ILUSTRAÇÃO DE PAULA CARDOSO, EM FOTOS DE ADRIANO VIZONI E KEINY ANDRADE (FOLHAPRESS)
O Grenal das vices
20 perguntas para mostrar as muitas diferenças e os poucos pontos em comum entre as gaúchas Manuela D’Ávila e Ana Amélia
Há bem mais que a idade e a filiação partidária a separar as jornalistas gaúchas Ana Amélia Lemos, 73 anos, do conservador (apesar do nome) Partido Progressista, e Manuela D’Ávila, 36, do Partido Comunista do Brasil. As divergências entre a candidata a vice-presidente de Geraldo Alckmin e a provável integrante de chapa do PT vão de líderes políticos históricos a ícones da economia e do jornalismo brasileiros.
As duas candidatas a ficar na linha de sucessão direta do presidente receberam, da piauí, um questionário com 20 perguntas objetivas, com referências à política nacional e do Rio Grande do Sul. As semelhanças foram poucas: o apreço por Getúlio Vargas – com referência elogiosa de Ana Amélia à CLT –, os tradicionais churrasco e chimarrão, o time de futebol. E, na política atual, um único ponto em comum: a rejeição a Michel Temer.
Ao escolher entre os vices que assumiram a Presidência após os impeachments de 1992 e 2016, as duas disseram preferir Itamar Franco, herdeiro do governo de Fernando Collor, ao atual presidente, que, sucedendo Dilma Rousseff, detém o título de líder mais impopular da história. O PP de Ana Amélia é aliado de primeira hora de Temer.
Já as diferenças não se limitaram às opiniões. Ana Amélia foi didática ao explicar suas escolhas. Manuela, ainda que solicitada a fazer o mesmo, enviou respostas telegráficas. Numa das vezes em que se alongou, ironizou a adversária.
Leia a íntegra das respostas das vice-presidenciáveis gaúchas.
Chimangos ou Maragatos?
Ana Amélia: Maragatos. Representam a força e a litigância dos gaúchos, na defesa de seus direitos.
Manuela: Chimangos.
(Na Revolução Federalista gaúcha, em 1893, os maragatos, revolucionários, queriam mais autonomia para a então província e se insurgiram contra o governo de Júlio de Castilhos, do Partido Republicano Rio-Grandense, defendido pelos chimangos, apelido dos legalistas. A revolta começou com a recusa do Partido Federalista em aceitar a imposição de Castilhos no governo local pelo presidente Floriano Peixoto. Sufocados, os maragatos exilaram-se no Uruguai, mas reagiram a partir da tomada de Bagé e, tentando avançar até o Rio de Janeiro para derrubar Floriano, foram derrotados pelas forças federais em Curitiba.)
Assis Brasil ou Borges de Medeiros?
Ana Amélia: Assis Brasil. Grande líder político. Influenciou na política e na pecuária brasileira, com vanguarda na sustentabilidade da produção, especialmente na pecuária leiteira. Um defensor do parlamentarismo.
Manuela: Borges de Medeiros.
(Antônio Augusto Borges de Medeiros e Joaquim Francisco de Assis Brasil são, respectivamente, herdeiros das lideranças de chimangos e maragatos durante a República Velha. Sucessor de Júlio de Castilhos, Borges de Medeiros governou o Rio Grande do Sul durante 25 anos. Depois de eleito para o quinto mandato, o grupo de Assis Brasil revoltou-se na chamada Revolução de 1923, que alterou a Constituição estadual para barrar reeleições sucessivas e introduzir o voto secreto. É possível que a simpatia da comunista Manuela D’Ávila por Borges de Medeiros se deva ao fato de o político ter aceito várias das reivindicações apresentadas por trabalhadores na onda de greves que varreu o estado em 1917.)
Getúlio Vargas ou Carlos Lacerda?
Ana Amélia: Getúlio Vargas. Deu direito ao voto às mulheres. Responsável pela proteção dos direitos dos trabalhadores com a CLT. Lira Neto mostrou a mais completa biografia do ex-presidente gaúcho que, com o suicídio, “saiu da vida para entrar na história”.
Manuela: Getúlio Vargas.
Samuel Wainer ou Roberto Marinho?
Ana Amélia: Roberto Marinho. Empreendedor que, aos 60 anos construiu um dos maiores grupos de comunicação do país, na produção de entretenimento e jornalismo de qualidade.
Manuela: Samuel Wainer.
(Samuel Wainer fundou em 1951 o jornal Última Hora, alinhado a Getúlio Vargas e, mais tarde, a João Goulart. Duramente combatido por Carlos Lacerda e, depois, pela ditadura militar, Wainer se viu forçado a vender o diário em 1971.)
Erico ou Luis Fernando Verissimo?
Ana Amélia: Erico Verissimo, por ter resgatado, com talento e habilidade, a história vibrante do meu Rio Grande e sua forte cultura.
