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questões de forno e fogão

Preocupações de uma boa anfitriã ou adivinhe o que tem para o jantar

Macarrão com molho vegetariano à moda da Marina Moraes 

Enquanto forno e fogão repousam na Glória e nossa chefe de cozinha, Cecilia, se prepara para embarcar para o próximo destino onde levantará mais tampas de panela da cozinha dos outros, nem tudo é silêncio na matriz da Cozinha Transcendental. Nossa chefe do cerimonial, Consuelo, se debruçou sobre questões delicadas da arte de bem receber e oferece aqui as suas reflexões sobre como montar um cardápio capaz de agradar a gregos e troianos, alemães e poloneses, sunitas e xiitas, nômades e sedentários, democratas e republicanos, árabes e persas, indianos e paquistaneses e garantir uma noitada muito agradável para os convidados e livre de sobressaltos para quem recebe.

| 27 jun 2011_14h31
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Enquanto forno e fogão repousam na Glória e nossa chefe de cozinha, Cecilia, se prepara para embarcar para o próximo destino onde levantará mais tampas de panela da cozinha dos outros, nem tudo é silêncio na matriz da Cozinha Transcendental. Nossa chefe do cerimonial, Consuelo, se debruçou sobre questões delicadas da arte de bem receber e oferece aqui as suas reflexões sobre como montar um cardápio capaz de agradar a gregos e troianos, alemães e poloneses, sunitas e xiitas, nômades e sedentários, democratas e republicanos, árabes e persas, indianos e paquistaneses e garantir uma noitada muito agradável para os convidados e livre de sobressaltos para quem recebe.

Houve um tempo em que satisfazer o paladar dos convidados para um jantar em casa era tarefa das mais simples. As receitas sofisticadas resumiam-se a estrogonofe de carne ou de camarão. Para não correr risco de desagradar, serviam-se os dois. Simples, já que o molho e os acompanhamentos – arroz branco e batatas coradas – eram os mesmos. Uma terceira alternativa, que funcionava muito bem, era a dupla fricasse de frango e rosbife com um belo molho de vinho. E, de novo, para acompanhar, arroz e batatas.

A culinária evoluiu, esses pratos saíram de moda e preparar um jantar exige mais criatividade. Vieram as codornas recheadas com trufas; as misturas de sabores tipo peixe com banana e molho de soja com passas, ou rabada desfiada com mini agrião e purê de mandioca; carpaccios de cogumelos, espumas esquisitas, e mais uma infinidade de invenções gastronômicas que nem sempre terminam em sucesso.

O fato é que, nesses tempos de estômagos delicados, hipocondríacos e politicamente corretos, está cada vez mais difícil agradar aos comensais. Esqueça a antiga regra de que o sucesso do seu jantar estaria garantido com um prato de carne e um de peixe. Agora outras variáveis importantíssimas estão em jogo. Por exemplo, os vegetarianos. Repararam como eles estão crescendo em progressão geométrica? Não há família que não tenha um vegan (os vegetarianos radicais, que evitam todo tipo de produto animal. Nem gelatina passa). E nada mais constrangedor do que ver o convidado ciscando o prato, olhando com desespero para a carne rosada. Também é preciso muito cuidado com os alérgicos (não sei o que acontece, mas eles são muitos): tem aqueles que não podem esbarrar num camarão, tocar num queijo de cabra ou roçar num cogumelo que incham na hora feito um baiacu.

Outra categoria complicada é a dos politicamente corretos, aqueles que só comem alimentos orgânicos e listam todos os lugares onde você pode encontrá-los. E os hipocondríacos? Haja paciência! Estes avistam um câncer antes mesmo da travessa tocar a mesa. Por último, mas não menos importantes, são os convidados politicamente incorretos. Sim, eles existem. Outro dia, numa festa, o garçom ofereceu uma trouxinha recheada a uma convidada. Antes de mergulhá-la na calda dourada, ela perguntou do que se tratava. O garçom, achando que ia abafar com a novidade, respondeu orgulhoso: trata-se de trouxinha de frango orgânico. Para seu espanto, a convidada torceu o nariz e passou sua trouxinha adiante com o seguinte comentário: “Odeio essas coisas orgânicas. Não como isso de jeito nenhum.”

