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A primeira vez

| Edição 46, Julho 2010

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Dois anos atrás, na academia de ginástica, durante uma série de abdominais, o meu umbigo saltou para fora. De modo rápido e irreversível. Pum. Uma bola no meio da barriga. Em certo sentido, um pleonasmo. Na hora, levei um susto enorme e procurei me informar sobre o tema. Hérnia umbilical é o nome científico. Atinge crianças, mulheres grávidas e atletas. Nem preciso dizer qual o meu nicho, né mesmo? O meu médico que, com o seu cavanhaque, lembra muito os personagens de Dr. Jivago, de David Lean, disse que era uma coisa simples. Mas que eu deveria operar, assim que pudesse. Cirurgia. Palavra simples e difícil. Fazer o quê?

Quero dizer a todos que sou um afortunado. Em quase meio século de vida, nunca entrei num hospital, exceto para exercer o meu ofício de filmar a vida alheia. Isto é muita, mas muita sorte mesmo, levando-se em conta a minha vida pregressa. Para vocês terem ideia: na minha juventude, eu achava os Rolling Stones caretas. Para mim, o mundo só tinha interesse nos livros de Jack Kerouac e William Burroughs, nas músicas do Joy Division, The Clash e na performance anárquica do Sid Vicious. Isto durou uns bons anos. Portanto, fazer a primeira cirurgia, neste momento da minha vida, corresponde a naufragar nu na ilha com as dez top models do último ano.

Dois meses atrás, antevi uma brecha na minha agenda profissional para o final deste mês de julho e decidi marcar a dita cirurgia. Meu médico indicou um colega, cuja fama de cirurgião era reconhecida no meio. Fiz minha consulta com o sujeito. Ele parecia o pai dos Jetsons, com um semblante tranquilo, como se fora cultivado no american way of life dos anos 50.

 

Nesta última sexta, enfim, fiz a cirurgia e, sim, sobrevivi. Claro que sobrevivi. Mas não foi assim tão simples.

Ao entrar no hospital fui encaminhado ao quarto por um funcionário surdo. Sim, totalmente surdo, e com grandes aparelhos de audição brotando de suas orelhas. Os aparelhos não ajudavam em nada a comunicação com o pobre velho. É o sinal dos tempos. Dar oportunidade a todos, inclusive aos surdos. Eu apoio, desde que eles me escutem ou tentem me escutar. Na empresa onde trabalho, por exemplo, há vários funcionários beneficiados por esta política de ajudar os deficientes a terem um emprego. Eu apoio, mas o tempo todo tenho que cuidar para não pisar em alguém ou, pior, sentar sobre alguém. Voltando ao hospital e ao funcionário surdo, eis o diálogo que tive ao entrar no quarto e encontrar aquela mini televisão pendurada a dois metros de altura num canto do lugar.

Eu: É um quarto bom. É como se fosse um hotel. Só que ao invés de piscina tem sala de UTI, né? E o controle?

 

Ele: A luz da cabeceira acende aqui.

Eu: Onde está o controle remoto da televisão?

Ele: A comida é muito boa.

 

Eu: Espero que sim. E o controle remoto da televisão, onde está?

Ele: Eu gosto de terça-feira, tem língua. Eu adoro língua.

Eu: (apontando o televisor) E o controle, onde está?

Ele: (olhando o televisor) Para ligar, aperte este botão. E para mudar de canal, aperte este aqui.

Eu: Levando-se em conta que estarei na cama, sem condição alguma de levantar, eu pergunto mais uma vez: onde está o controle remoto da televisão?

Ele: Obrigado e seja bem-vindo.

O funcionário saiu e eu fique ali, pensando em como é bom saber que o meu cirurgião não era maneta.

Isto aconteceu às 11 hs e eu estava de jejum. De comida e água. Ou seja, já moribundo. Levei o livro do Musil, "Um Homem sem Qualidades". Vai que aparece uma enfermeira gostosa, metida a intelectual (não apareceu!). Fiquei ali folhando o livro. Pelas 14 hs veio uma amiga me visitar. Ela é médica neste hospital e, durante a sua visita, veio o anestesista. Diálogo:

Amiga: Que bom te ver aqui, querido!

