um deles, inclusive, já está praticamente pedido pela CBF. Eu falei com advogados desse meio e eles falam que esse valor chama muita atenção, até por não ter a tal da cláusula de sucesso que os advogados costumam colocar. Você paga um percentual de entrada e o resto está ligado ao resultado.
Fernando de Barros e Silva: Sim.
Allan de Abreu: Exato. Geralmente é 30 a 70%, 30 à vista e 70 ligada ao sucesso ou não, e nesse caso não tinha isso era dez, 10 milhões a vista. Coincidência ou não, o Artur Lira silencia. Nunca mais atua.
Ana Clara Costa: Com certeza é só coincidência. Que isso?
Allan de Abreu: Pois é. Aí, para concluir, em abril do ano passado, o Feijó, que tinha ainda uma série de recursos contra o Ednaldo na Justiça, ele faz um acordo com o Ednaldo. Ele retira os processos, esses recursos e no mesmo dia que ele retira o recurso, a CBF paga dois milhões e meio lpara ele, diretamente da CBF, para a conta dele.
Celso Rocha de Barros: E não tem nenhuma explicação.
Allan de Abreu: Ele diz que chegou a um acordo judicial com a CBF para pagar esse valor pelos prejuízos que ele sofreu, porque quando o Ednaldo sai em dezembro, ele também sabe que ele era vice presidente, então ele deixou de receber salário. Mas aí eu procurei nos processos judiciais que ele moveu, não encontrei nenhum acordo desse tipo. Eu pedi para ele. Ele nunca mais me respondeu. Ficou por isso mesmo.
Ana Clara Costa: Fica parecendo o Allan que o Ednaldo, embora enfraquecido naquele momento, conseguiu.
Allan de Abreu: Reverter.
Ana Clara Costa: Comprar apoio que ele não tinha. E é estranho porque possivelmente deve ter muita gente por trás dele interessada em mantê-lo ali.
Allan de Abreu: Com certeza.
Ana Clara Costa: É o que parece.
Allan de Abreu: Com certeza.
Ana Clara Costa: Agora você fala na sua matéria sobre a bancada da bola, que inclusive parte dessa bancada vai para a viagem do Catar, o Ciro Nogueira com a namorada e tudo mais. E depois tem essa questão Arthur Lira, Gilmar Mendes e tal. Hoje, no mundo político, dá para a gente dizer hoje quem é a pessoa mais influente na CBF?
Ana Clara Costa: Sim, hoje eu digo assim, sem medo de errar, que há Gilmar Mendes. Várias pessoas que eu entrevistei para essa reportagem me disseram que hoje, na prática, quem manda na CBF é o Gilmar Mendes e o filho dele, Francisco Mendes, em que inclusive tem um cargo na FIFA.
Fernando de Barros e Silva: Que beleza, hein?
Allan de Abreu: Ele hoje tem um poder muito grande dentro da CBF, porque depois da liminar o IDP, ele começa a avançar dentro da CBF, começa a conquistar cargos dentro da CBF e nós contabilizamos pelo menos 6 cargos de diretoria da CBF que são ou de gente que era do IDP ou gente indicada pelo IDP. Inclusive, eles abrem um escritório em Brasília no ano passado, cujo diretor é uma pessoa indicada também pelo Gilmar Mendes e que agora, na reeleição dos três semanas atrás, virou um dos vice presidentes da CBF. O Gilmar Mendes tem uma vice presidência, uma das oito é dele, na prática. Enfim, isso eu acho que me chama muita atenção. Ministro do Supremo Tribunal Federal comandando a CBF.
Fernando de Barros e Silva: Não só a sua.
Celso Rocha de Barros: E ninguém vai fazer uma acusação irresponsável aqui. Mas se isso não for o esquema, eles podiam ter se esforçado mais para não parecer um esquema assim.
Fernando de Barros e Silva: Uma aula sobre funcionamento da política no Brasil e relação com o futebol.
Ana Clara Costa: Enfim, é tudo muito ecumênico, né Fernando?
Celso Rocha de Barros: Ah! Muito ecumênico! Tem Arthur Lira, tem o PCdoB, tem todo mundo.
Ana Clara Costa: PSD.
Allan de Abreu: Jaques Wagner.
Celso Rocha de Barros: É a frente ampla. O Ednaldo conseguiu a verdadeira frente ampla .
Fernando de Barros e Silva: Já não bastava a camisa amarela ter sido sequestrada por esses fascistas. Não consigo nem olhar a camisa amarela que já me dá vontade de sair correndo. Ainda tem esse complemento. Agora, não devemos ser muito otimistas a respeito de providências políticas que podem ser tomadas para dar a esse sujeito. Não vou dizer o mesmo destino do Bolsonaro, mas pelo menos destituir ele da CBF.
