O torcedor de futebol, esse estranho
Ir ao estádio em dias de grandes clássicos – sobretudo aqueles vencidos pelo nosso time – é uma experiência inesquecível, mas tenho a convicção de que o cara que vai ao jogo e pula e canta e dança e grita e xinga e chora e bate palma, esse cara não tem a menor condição de entender o que se passa no gramado. Na Copa de 2010, a tevê mostrou imagens dos torcedores africanos fazendo trenzinho na arquibancada, enquanto a bola rolava. Aqueles caras estavam vendo o quê? Entendendo o quê?
Comecei a frequentar o Maracanã muito cedo, e já achava esquisito o comportamento do torcedor típico. Gostava de ver as partidas compenetrado, procurando absorver a tensão e tentando compreender o que se passava dentro do campo. Ir ao estádio em dias de grandes clássicos – sobretudo aqueles vencidos pelo nosso time – é uma experiência inesquecível, mas tenho a convicção de que o cara que vai ao jogo e pula e canta e dança e grita e xinga e chora e bate palma, esse cara não tem a menor condição de entender o que se passa no gramado. Na Copa do Mundo de 2010, a tevê mostrou imagens dos torcedores africanos fazendo trenzinho na arquibancada, enquanto a bola rolava. Aqueles caras estavam vendo o quê? Entendendo o quê?
Eu ia muito ao Maraca com meus irmãos mais velhos e vários amigos deles. O mais agitado, que até hoje atende pelo apelido de Empada, fazia questão de sentar ao meu lado na arquibancada e passava o jogo inteiro chamando o vendedor de Coca-Cola, o sorveteiro, o amendoim. Sempre que a torcida vibrava ou chiava, o Empada virava pra mim perguntando o que acontecera – e eu tinha que descrever o lance. Nunca entendi muito bem o que o Empada ia fazer no Maracanã.
Por morar em São Caetano há oito anos e ser flamenguista, virei um torcedor televisivo e considero o a maior invenção da humanidade. Esse distanciamento forçado me permitiu enxergar o quanto o torcedor que vai ao campo tem dificuldade para entender o que acontece no jogo e sacar as necessidades do time. Vi Brasil e Japão, no sábado, indo e voltando da Globo para o SporTV, além de ter espiado alguns comentários pós-jogo na ESPN. Casagrande, Ronaldo Fenômeno, Paulo Cesar Vasconcellos, Roger, PVC e Juca Kfouri, todos discordaram dos torcedores no estádio Mané Garrincha, que pediram Lucas no lugar do Hulk. Quem fala muito sobre futebol acaba dizendo bobagem – é fatal –, mas não dá para achar que todos os nossos comentaristas estavam falando a mesma bobagem ao mesmo tempo.
Cansei de ver, pela tevê, a torcida do Flamengo pedir a entrada do Petkovic, num momento da carreira em que Pet já não aguentava correr dez minutos. Acho Lucas muito bom jogador, mas ele virou, em nossa seleção, uma figura muito comum no futebol brasileiro: a do reserva-queridinho. O xodó. No primeiro passe errado, mesmo que seja com dois minutos de jogo, lá vem o coro.
Apesar da emoção de estar no estádio ser incomparável, muitas vezes ela cega e nos impede de ter a compreensão precisa do que ocorre em campo. Além do que, vamos combinar: por mais energia que uma torcida de futebol transmita, quando aquele bando de gente se junta o que temos é um enorme contingente de maria-vai-com-as-outras, não?
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