Portanto, para que no seu próximo jantar você não tenha que correr para cozinha fritar ovo (caipira, porque pode ser que seu convidado se recuse a comer o de granja. Ôpa, mas tenha também os de granja, por via das dúvidas), a Cozinha Transcendental de piauí dá algumas dicas práticas para livrá-la de futuros constrangimentos.

1 – Nunca, nunca mesmo, sirva camarão ou cogumelos, a não ser que você tenha certeza absoluta que seus convidados não são alérgicos a esses alimentos. O risco é de a comida ficar no prato e, o convidado, no pronto-socorro. É bom evitar também a carne de porco. Algum dos convidados pode ter se convertido ao islamismo. Bacon? Mas nem o perfume. É dos ingredientes mais universalmente arriscados.

2 – Seria ótimo, e de muito bom tom, se a sua chefe lhe avisasse que o marido é vegetariano. Mas, como às vezes, os convidados se constrangem de fazer exigências, eles omitem esse detalhe fundamental que poderia ter poupado você do esforço de passar horas preparando aquela carne fabulosa. Então, para que você não tenha uma crise depressiva ou de ódio, sirva um acompanhamento que possa ser saboreado sozinho. Digamos assim, uma polenta com queijo e um maravilhoso molho de abobrinha, azeitonas, tomate e alho, receita deliciosa de Maria do Carmo Henrique, cozinheira de mão cheia, que reproduzimos aqui. Muito melhor que arroz com batata.

3 – O que fazer quando a amiga só come frango, o marido odeia penosas e só vai de peixe, e o filhinho, que os acompanha, não arrisca nada além de um bom bife? A saída está numa linda massa com legumes (cuja receita também reproduzimos aqui) e, sim, claro, uma massinha à parte com molho à bolonhesa para o pequeno.

4 – Se for inverno, você pode preparar uma sopinha de entrada. Um creme de mandioquinha com mozarela de búfala agrada todo mundo e não há risco de intoxicação. Outra saída pode ser uma burrata, com tomatinhos cereja, rúcula e azeite, uma parte orgânica e outra com agrotóxicos mesmo. (Se os convidados estiverem divididos entre essas duas correntes e você não teve paciência de ficar comprando dez mil qualidades de hortaliças, invente que tem dos dois tipos. Ninguém vai notar e uma mentirinha não faz mal a ninguém). Sirva tudo acompanhado de um pão ciabata quentinho. Não é possível haver reclamações.

Cercando-se desses pequenos cuidados, seu jantar dará pouco trabalho e será um sucesso.

Receitas:

Macarrão vegetariano à moda Marina Moraes

Ingredientes:
1 pacote de macarrão (pode ser de qualquer tipo mas, prefira o gravatinha.)
2 pimentões: 1 vermelho e um amarelo
2 porções de tomate cereja
2 berinjelas pequenas. Dê preferência à pequena, que tem um gosto melhor
Azeitona preta (da grande) à vontade
4 dentes de alho.

Modo de preparo:
Corte as berinjelas em pequenos pedaços e as coloque em uma panela com água quente. Deixe-a cozinhar. Enquanto espera o cozimento, prepare os outros ingredientes. Corte os pimentões em tiras finas, corte os tomates cereja e as azeitonas em pequenos pedaços e reserve.

Em uma frigideira grande, leve ao fogo baixo bastante azeite e os quatro dentes inteiros de alho. Ponha em seguida a berinjela (escorra a água do cozimento) e deixe-a refogar por cinco minutos. Em seguida, derrame mais um pouco de azeite e acrescente os pimentões, os tomates, e por fim, as azeitonas. Retire o alho, esprema-o e o misture aos ingredientes. Coloque mais azeite e deixe refogar por mais cinco minutos.

Cozinhe o macarrão, coloque-o numa travessa, jogue o molho por cima e misture bem.

O macarrão rende 5 porções.

Fundo musical recomendado para inspirar um cardápio…pouco diplomático mas muito gostoso:

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