Allan de Abreu: Não, Fernando, também não tenho nenhuma perspectiva de que isso vai acontecer. O sistema é muito fechado. Quem deveria fiscalizar a CBF são as federações estaduais, que replicam os mesmíssimos esquemas, os mesmos malfeitos da CBF. Então, assim é feito para atuar dessa maneira. Ele foi construído para ser um sistema fechado e imune a investigação.
Ana Clara Costa: E os clubes parece que também não querem, né? A impressão que dá.
Allan de Abreu: Não, não querem, inclusive. O que me chamou a atenção na segunda feira, o Paulo Vinícius Coelho, jornalista do UOL.
Fernando de Barros e Silva: PVC famoso, PVC famoso, um dos maiores jornalistas esportivos do Brasil.
Allan de Abreu: Exato. Ele entrevistou ao vivo o presidente do Sport sobre os erros da arbitragem do jogo do Palmeiras contra o Sport, no dia anterior, em que houve um pênalti marcado para o Palmeiras, inexistente. Isso acho que é um pouco consensual. E o PVC, enfim, depois das primeiras perguntas, aquele chororô do Cartola e tal. O PVC fala “Olha, mas o senhor votou no Ednaldo… O senhor votou para que essa situação permaneça dessa maneira.” Porque, entre outras coisas, também na reportagem a gente trata dos cortes de recurso para arbitragem.
Fernando de Barros e Silva: Sim. Exato. Eles tiraram o dinheiro da preparação de árbitro para dar 215 mil reais, entre outras coisas, para o presidente da Federação do Amapá.
Allan de Abreu: Exatamente. E aí a gente está vendo o desastre que está sendo a arbitragem do Campeonato Brasileiro. Também há uma outra coincidência aí, né? Aí o presidente do Sport ficou super desconfortável. Ele começou a acusar o PVC de ativismo político, mas não tinha nexo que ele falava assim. E o PVC muito irritado, fala não que não é ativismo político, aqui é jornalismo. Eu estou lhe questionando porque é fato que o senhor votou no Ednaldo. Então, o senhor apoia essa situação. E o presidente do Sport super constrangido, mas ele não criticou o Ednaldo. Ninguém critica o Ednaldo, é incrível. E aí uma outra característica também da personalidade do atual presidente da CBF ele é uma pessoa muito perseguidora. Ele não tem limites para se vingar das pessoas que ele julga serem os seus inimigos e tudo mais. E ele impõe um medo terrível no ambiente de trabalho da CBF, a ponto do pessoal. Os funcionários da CBF chamam a sede da CBF de Coreia do Norte.
Ana Clara Costa: Eu vi isso.
Celso Rocha de Barros: Cara, tem câmara secreta, né?
Fernando de Barros e Silva: E ele é muito tosco também. Ele fala português como o Bolsonaro fala inglês. Mas o Bolsonaro também fala português como fala inglês, não tem muita diferença. Então, talvez a comparação não seja boa.
Ana Clara Costa: Agora o Allan, ele é um lord, ele não vai falar né? Mas eu vou falar aqui… Hoje não tem mais o jornalismo investigativo em esporte, né? Já teve, né? Grandes reportagens foram feitas, mas assim, tudo isso está acontecendo há anos, né? A gente vê pela reportagem do Alan e o esporte é um segmento que tem dado muito dinheiro para muitos veículos de comunicação, né? Mas ao mesmo tempo, isso não se reverte em jornalismo investigativo.
Celso Rocha de Barros: Com certeza.
Fernando de Barros e Silva: E a despeito de existirem excelentes jornalistas, sem dúvida.
Ana Clara Costa: Tem muito comentarista, né Fernando?
Fernando de Barros e Silva: A ESPN fez um programa dedicado a sua reportagem e os jornalistas foram repreendidos pela direção da emissora, foram afastados. Eles fizeram uma discussão séria e são jornalistas muito bons ali, Muito bem. Eles foram afastados e realmente a gente está entrando num terreno inaceitável. Quer dizer, já estamos num terreno inaceitável, mas é uma coisa que tem implicações diretas sobre a liberdade de imprensa, as coisas básicas. Um programa esportivo não pode discutir essa situação na CBF, para que ele existe? Que mundo nós estamos? Que país é esse?
Allan de Abreu: O jornalismo esportivo que cobre a política do futebol, ele está em franca crise no Brasil hoje. Acho que o último suspiro disso, eo Fernando foi testemunha disso, talvez, foi na Folha. A equipe da Folha, até no início da década de 2010, que tinha um time muito combativo, que fazia reportagens muito importantes sobre a gestão do esporte e sobre CBF, sobre política da CBF, etc. Isso acabou. Não tem mais. E nenhum outro veículo dedica jornalistas especificamente para cobrir gestão de CBF ou outros esportes também. Como a política opera lá dentro?
