Vanderlei Luxemburgo e sua boca de freira
O atual futebol brasileiro é pródigo em duas coisas: volantes que não acertam passes de meio metro e explicações para os recorrentes fracassos de Vanderlei Luxemburgo.
Parou no tempo. Não se interessa mais em estudar os adversários. Não busca alternativas táticas. Não tem mais paciência para administrar egos e cuidar das relações com os jogadores. Abusa de improvisos desnecessários. Não adota critérios transparentes em suas escalações. Utiliza métodos de motivação que, de tão superados, acabam tendo efeito contrário. Está muito mais preocupado com suas pretensas funções de manager do que em ajustar a equipe.
O atual futebol brasileiro é pródigo em duas coisas: volantes que não acertam passes de meio metro e explicações para os recorrentes fracassos de Vanderlei Luxemburgo.
Parou no tempo. Não se interessa mais em estudar os adversários. Não busca alternativas táticas. Não tem mais paciência para administrar egos e cuidar das relações com os jogadores. Abusa de improvisos desnecessários. Não adota critérios transparentes em suas escalações. Utiliza métodos de motivação que, de tão superados, acabam tendo efeito contrário. Está muito mais preocupado com suas pretensas funções de do que em ajustar a equipe.
Eu também tenho uma teoria, nascida e alimentada durante a última passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo Flamengo, de outubro de 2010 a fevereiro de 2012. Antes dela, no entanto, vale lembrar uma historinha que aconteceu entre Romário e Evaristo de Macedo, quando o Baixinho comandava o ataque do Flamengo e Evaristo era o técnico. O time tinha uma partida fácil, mas jogava de forma displicente e terminou o primeiro tempo perdendo. Os jogadores desceram para o vestiário antes do treinador e, quando Evaristo entrou, Romário estava pagando geral. Evaristo não gostou e falou pro Baixinho: “Isso aqui tem comando, e o comandante sou eu. Você vai me deixar fazer meu trabalho, ou é pra eu pegar minhas coisas e ir embora?” Romário percebeu que tinha extrapolado e engoliu a marra. Depois do jogo, que o Flamengo virou sem dificuldades, foi se acertar com o treinador: “E aí, chefe, sem ressentimentos?” Resposta de Evaristo: “Meu filho, no meu tempo de jogador, teve uma vez em que eu quase saí no tapa com um ponta-direita, por causa de um contra-ataque que ele desperdiçou. Na jogada seguinte ele me deixou cara a cara com o goleiro, fiz o gol e comemoramos abraçados. Vamos em frente.”
Não há nada mais coxinha nas transmissões esportivas do que narradores que se escandalizam com discussões entre jogadores do mesmo time. Típico de quem nunca jogou bola na vida. Querem o quê? Depois de um cruzamento torto, não dá para o centroavante se dirigir respeitosamente ao lateral e propor: “Será que, na próxima oportunidade, o nobre colega poderia fazer o obséquio de executar o lance com um pouco mais de zelo?” É mais fácil e produtivo berrar “cruza essa porra direito” e encerrar a sentença homenageando a mãe do tal lateral. Até aí, compreende-se. Mas tenho me perguntado se os fracassos de Vanderlei Luxemburgo, além de todas as explicações já formuladas, não encontram mais uma razão na má vontade dos jogadores, certamente insatisfeitos com a desmedida grosseria que o professor exibe durante as partidas.
Óbvio que futebol não é missa e jogador não é seminarista, mas não vejo outro técnico brasileiro trabalhando à beira do gramado com tamanho destempero. Quase sem exceção, nossos treinadores reclamam do juiz nos lances mais comezinhos, soltam palavrões esporádicos, protagonizam cenas inexplicáveis de descontrole, mas o único que vejo xingando seus jogadores, do primeiro ao último minuto, é o Vanderlei.
A evolução das transmissões dos jogos pela tevê mudou muita coisa no futebol. É bastante possível que Pelé não tivesse disputado a decisão da Copa de 70, já que provavelmente estaria suspenso pela cotovelada no uruguaio Fontes, na semifinal. O juiz não viu, mas a câmera mostrou. Um dos maiores zagueiros que vi jogar, o chileno Elias Figueroa, bicampeão brasileiro pelo Internacional, costumava afastar os atacantes de sua área à base de cotovelaços. Figueroa era malandro, mas hoje seria cliente assíduo dos tribunais de justiça desportiva. Há tantas câmeras espalhadas pelo campo que ninguém fala mais nada, seja com um companheiro de equipe, com o técnico, com o juiz ou até com os adversários, sem levar uma das mãos à boca, para impedir a leitura labial.
Em entrevista ao programa A última palavra, comandado por Renato Maurício Prado no canal Fox Sports, o presidente do Atlético Mineiro, Alexandre Kalil, afirmou que, quando Luxemburgo foi demitido do Atlético em 2010 – também deixando o clube na zona do rebaixamento e também sendo substituído por Dorival Jr. –, os jogadores garantiram que o problema era o treinador e que o clube não cairia. Não caiu.
Mesmo entendendo como funcionam as coisas no gramado e sabendo que no futebol não há espaço para certas delicadezas, não há jogador que aprecie ser xingado ao vivo e para todo o Brasil, 180 minutos por semana, sendo 90 no domingo e 90 na quarta-feira. Os caras têm mãe, mulher, filhos, amigos, têm honra. Não há quem aguente.
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