Os quatro volantes que explicam Marcelo Oliveira
Temos o mau hábito de superestimar nossos treinadores, atribuindo-lhes méritos e importâncias que costumam ser desmascarados logo ali adiante. Mas é bacana ver o sucesso dos poucos – como Marcelo Oliveira, treinador do Cruzeiro – que não se comportam como gênios da raça, e sim feito gente comum.
Temos o mau hábito de superestimar nossos treinadores, atribuindo-lhes méritos e importâncias que costumam ser desmascarados logo ali adiante. Mas é bacana ver o sucesso dos poucos que não se comportam como gênios da raça, e sim feito gente comum. Marcelo joga no time das pessoas normais, e é com simplicidade que vem botando o futebol brasileiro no bolso.
É difícil olhar as duas campanhas vitoriosas do Cruzeiro e delas extrair a qualidade mais importante do técnico. São tantas. Campeonatos longos e difíceis como o nosso, em que os candidatos ao título se veem desfalcados por lesões, suspensões e convocações, requerem elencos montados com precisão e equilíbrio. Sim, Marcelo teve grana para levar Dedé, Júlio Baptista, Willian, Dagoberto, mas, mesmo com as boas temporadas no Goiás e no Coritiba, quem mais apostaria todas as fichas em Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro, de passagens tão sem brilho por Inter e Corinthians?
Os torcedores do Flamengo – que nem eu – têm dificuldade para compreender como é que um time com Egídio e Marcelo Moreno consegue nadar de braçada em um campeonato conhecido por suas subidas e descidas. Uma das explicações decerto está na figura de um treinador que junta competência e paciência, combinação necessária para obter de alguns caras mais do que se poderia esperar.
Adquirir ingresso para um jogo de futebol não deixa de ser um risco. Sempre haverá a chance de ser algo aborrecido, disputado por times tímidos ou previsíveis. Não é o caso. De todas as partidas a que assisti do Cruzeiro, só o vi jogar mal contra o Flamengo, num dia em que sua defesa não deveria ter levantado da cama. Porém, mesmo quando pouco inspirado, é raro o Cruzeiro se apresentar sem arrojo e sem padrão. Pode perder, porque é do jogo, mas vai pra cima e sabe o que faz.
Em uma de suas recentes entrevistas, uma citação perdida revelou a forma com que Marcelo encara o futebol, exigindo que todos ataquem e defendam com aplicação e inteligência. Ele disse mais ou menos o seguinte: “O pessoal reclama muito dos volantes. Mas eu bem que gostaria de jogarcom quatro volantes, desde que eles fossem Cerezo, Falcão, Carpegiani e Pintinho.” Como foi companheiro de Cerezo no Atlético Mineiro e cansou de enfrentar os outros três, ele sabe o que está falando.
(Aqui, aproveito para dar uma breve guinada no post e desviá-lo por um parágrafo para Carlos Alberto Pintinho. Além do elogio de Marcelo, já vi Zico afirmar que Pintinho foi o melhor de todos os seus marcadores, exatamente pelo mesmo motivo escondido na frase do técnico cruzeirense: segundo Zico, Pintinho marcava muito bem e, quando tomava a bola, saía para o ataque com rapidez e habilidade. Carlos Alberto Pintinho jogou numa época em que não havia essa enxurrada de partidas transmitidas pela tevê, e a concorrência pesada não lhe facilitou a vida na seleção brasileira. A combinação desses dois fatores o impediu de esticar seu prestígio para além do futebol carioca – o que só conseguiu ao se transferir para a Espanha, onde virou ídolo.)
Juntando uma coisa a outra e tentando arredondar o texto, a admiração de Marcelo por Carlos Alberto Pintinho pode ser mais um bom argumento para explicar o sucesso do Cruzeiro. Um treinador que aprecia o futebol daquele jeito, como jogava o volante Pintinho, há de ter sempre meio caminho andado para montar times que valem o ingresso.
O do Cruzeiro vale.
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