Eu: Não perdeu o humor, hein?

Anestesista: Tem algum tipo de alergia?

Eu: Nunca tomei anestesia, só no dentista. Mas, em tese, creio que as drogas não me façam mal.

Amiga: Uh!!

Anestesista: Vista esta roupa hospitalar, corpo todo nu, ok? Daqui a pouco eu volto para lhe dar um comprimido (a coisa estava começando a ficar interessante). O anestesista saiu e eu fui para o banheiro trocar de roupa. De civil para enfermo. O diálogo com a minha amiga continuou; eu no banheiro, ela no quarto:

Amiga: Mas você vai operar o que mesmo?

Eu: O umbigo. Hérnia umbilical.

Amiga: Você tá aqui por causa disso?

Pausa. Por que? Se ela é minha amiga e é médica, por que perguntou isto nesta hora? Assim, de sopetão, instantes antes de eu deitar numa maca pela primeira vez na vida, instantes antes de eu ser perfurado por um bisturi pela primeira vez na vida? Por quê?

Amiga: Você tá me ouvindo? Por que você vai operar isto?

Saí do quarto com aquela roupa ridícula, só olhando para ela.

Eu: Vesti certo? É a bunda que fica descoberta?

Amiga: Tá certinho. Parece fantasia de carnaval, né? Ah, eu tenho que ir. Tem um paciente me esperando no quinto andar.

E ela saiu, assim, sem mais nem menos, depois de um beijo rápido na face. Eu fique ali me olhando, em pé, meio nu, com aquele pedaço de lençol em cima do corpo. Quase um senador romano. O anestesista retornou acompanhado de uma enfermeira. Ele me deu o comprimido e mandou deixar debaixo da língua. Fiz aquele olhar de "Só um?" Ele nem sorriu. Saiu do quarto e a enfermeira pediu que eu deitasse na cama, que logo me colocariam na maca.

Momentos depois, eu lembro de estar deitado na maca e ver aquela costumaz cena de filme com as lâmpadas do teto passando. Em seguida, eu entrando numa sala cirúrgica onde me pediram para ficar de ladinho. Vestido daquele jeito, meio chapadão, ficar de ladinho, é que nem liberar o mundo para os primitivos. Tudo bem, fiquei de ladinho. Fazer o quê? O que me lembro depois é do rosto do meu médico, me olhando e sorrindo e de Rosie, a empregada robô dos Jetsons, lhe oferecendo chá. Anestesia boaaaa!!!

Despertei no quarto com uma angústia tremenda. Estava enjoado, faminto e não conseguia mexer as minhas pernas. "É assim que se morre?", eu pensei. A gente fica nu, faminto e paralisado no lugar onde estava nos últimos instantes? Eu quero ir pro quarto da Jéssica Alba!

Enfiaram-me duas colheres de um rango insosso e dormi de novo. Acordei de madrugada por causa de uma enfermeira que deve ter feito graduação em Auschwitz. Ela irrompeu no quarto com uma seringa enorme e foi logo  perguntando: "No braço ou na perna?" Como assim? Você está dormindo, chapado, sozinho e surge alguém do nada falando coisas sem sentido. Quem disse que eu tive como responder? A agulha penetrou a minha coxa e o calor do sei-lá-que-porra-é-essa-que-tão-me-enfiando foi até o joelho. Dormi de novo. Despertei de manhã e a minha mulher (Ah, então você existe?) me buscou.

Na recepção, tive que esperar uns instantes até entregarem o papel que me dava alta. Foi o tempo de ver o funcionário surdo levando outra cobaia para o matadouro. Ao lado da recepcionista, uma caixa com inúmeros controles remotos e uma plaquinha: "R$ 15,00 por internação". Hoje, passados cinco dias, estou aqui, entre o escritório e a minha casa, com um curativo enorme sob a camisa. E estou ansioso. Não que eu seja muito egocêntrico mas não vejo a hora de saber como é o meu novo umbigo!

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