O presidente Jair Bolsonaro ao lado do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara e um dos envolvidos na investigação -- Foto: Alan Santos/PR
No rastro da Covaxin
Assim como a PF, a piauí vem investigando a Precisa Medicamentos e o escândalo da vacina indiana. Para entender melhor o caso, confira o roteiro do que já publicamos
A CPI da Covid-19, criada em abril por determinação do Supremo Tribunal Federal, está chegando à reta final. Além de apurar a responsabilidade do governo federal nas quase 600 mil mortes causadas até agora pela pandemia, a comissão tem nas mãos as denúncias de corrupção envolvendo a Covaxin – vacina indiana que o Ministério da Saúde negociou por um preço muito acima do valor de mercado. Por 1,6 bilhão de reais, o governo pretendia comprar 20 milhões de doses do imunizante, o que equivale a 80 reais por dose – valor quatro vezes maior que o da vacina da Astrazeneca e 50% maior que o da Pfizer, que o Ministério da Saúde por tanto tempo menosprezou por considerar cara demais.
O contrato, repleto de irregularidades, foi intermediado pela Precisa Medicamentos, empresa brasileira que fez o meio de campo entre o governo e o laboratório indiano Bharat Biotech. O Ministério da Saúde chegou a empenhar o dinheiro do contrato, mas a transação foi suspensa quando as denúncias de corrupção vieram à tona. Nesta sexta-feira (17), a Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão em endereços da Precisa, em São Paulo.
Vamos por partes. Primeiro: no que consiste a investigação e que pontos ainda não foram esclarecidos? Se Bolsonaro sempre fez pouco caso das vacinas contra a Covid-19, por que tanta pressa na aquisição da Covaxin, aprovada pelo Ministério da Saúde a toque de caixa no começo deste ano? Em junho, a repórter Thais Bilenky resumiu as irregularidades na compra da vacina indiana e explicou por que o governo tem motivos de sobra para se preocupar com a investigação.
Quais os rolos da Precisa Medicamentos? A repórter Ana Clara Costa explica. O dono da empresa é Francisco Emerson Maximiano. Além de ser dono da Precisa, ele é proprietário da Global Gestão em Saúde, companhia que é investigada por outras irregularidades, ocorridas na época em que Ricardo Barros – hoje líder do governo na Câmara – era ministro da Saúde, entre 2016 e 2018. O Ministério Público Federal acusa Barros de ter favorecido a Global em contratos do Ministério. O caso ainda corre na Justiça.
Antes de entrar no foco da CPI, a Precisa vivia uma fartura de contratos com o governo federal. Conforme revelou a repórter Marta Salomon, o Ministério da Saúde pagou à empresa, desde 2019, quase 100 milhões de reais por preservativos femininos.
À CPI, em junho, o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) afirmou que seu irmão, Luís Ricardo Miranda, servidor do Ministério da Saúde, vinha sendo pressionado para aprovar a compra da Covaxin apesar de problemas evidentes no contrato. O parlamentar relatou ter levado seu irmão para uma reunião com Bolsonaro, em que os três discutiram os indícios de corrupção no contrato. Bolsonaro, segundo o deputado, afirmou que as irregularidades estavam ligadas a Ricardo Barros e nada fez. Suspeito, portanto, do crime de prevaricação, o presidente não desmentiu Miranda: apenas ficou em silêncio, como observou André Petry. Afinal, Bolsonaro acionou ou não a PF após a denúncia feita pelo deputado? A pergunta persiste.
Mas os rolos da Precisa e de seu dono vão mais longe. Além de ser dono de duas empresas de saúde, explica Ana Clara Costa Maximiano tem uma pequena empresa de telecomunicações que, com um empurrão generoso do senador Flavio Bolsonaro, conseguiu uma reunião com o presidente do BNDES para discutir linhas de crédito. Foi a primeira vez que o filho mais velho de Bolsonaro se reuniu a sós com o chefe do banco.
O contrato da Covaxin teve um fiador: o FIB Bank. Apesar do nome, não se trata de um banco, mas de uma empresa que comercializa garantias fidejussórias, certificados similares a cartas-fiança. O FIB Bank, indicam as investigações, tem um sócio oculto: o advogado Marcos Tolentino. A repórter Ana Clara Costa explicou quem é Tolentino, quais as suas relações com a empresa e como ele se tornou uma figura próxima do governo, a ponto de se encontrar com Barros e Bolsonaro.
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