O estranho critério do gol fora vale dois
Os defensores do gol fora vale dois já tentaram argumentar que o critério obriga os visitantes a ser mais ofensivos, porque fazer gol fora vale muito. Na intenção, funcionaria; na prática, o que se vê é exatamente o contrário: os times com mando de campo passaram a jogar de um jeito muito mais cuidadoso e defensivo, porque tomar gol em casa virou a morte. Nada melhor para exemplificar isso do que a estranha declaração do treinador Abel Braga, antes dos dois jogos entre Fluminense e Olimpia: jogando em casa, é melhor empatar em zero a zero do que ganhar por dois a um.
Já houve no futebol um troço chamado . Servia como critério de desempate, era aplicado em campeonatos longos ou em fases classificatórias, como as fases de grupos da Copa do Mundo e da Libertadores, e funcionava assim: quando havia empate em número de pontos e em saldo de gols, dividia-se o número de gols marcados pelo número de gols sofridos.
Passemos ao quadro-negro (ou à lousa, dependendo da parte do Brasil em que o leitor esteja). Vamos supor que, numa fase de grupos da Libertadores, Fluminense e Grêmio terminassem juntos em segundo lugar, com o mesmo número de pontos e o mesmo saldo. Só que o Fluminense fez 9 gols e sofreu 5, enquanto o Grêmio fez 7 e sofreu 3. O do Fluminense seria de 1,8, enquanto o do Grêmio seria de 2,3. Portanto, Grêmio classificado. Demorou, mas um dia a Fifa percebeu que esse critério incentivava o futebol defensivo – já que seria sempre mais negócio fazer e levar menos gols – e acabou com a esquisitice.
Assim como o foi abandonado, tenho a esperança de um dia acontecer o mesmo com essa invencionice de gol fora vale dois. Uma das regras básicas do futebol é a que determina que todo gol vale a mesma coisa. Feio ou bonito, sem querer ou de bicicleta, gol é gol. Nenhum vale mais que o outro e fim de papo. O gol espetacular de Neymar contra o Flamengo em 2011, eleito pela Fifa o mais bonito do ano, valeu tanto quanto um dos gols que Mario Gomez fez na recente decisão da Copa da Alemanha, com a bola batendo três vezes em suas canelas antes de entrar.
Os defensores do gol fora vale dois já tentaram argumentar que o critério obriga os visitantes a ser mais ofensivos, porque fazer gol fora vale muito. Na intenção, funcionaria; na prática, o que se vê é exatamente o contrário: os times com mando de campo passaram a jogar de um jeito muito mais cuidadoso e defensivo, porque tomar gol em casa virou a morte. Nada melhor para exemplificar isso do que a estranha declaração do treinador Abel Braga, antes dos dois jogos entre Fluminense e Olimpia: jogando em casa, é melhor empatar em zero a zero do que ganhar por dois a um.
O critério do gol fora vale dois é tão ruim, mas tão ruim, que na final da Libertadores ele é abandonado. É como se a Conmebol dissesse: bom, até aqui foi só brincadeirinha, mas agora que chegou a hora da verdade, teremos prorrogação.
A derrota de ontem, em Rosário, meteu o Atlético Mineiro numa considerável enrascada. Não vai ser mole. E mais difícil ainda será aturar as aulas de matemática em que este jogos se transformam: sem ter feito gol fora, precisa fazer dois em casa para empatar e três para passar direto; se levar um, não adianta fazer três, tem que ser no mínimo quatro; se sofrer dois, quatro não bastam, tem que fazer cinco. E eu que fui estudar Comunicação para fugir disso.
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