Manuela: Acho que Luis Fernando também responderia Erico, embora eu goste muito dos dois e Luis Fernando tenha sido meu primeiro entrevistado, quando decidi fazer jornalismo ainda na escola.
Roberto Campos ou Celso Furtado?
Ana Amélia: Roberto Campos, que soube estar à frente do seu tempo. A globalização da economia de hoje era a pregação de Campos, no passado.
Manuela: Celso Furtado.
(Roberto Campos é um dos mais notórios economistas liberais brasileiros. Celso Furtado, autor do clássico Formação Econômica do Brasil, foi um defensor do papel do Estado no desenvolvimento da economia.)
FHC ou Lula?
Ana Amélia: FHC. Tirou o Brasil de grave crise econômica com o Real e reposicionou nosso país no cenário internacional.
Manuela: Lula.
Temer ou Itamar?
Ana Amélia: Itamar. Deu estabilidade ao Brasil após o impeachment de Fernando Collor e soube pautar seu governo pela austeridade.
Manuela: Itamar.
Dilma ou Aécio?
Ana Amélia: Nenhum.
Manuela: Dilma.
MBL ou MST?
Ana Amélia: MBL, por ter mostrado que a juventude pode usar seu ativismo político a favor do Brasil por defender causas como a Lava Jato, o fim do foro privilegiado e o voto impresso.
Manuela: MST.
Al Jazeera ou Fox News?
Ana Amélia: Fox News, pela pluralidade, compromisso com a democracia e com a liberdade de expressão.
Manuela: Al Jazeera, porque é um canal de tevê, embora tenha gente que confunda. ?
(A senadora Ana Amélia associou a rede de televisão Al Jazeera, baseada no Catar, ao “Exército islâmico”, e foi acusada de islamofobia por associar o mundo árabe a terrorismo. A Fox News é uma emissora de notícias norte-americana de viés conservador.)
Café ou chimarrão?
Ana Amélia: Chimarrão. Tem tanta cafeína quanto o café e é um patrimônio imaterial bem gaúcho.
Manuela: Café e chimarrão. Mas não juntos.
Churrasco ou salada?
Ana Amélia: Churrasco. Nasci em Lagoa Vermelha, que tem o melhor churrasco do mundo. Não é propaganda enganosa!
Manuela: Salada sempre. E churrasco de costela.
Bíblia ou O Capital?
Ana Amélia: Bíblia. Tudo está contido nela. A sabedoria dos escribas nos conecta com Deus e com a espiritualidade.
Manuela: O Novo Testamento, na Bíblia, para pensar a humanidade. O Capital para pensar a política.
Por que você escolheu o partido a que está filiada?
Ana Amélia: Por sua história no Rio Grande do Sul. Por defender a livre-iniciativa e a democracia. O Progressistas, com esses valores, tem hoje no meu estado o maior número de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores.
Manuela: Porque acredito num Brasil desenvolvido e justo.
Qual sua lembrança mais querida de infância?
Ana Amélia: Entregar, de pés descalços, no rigoroso inverno do povoado onde nasci, em Lagoa Vermelha, o leite recém-tirado pela minha mãe de meia dúzia de vacas e ainda quente entregar aos clientes, me aquecendo no calor das garrafas!
Manuela: A casa de meus avós em Jaguarão, com todos os meus irmãos brincando ao redor da lareira.
Inter ou Grêmio?
Ana Amélia: Inter, desde criança.
Manuela: Colorada.
O Sul é seu país?
Ana Amélia: O Sul é meu estado. Meu país é o Brasil!
Manuela: Não, o Brasil é o meu país.
(O Sul é o Meu País é o nome de um movimento fundado em 1992 em Santa Catarina que defende que os três estados da região formem um país independente do Brasil.)
Quando foi a primeira vez em que ouviu falar sobre Manuela D’Ávila/Ana Amélia?
Ana Amélia: A primeira vez foi como jornalista. Acompanhei a trajetória dela como vereadora, deputada federal, até 2012, quando concorreu à Prefeitura de Porto Alegre.
Manuela: Desde que me lembro de mim mesma ela era jornalista da RBS.
(A RBS, dona do jornal Zero Hora e da afiliada local da Rede Globo, é o principal grupo de comunicação do Rio Grande do Sul.)
Qual a sua opinião sobre Manuela D’Ávila/Ana Amélia?
Ana Amélia: De respeito. Uma parlamentar jovem que defende seus ideais.
Manuela: Já nutrimos boas relações, mas ela seguiu um rumo absolutamente distante na política. Para mim, o relho jamais será instrumento da política.
(Durante a passagem da caravana de Luiz Inácio Lula da Silva pelo Sul, Ana Amélia elogiou manifestantes que agrediram com chicotes os apoiadores do ex-presidente. “Atirar ovo, levantar o relho, é para mostrar onde estamos nós, onde estão os gaúchos”, ela disse.)
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