Fernando de Barros e Silva: Enfim, justiça seja feita para falar do nosso quintal aqui, a Daniela Pinheiro, quando era da Piauí, fez uma reportagem com o Ricardo Teixeira que se desdobrou e acabou na queda do Ricardo Teixeira, da CBF.
Allan de Abreu: Uma reportagem maravilhosa.
Fernando de Barros e Silva: Mas isso a gente está falando também de 2011, se não me engano 2010, 2011. Não é isso?
Allan de Abreu: Além da crise do jornalismo que todo mundo sabe, no caso do futebol, especialmente, há interesses comerciais muito profundos, muito intensos, fortes, que impede muitos jornalistas de falarem, tratarem abertamente sobre isso. E aqui a gente trata especialmente do Grupo Globo, que historicamente não é de agora. Sempre teve muito prurido de entrar nessa seara, de falar sobre essas questões. E está acontecendo a mesma coisa agora, né? A gente vê um silêncio total assim.
Celso Rocha de Barros: Que a CBF controla os direitos de transmissão, né?
Allan de Abreu: Exato.
Celso Rocha de Barros: Ela ameaça as emissoras.
Fernando de Barros e Silva: É muito dinheiro envolvido, né?
Celso Rocha de Barros: Então você nunca mais vai transmitir nada.
Allan de Abreu: E aí acontece quando os jornalistas tentam debater esse assunto, como aconteceu no Linha de Passe, na segunda feira, vem a reação.
Fernando de Barros e Silva: Linha de Passe da ESPN.
Allan de Abreu: Da ESPN, justamente.
Ana Clara Costa: O que mais me chamou a atenção nessa reportagem foi a menção à presença do Aécio Neves com o Ronaldo no jantar com Gilmar Mendes. Você vê como Ronaldo estava equivocado. Ele busca o Aécio Neves como apoio para ir no jantar do Gilmar, realmente…
Fernando de Barros e Silva: Eles são amigos. Eles são bem amigos.
Allan de Abreu: Já começou mal, né?
Fernando de Barros e Silva: O Ronaldo e o Aécio Neves são amigos.
Ana Clara Costa: É, mas se ele não tem um outro amigo em Brasília, tá complicado.
Celso Rocha de Barros: Tá complicado virar presidente da CBF.
Fernando de Barros e Silva: Allan, deixa eu agradecer demais a sua presença. Muito obrigado por ter vindo.
Allan de Abreu: Eu que agradeço, Fernando. Muito bom estar aqui.
Fernando de Barros e Silva: A gente vai encerrar o terceiro bloco do programa. Vamos para um rápido intervalo. Na volta, Kinder Ovo já voltamos.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, Estamos de volta. Ana Clara, cotonete nos ouvidos. A Mari falou que vai fazer um facinho para você acertar. Eu já desisti nesse ano desse Kinder Ovo que eu não acerto nada. Solta aí, diretora!
Sonora: O Brasil foi para a vala. Nós temos que confiar em Deus e o povo. O cenário é de derrota. Se a gente olha para o cenário, a gente fala não desanimei, eu vou sair disso. Se você olha para Deus e não olha para o cenário, certamente você vai saborear dessa vitória.
Fernando de Barros e Silva: É o Daciolo?
Celso Rocha de Barros: Caraca!
Fernando de Barros e Silva: Não é o Daciolo…
Fernando de Barros e Silva: Glória a Deus! Glória a Deus! Aleluia! É algum glória a Deus aí, mas enfim…
Celso Rocha de Barros: Magno Malta.
Fernando de Barros e Silva: Aê! Acertou!
Celso Rocha de Barros: É o que eu digo quanto pior o cara, maior a chance de eu ganhar o Kinder Ovo.
Ana Clara Costa: Magno Malta. Isso, Celso acertou.
Celso Rocha de Barros: Finalmente.
Fernando de Barros e Silva: Opa, muito bem, Casca de bala. Para os anais, quem fala é o senador Magno Malta. Após descer do palanque na Avenida Paulista, em depoimento ao canal Crente News. É isso. Eu gostei desse nome aqui, Crente News.
Celso Rocha de Barros: Esse nome eu me achei bom.
Ana Clara Costa: É isso. Momento glorioso do Casca, Magno Malta. Grande chapa, né Celso?
Celso Rocha de Barros: Grande chapa.
Fernando de Barros e Silva: Eu adoro a tese do Celso. Quanto pior o cara, maior a minha chance de acertar. Bom, depois deste momento glorioso de Celso Rocha de Barros, a gente encerra o Kinder Ovo. Vamos direto para o correio Elegante. Momento de vocês Momento das cartinhas.
Fernando de Barros e Silva: Eu vou começar com o e-mail enviado pela Dani Moraes, Dani com dois enes e Y. Minha psicóloga me indicou vocês em 2018 para que eu conseguisse organizar melhor minhas ideias. E como estou com vocês desde que tudo era mato, nunca procurei os rostos, pois a voz construiria o resto da matéria, mas decidi procurar imagens de vocês. Estou CHOCADA, com caixa alta, com maiúsculas, chocada como vocês são absurdamente diferentes de quem eu criei, então PRECISO, caixa alta também, preciso escrever para vocês antes que sumam as antigas imagens da minha mente e assumam seus corpos reais. Confesso que a vida real é muito melhor do que o que eu criei. Coisa mais linda!
Celso Rocha de Barros: Tava vendo o que tava vindo aqui…
Fernando de Barros e Silva: E neste meu aniversário vou me dar de presente uma assinatura da piauí e ficaria muitíssimo grata com o abraço de vocês. Um grande beijo a todos dessa ouvinte que agora está ansiosa tanto pelo julgamento de Bolsonaro e sua trupe quanto pela leitura da minha cartinha, Dany Moraes. Muito legal! Beijo para você, Dany.
Ana Clara Costa: Que bom que a gente não te frustrou, Dany.
Fernando de Barros e Silva: No meu caso, o que cê tava esperando de tão pior? Meu Deus?
Celso Rocha de Barros: Tava vendo a coisa vindo, falei assim, ih rapaz.. Nossa Senhora.
Ana Clara Costa: No Spotify, o Cauê postou: Alguém pode me dizer em que bar o Celso bebe na sexta feira depois do expediente? Eu daria duas libras do Miley.
Celso Rocha de Barros: Já gostei.
Fernando de Barros e Silva: Bitcoin.
Ana Clara Costa: Que são 8 centavos, para ouvir, sentado em alguma cadeira de plástico, os comentários que o departamento jurídico da piauí não deixa ir ao ar. Cauê, eu também também tô querendo saber.
Fernando de Barros e Silva: Paga em bitcoin que ele fala o bar, né Celso?
Celso Rocha de Barros: O João Grano mandou o seguinte e-mail: Com o sucesso do Celso Casca de Bala, não é hora de termos um bordão de inspiração musical para sua colega de bancada? Segue uma sugestão. Mais de uma década atrás, quando trabalhava na falecida Editora Abril, era assim que um de nossos amigos, o Gui, saudava Ana Clara, quando a incansável repórter, depois do fechamento da revista, finalmente se juntava a nós em algum bar nos arredores do Rio Pinheiros. “Ana Clara clareou” no ritmo de Santa Clara, clareou do Jorge Ben Jor, sei lá. De repente pega. Salve Jorge. Salve Santa Clara! Salve o fogo de Teresina! João Grano, muito, muito obrigado pela sua mensagem.
Fernando de Barros e Silva: Muito boa e muito boa. Ana Clara Clareou! Eu já sei que a Clara clareou porque ela ficava no bar até amanhecer. Essa era de madrugada. Editora Abril.
Ana Clara Costa: Mentira! João, eu vou te matar. Pode ficar tranquilo.
Fernando de Barros e Silva: Muito bem, nós vamos encerrando assim o programa de hoje. Se você gostou, não deixe de seguir e dar five stars para a gente no Spotify. Segue no Apple Podcast, na Amazon Music Favorita, na Deezer e se inscreva no YouTube. O Foro de Teresina é uma produção da Rádio Novelo para a revista Piauí. Durante a licença maternidade da Evelyn Argenta, a coordenação geral é da Bárbara Rubira. A direção é da Mari Faria, com produção e distribuição da Maria Júlia Vieira. Checagem do programa é do Gilberto Porcidônio. A edição é da Bárbara Rubira e da Mariana Leão. A identidade visual é da Amanda Lopes. A finalização e mixagem são do João Jabace e do Luís Rodrigues, da Pipoca Sound, Jabace e Rodrigues que também são os intérpretes da nossa melodia tema. Coordenação Digital é da Bia Ribeiro, da Emily Almeida e do Fábio Brisola. O programa de hoje foi gravado no estúdio Rastro, do Danny Dee, no Rio de Janeiro e na minha casa, em São Paulo. Eu me despeço então, dos meus amigos, de volta, Ana Clara, tchau!
Ana Clara Costa: Tchau, Fernando, Tchau pessoal.
Fernando de Barros e Silva: Celso, Casca de Bala. Ana Clara clareou né? E Celso Casca de bala. Tchau. Até semana que vem.
Celso Rocha de Barros: Até mais, Fernando. Até a próxima sexta feira.
Fernando de Barros e Silva: É isso gente! Uma ótima semana a todos e até semana que vem!